“A pracinha da cidade, onde você pode falar e se expressar livremente, sem medo de ser ‘desplataformado’ por suas visões”.  É com esse argumento sedutor, remetendo à camaradagem reinante nos encontros de moradores de cidades do interior, que a rede social americana Parler recebe seus visitantes. A foto em destaque é a de uma jovem trajada em estilo country. 

Melhor dizendo: recebia até ser despejada pela Amazon, que no dia 11/1/2021 retirou a rede de seus servidores e deixou-a inativa, em resposta aos incidentes ocorridos em Washington na semana anterior. A Parler tinha visto a audiência disparar, sobretudo depois que o presidente Donald Trump foi banido das demais redes sociais. Segundo a empresa de monitoramento SensorTower, o aplicativo foi baixado 10,8 milhões de vezes até ela sair do ar, com 9,6 milhões de instalações em 2020. 

Mesmo removida das lojas de aplicativos da Apple e do Google, ela ainda continuou  ganhando seguidores pelo site. O fundador, John Maze,  está à procura de outros servidores para hospedá-la e é possível que consiga, pois atende a interesses de um público expressivo, principalmente nos Estados Unidos. 

A rede, que vinha preocupando muita gente pela liberdade que proporciona aos que promovem teorias da conspiração, desinformação e violência, cresceu sobretudo entre os conservadores americanos, apegados a valores tradicionais. A pandemia da Covid-19 e as eleições americanas ajudaram a turbiná-la. 

Criada em 2018 e contando com quase 15 milhões de usuários, seu alcance nem chega perto ao das plataformas gigantes. O Twitter tem 330 milhões. Mas a velocidade com que arregimenta seguidores merece atenção.

Citando dados da empresa de análise Sensor Tower, o Washington Post informou em novembro que a rede saltou do 1.023° para o primeiro lugar, em apenas uma semana, na lista de aplicativos mais baixados pela Apple Store nos Estados Unidos um dia antes das eleições presidenciais.

A Parler não está sozinha. Faz parte de um conjunto de fóruns, canais de vídeo e emissoras de TV como MeWe, One America News e Rumble, voltados para uma audiência conservadora. Mas o conteúdo não moderado de Parler − uma mistura de spam pornográfico, discurso de ódio vil e falhas de segurança − lembra, segundo o Post, os fóruns de liberdade de expressão mais antigos, que se tornaram ponto de encontro de extremistas violentos.

Não há moderadores de conteúdo. Como se vivessem em um mundo de fantasia, os executivos da Parler dizem que esperam que os usuários erradiquem as violações e corrijam informações enganosas por conta própria. “Nós, da Parler, não achamos que é nosso trabalho pensar por outras pessoas”, disse Amy Peikoff, diretora de políticas da empresa, ao Washington Post. “Queremos que as pessoas pensem por si mesmas”.

Gab, outra rede para os radicais 

A Parler é a queridinha da vez, mas não inventou o modelo. Desde 2017 a redeGab já exercia papel semelhante, congregando extremistas de direita em um ambiente livre para os membros pregarem o que desejam. Ganhou visibilidade quando o atirador Robert Bowers postou uma mensagem antissemita no site antes de matar 11 pessoas em uma sinagoga de Pittsburgh, em 2018, o que fez seu tráfego mensal triplicar. 

O visual é pobre, mas a associação com violência e extremismo salta aos olhos. 

Um dos chamados “cool groups” (grupos legais) exibia em destaque (no dia 2/12) o seguinte vídeo, super cool

E para não deixar dúvidas sobre os membros, avisa quem é bem-vindo: 

Entre os grupos há até um dedicado a seguidores de Jair Bolsonaro, criado em 2018, com quase cinco mil membros. 

Tem muitos posts antivacina, endossando as teorias conspiratórias que associam Bill Gates a chips e modificação genética. Neste, o jornalismo de qualidade também é atacado, com a recomendação de que os participantes afastem-se de fontes de notícias confiáveis, incluindo a Fox News, que passou de amiga a inimiga dos seguidores de Donald  Trump. 

 

O método Parler combina o melhor de dois mundos 

Sediada no desértico estado americano de Nevada, a Parler declarou guerra aberta às empresas do Vale do Silício, que com isso passaram à condição de mariscos, entre o rochedo e o mar.

