Entrevista | Chris Stokel-Walker
Jornalista e escritor
Por Luciana Gurgel | MediaTalks Londres
Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico cujos artigos sobre tecnologia, jornalismo, redes sociais e cultura aparecem regularmente em veículos especializados como a revista Wired e em grandes jornais e revistas como The Times, Daily Telegraph, New York Times, The Guardian e The Economist. Sua atividade nas redes sociais é intensa, às vezes provocativa.
Mas o que o tornou um nome indispensável nos debates sobre redes sociais foi o livro YouTubers. how YouTube shook up TV and created a new generation of stars, que documenta o crescimento da plataforma e os criadores que nela se tornaram celebridades. Recentemente voltou as atenções para a plataforma TikTok, sobre a qual prepara um novo livro.
Chris conversou com o MediaTalks sobre os efeitos da pandemia no jornalismo e nas redes.
Pesquisas mostram declínio na confiança nas redes sociais, enquanto a mídia tradicional cresceu. O que deu errado para elas? Os benefícios das plataformas digitais para a sociedade compensam os “efeitos colaterais”?
As mídias sociais nos trazem muitas vantagens, mas algoritmos e bolhas de filtro também consolidaram pontos de vista, o que está nos causando problemas. Um exemplo são os Estados Unidos, onde o uso de máscara estranhamente se tornou político. Espero que a pandemia empurre o público de volta para fontes de notícias confiáveis, mas a alfabetização midiática em geral é frequentemente tão baixa que as pessoas não necessariamente enxergam os benefícios do bom jornalismo.
O acesso às mídias sociais cresceu em muitos países, mas não segue o mesmo padrão. Quem é o grande vencedor da pandemia?
Um dos maiores vencedores da pandemia, desde que não seja banido, é definitivamente o TikTok. O número de pessoas que aderiram a ele aumentou enormemente. E o tédio levou até muitos adultos a usarem o aplicativo.
Como vê as organizações de mídia usando essa rede?
O Washington Post e NPR’s Planet Money estão fazendo uso incrível do TikTok em um nível organizacional, enquanto jornalistas independentes que trabalham em grandes empresas, como Sophia Smith-Galer da BBC e Max Fisher da CNN também se destacam na plataforma. Ainda não vimos jornalismo real no TikTok. Mas quem conseguir encontrar esse caminho tem a oportunidade de desbloquear a próxima geração de consumidores de notícias.
As plataformas digitais globais dizem que estão fazendo o que podem para conter notícias falsas, mas têm sido severamente criticadas.Acha que o volume significativo de fake news sobre a doença alimentará a pressão por regulamentação?
As plataformas podem sempre fazer mais para lidar com a desinformação- e estamos vendo seus esforços para lidar com notícias falsas sobre o coronavírus. O que precisamos fazer – e não estou convencido de que a regulamentação seja a resposta, mas talvez mais força dos governos seja – é garantir regras claras sobre onde as plataformas devem intervir e onde não devem. É fácil, com uma questão médica, identificar o que é real e o que não é. Mas quando se trata de política, é muito mais uma questão de percepção.
Recentemente, várias iniciativas de canais independentes digitais que oferecem jornalismo de qualidade surgiram em todo o mundo, como o Tortoise Media. Como eles estão após a pandemia?
O Tortoise conseguiu se sair incrivelmente bem por meio de um modelo financiado por leitores. Mas ao mesmo tempo também estamos vendo as dificuldades do The Guardian, o que realmente leva a questionamentos sobre a sobrevivência financeira do jornalismo e sobre como encontrar um modelo de negócio sustentável.
O que vem por aí para a indústria de notícias como negócio e para o jornalismo como prática após a pandemia?
Vimos que as pessoas estão dispostas, em alguns casos, a abrir suas carteiras e pagar por jornalismo de boa reputação. A questão é que geralmente os grandes nomes, como o New York Times, absorvem a maior fatia do bolo. Isso é uma má notícia para o jornalismo local, que está sofrendo cortes drásticos. Mas acho que estamos testemunhando o poder do jornalismo de manter as pessoas engajadas e de cobrar responsabilidades em todo mundo durante a crise do coronavírus. E espero – embora definitivamente não tenha certeza – que ainda tenhamos um bom futuro pela frente.