De um lado, as gigantes são demonizadas por permitirem que discurso de ódio e desinformação continuem circulando em seus domínios. De outro, suas iniciativas de moderação − como a remoção de tweets de Donald Trump − viraram argumento para que a Parler e seus adeptos se apropriassem da bandeira da liberdade de expressão para venderem-se como um território onde ela é respeitada.

Ao apresentar-se como opção ao Twitter e Facebook, a Parler não tem a pretensão de substituir suas congêneres maiores, mas cumpre o papel de instrumento complementar, permitindo aos usuários desfrutar do melhor de dois mundos.

Seus adeptos não deixaram as plataformas maiores, pelas quais têm a oportunidade de atrair e se dirigir a uma base mais ampla de seguidores, ainda que tolhidos pela moderação de conteúdo. E é por elas que convidam seu público a segui-los na Parler, onde podiam expressar suas idéias sem qualquer moderação.

Sinal disso foi um episódio ocorrido em outubro, quando a Reuters divulgou que um grupo russo conhecido por sua interferência na eleição norte-americana de 2016 estava operando contas de mídia social, entre elas uma chamada Leo, identificada pelo FBI como parte de uma campanha de desinformação russa para tentar interferir nas eleições de 2020.

Enquanto Facebook, Twitter e Linkedin tomaram medidas para suspender as contas de suas plataformas, a Parler as manteve, sob a alegação de que não havia sido informada oficialmente pelas autoridades. Na época, enquanto a conta angariava menos de 200 seguidores no Twitter, tinha mais de 14 mil na Parler.

Embora seja o inspirador de muitos dos que migraram recentemente,  Donald Trump nunca teve uma conta Parler (além daquela  gerida por sua campanha). Há no entanto um marcador de posição @donaldtrump registrado em 2018 e uma página de fãs do @Trump, cuja última postagem (“A MÍDIA É O VÍRUS !!!”) foi compartilhada em julho.

O Washington Post ressaltou que centenas de milhares de postagens na rede promovem ou discutem QAnon e outras teorias da conspiração, incluindo que as vacinas matam pessoas e o coronavírus é uma farsa. E que hashtags racistas e fanáticas − incluindo #BlackLivesDontMatter, #WhiteSupremacy e #MuslimsAreInvaders − têm mais de 1.000 posts cada.

Estranhamente para uma plataforma que se apresenta como conservadora, as diretrizes  permitiam imagens e vídeos de sexo adulto e nudez, e muitos deles podiam ser encontrados ao lado de hashtags Trump-ian, como #KeepAmericaSexy, #SexyTrumpGirl e #MAGAMILFs. O spam no site também é excessivo: muitas de suas principais hashtags, como #techtyrants e #gardenclub, costumam ser invadidas por links para sites pornográficos e anúncios de bolsas baratas, segundo a pesquisa do Washington Post. 

Pico de popularidade foi logo depois das eleições

Desde seu nascimento, em agosto de 2018, a Parler já liberava geral, com a promessa de deixar todos os usuários falarem livremente, sem fazer moderação de conteúdo e sem expulsar ninguém por seu discurso. No início, não conseguiu muitas adesões, mas na medida em que as plataformas gigantes passaram a fazer restrições contra o conteúdo enganoso ela começou a angariar mais popularidade e a aumentar a sua base de usuários.

O gráfico mostra os picos de popularidade desde a sua criação, de acordo com o Google Trends, tendo como índice 100 a maior marca já atingida, na semana de 8 a 14 de novembro, logo depois das eleições norte-americanas.

A rede manteve-se em cerca de 100 mil usuários por um longo período, até o primeiro pico, em maio/junho de 2019, quando cerca de 200 mil pessoas da Arábia Saudita inscreveram-se. Eram em sua maioria apoiadores do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, envolvido no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em outubro de 2018, que alegaram estar sofrendo censura no Twitter.

Na época a Parler encorajou os demais usuários a recebê-los no serviço e a recepção foi mista: alguns deram as boas-vindas e outros fizeram comentários islamofóbicos.

O pico de popularidade seguinte ocorreu em meados de 2020, quando o Twitter sinalizou como potencialmente enganosos alguns tweets de Trump, causando indignação entre seus seguidores. Foi quando a Parler começou a usar a hashtag #Twexit, incentivando seus usuários a saírem do Twiter e encontrarem um porto seguro para suas ideias no serviço prestado por ela.

Em junho, dois protagonistas do cenário conservador no Reino Unido e nos Estados Unidos aumentaram a popularidade da Parler.

No Reino Unido, a ativista de direita Katie Hopkins, colunista da mídia inglesa, foi expulsa do Twitterpor seu discurso de ódio e migrou para a Parler, projetando a rede no país.

 

 

 

Nos Estados Unidos, o senador Ted Cruz publicou um vídeo no YouTube anunciando que estava orgulhoso de se juntar à Parler. Os dois episódios foram seguidos pela adesão de outros políticos conservadores nos dois países. Na última semana de junho, a Parler tinha já mais de 1,5 milhão de usuários.

 

 

Brasil gerou pico em julho

O pico de julho deve-se à onda de inscrições de usuários do Brasil, depois que o presidente Jair Bolsonaro aderiu à rede em 13 de julho. A Bloomberg News informou na época que os brasileiros representaram mais da metade das novas inscrições na rede daquele mês. Em meados de julho a rede já passava de 2,8 milhões de usuários.

Outubro foi o pico dos adeptos do QAnon, com milhares mudando-se para a Parler depois que Instagram e Facebook agiram para banir o conteúdo da teoria da conspiração de suas plataformas.

Mas o pico de popularidade incomparável ocorreu logo depois que Trump denunciou que as eleições teriam sido fraudadas. O aplicativo da Parler foi baixado quase 1 milhão de vezes na semana seguinte à eleição, tornando-se o centro da teoria da conspiração “Stop the Steal”.

O The New York Times reportou que em apenas uma semana de novembro a Parler ganhou 3,5 milhões de adeptos. E no fim de semana depois dos conflitos em Washington teria chegado a quase 15 milhões. 

As diretrizes da comunidade 

Em artigo no portal The Conversation, que reúne textos escritos por acadêmicos, Alex Newhouse, pesquisador-chefe do Centro de Terrorismo, Extremismo e Contraterrorismo do Middlebury Institute of International Studies, analisou as políticas da Parler. Identificou que a rede tem apenas duas diretrizes: não permite intencionalmente atividades criminosas nem spam ou bots em sua plataforma.

Segundo ele, a falta de diretrizes sobre o discurso de ódio permitiu que o racismo e o antissemitismo florescessem: 

Nosso centro de pesquisas passou vários anos construindo uma extensa enciclopédia de terminologia e gíria de extrema direita, cobrindo tópicos de nicho do espectro da supremacia branca, neofascistas e movimentos antiestado. Estudamos as maneiras como a linguagem de extrema-direita evolui junto com os esforços de moderação de conteúdo das plataformas convencionais e como gírias e memes são frequentemente usados ​​para fugir das regulamentações”. 

O pesquisador conta que ao monitorar comunidades de extrema direita na Parler desde março encontrou o uso frequente de termos óbvios da supremacia branca e de memes e gírias mais implícitas e evasivas:

” Um exemplo: entre outros conteúdos explícitos de supremacia branca, a rede permite nomes de usuário que façam referência ao violento slogan antissemita da Divisão Atomwaffen, postagens que espalham a teoria de que os judeus são descendentes de Satanás e hashtags como ‘HitlerWasRight’.”

Ele observa também que é fácil encontrar nela o preconceito e a violência implícitos que levaram o Facebook a banir movimentos como o QAnon. 

“A versão de QAnon da teoria do ‘libelo de sangue’ − a teoria da conspiração centenária de que o povo judeu mata cristãos e usa seu sangue para rituais − espalhou-se amplamente na plataforma. Milhares de postagens também usam hashtags QAnon e promovem a falsa alegação de que as elites globais estão literalmente comendo crianças”. 

Newhouse tem uma explicação para o sucesso da Parler:

“Ela se destaca porque supremacistas brancos, adeptos do QAnon e conservadores tradicionais estão na área. Isso resulta em tópicos de comentários em postagens de políticos que são um caldeirão de crenças de extrema-direita, como uma resposta às alegações infundadas de crimes eleitorais de Donald Trump Jr. que afirma: ‘A guerra civil é a única maneira de drenar o pântano’. “

Quem está por trás?

A figura mais associada à Parler é seu CEO John Matze. Ele dirige a empresa junto com seu colega da Denver University, Jared Thomson, que é o CTO. Também vieram da mesma universidade outros integrantes da cúpula da empresa, que tinha cerca de 30 funcionários em novembro. Jeffrey Wernick, um dos primeiros investidores do Airbnb, é o diretor de operações.  

No dia em que o aplicativo da rede alcançou a liderança na Apple Store nos Estados Unidos em novembro, Matze deu uma entrevistaà âncora da Fox News Maria Bartiromo.  

Curioso é que embora a emissora venha caindo em desgraça entre os partidários de Donald Trump, vários jornalistas e comentaristas da rede que o apoiam são entusiastas da Parler. 

Sem a menor preocupação com imparcialidade, Bartiromo conclamou seguidores de Trump a se reunirem na rede que não promete checagem de fatos ou “brigões editoriais tentando dizer o que fazer e pensar“. Ela atacou frontalmente o Twitter, onde tem quase 1 milhão de seguidores: 

“Não vou mais aceitar a censura que está acontecendo no Twitter. Na Parler você encontrará histórias reais e minhas opiniões sobre os assuntos”. 

Mas a quem pertence a empresa? Num post na Parler publicado em novembro, John Matze disse que a propriedade é dele e de “um pequeno grupo de amigos próximos e funcionários”, e confirmou a participação de dois investidores estratégicos: o diretor de operações Warnick e Dan Bongino, um ex-agente secreto e comentarista de direita altamente popular, com quase 3 milhões de seguidores no Twitter e 4 milhões no Facebook. O próprio Bongino já havia anunciado alguns meses antes a compra de uma participação acionária da empresa.

O pesquisador Alex Newland levanta em seu artigo dúvidas sobre quem está por trás da Parler. 

“O bilionário conservador Robert Mercer e sua filha, Rebekah, são investidores na plataforma. Rebekah Mercer ajudou a fundá-lo com Matze. Os Mercers são bem conhecidos por seus investimentos em outras causas conservadoras, incluindo a campanha Brexit de Nigel Farage, o site Breitbart News e a empresa Cambridge Analytica. A conexão com a Cambridge Analytica, em particular, alarma os especialistas, que temem que a Parler possa coletar dados desnecessários de usuários incautos”. 

Numa entrevista ao Wall Street Journal em novembro, Matze confirmou que a megadoadora conservadora Rebekah Mercer era a principal investidora da empresa. Depois da publicação, Matze escreveu num post a Parler que Mercer havia criado a Parler com ele. O pesquisador Newland alerta que a política de privacidade da Parler não acalma as preocupações com a privacidade do usuário:

“A política diz que a Parler tem permissão para coletar uma grande quantidade de informações pessoais e dá a seus membros muito menos controle do que as plataformas convencionais sobre uso dos dados”. 

Jornalistas e comentaristas americanos engajados 

Maria Bartiromo não é a única estrela do jornalismo a emprestar sua popularidade à Parler. O Washington Post contabilizou mais algumas:

Madison Gesiotto, uma comentarista pró-Trump, tuitoupara seus 190.000 seguidores que  estava “cansada da grande censura tecnológica” e convidou-os a migrar: 

 

Mark Levin, o apresentador de rádio pró-Trump que lamentou sua censura no Facebook e no Twitter, onde tem um total combinado de mais de 4 milhões de seguidores,  tem pedido  repetidamente ao público que o siga na Parler. Suas postagens em todos os três sites agora são virtualmente idênticas, embora ele tenha tweetado este mês que “provavelmente  deixará o Facebook” no final do ano e que pode deixar o Twitter “um dia”.

De onde vem o dinheiro 

O Washington Post questionou como a Parler ganharia dinheiro a longo prazo, já que não tem a publicidade direcionada que transformou seus rivais em gigantes comerciais. E poucos acordos de marketing, incluindo a fracassada campanha de reeleição de Trump.

O jornal disse que os executivos do site afirmaram esperar que sua base de usuários se expanda com o tempo − tanto em números quanto em pontos de vista políticos − e estimule a competição com sites de trash-talk, como o Erasebook.info e Twexit.com, que levam as pessoas a se inscreverem na Parler. 

A rede não divulga dados detalhados sobre quanto tempo seus usuários permanecem no site ou com que frequência eles o visitam, e ainda não se sabe quantos novos usuários permanecerão. 

Mas grande parte da atenção recém-conquistada da Parler vem de seus impulsionadores no Facebook e no Twitter. Muitos usuários disseram que não têm planos de desistir desses sites, onde têm círculos sociais mais estabelecidos e continuam a conversar com amigos, bater papo em grupos e postar várias vezes ao dia.

Influenciadores digitais ouvidos pelo jornal parecem querer manter um pé de cada lado. Nicole Arbor, uma influenciadora de mídia social e criadora de vídeos como “The Truth About ‘Racism‘”, “The Problem With #MeToo” e “Dear Fat People”, disse ao Washington Post que aderiu à Parler pelo seu potencial e por estar cansada de ver suas piadas bloqueadas no Twitter. Ela disse que Parler deu a ela um alcance “louco”, mas deseja que a rede melhore os recursos para organizar seguidores e criar grupos. E não vai desistir do Twitter ainda. 

O futuro da Parler

No artigo escrito antes do banimento pela Amazon, o pesquisador Alex Newland acredita que o destino de Parler dependerá do que seus membros fizerem nos próximos meses: 

“A empresa será capaz de capitalizar no influxo de novos usuários ou seus membros irão lentamente retornar às plataformas maiores? Um fator importante é como o próprio Trump reage e se ele eventualmente cria uma conta em Parler”.

Newland observa que a Gab também tentou capitalizar em cima das preocupações sobre a moderação injusta contra os conservadores, mas teve seu crescimento impactado depois do atentado em Pittsburgh, que fez com que fosse bloqueada em PayPal, GoDaddy e Medium

 

Uma ajudinha dos algoritmos para o pensamento único 

A expansão da base de usuários dessas redes deve-se em grande medida ao boca a boca em escala global pelas mídias sociais. Mas há outros elementos que contribuem para a sua disseminação. Ao se buscar o aplicativo da Parler na Apple Store (busca feita em outubro/2020) a loja advinhava o gosto do freguês e oferecia outras alternativas que comungam das mesmas teses. 

 

 

NewsmaxOANN e BlazeTV são emissoras de TV que cresceram entre os americanos decepcionados com a cobertura da Fox News durante as eleições presidenciais.  

 

Conservative Talk Radio, bem, o nome já diz a orientação. O app é um dos vários agregadores de emissoras de rádio e podcasts com discurso conservador, número 1 em seu gênero na Apple Store.  

 

 

O Drudge Report reproduz notícias de vários jornais, e sempre teve viés conservador, razão pela qual aparece na lista da Apple Store. Mas o algoritmo ainda não captou que recentemente até Donald Trump acha que o serviço abandonou seus ideais. O apresentador da Fox News Tucker Carlson chegou a dizer que “Matt Drudge é agora um homem da esquerda progressista”. 

 

 

Breitbarté um site de notícias alinhadas à direita americana, criado em 2017 pelo comentarista conservador Andrew Breitbart, que disse tê-lo concebido para ser o  “Huffington Post da direita”.

 

The Babylon Bee apresenta-se como um site de notícias satíricas cristãs, com o exótico slogan “fake news nas quais você pode confiar”. Na descrição da revista Rolling Stone, é um site de “humor”, que agrada à comunidade conservadora e até a Donald Trump, que chegou a retuitar uma de suas sátiras − há dúvidas sobre se ele sabia que se tratava de uma brincadeira. 

 

Epoch Times é um jornal de extrema-direita internacional, impresso em várias línguas − incluindo português −, afiliado ao movimento religioso chinês Falun Gong. Dedica-se fortemente a fazer propaganda antiChina, em sintonia com Donald Trump e seus seguidores.  

 

Rumo a um mundo ainda mais polarizado?  

O cardápio da Apple não apresentava nenhuma opção que ofereça pontos de vista diferentes daqueles que provavelmente tem quem procura a Parler.

Ser de esquerda ou de direita ou de centro ou nenhuma das opções anteriores não é o problema. O risco é a polarização cada vez mais acirrada que a exposição a uma linha única de pensamento e a fatos que não desafiem nem questionem tal linha acabam por favorecer. 

Em entrevista ao Washignton Post, Robyn Caplan, que pesquisa plataformas de mídia social no think tank de tecnologia Data Society, disse que não é nenhuma surpresa que Parler floresça em uma América dividida, já que milhões de pessoas já vivem em um universo de mídia autosselecionado, navegando entre redes de TV como Fox News e Newsmax e as “câmaras de eco” de Facebook e YouTube, onde o histórico de visualizações das pessoas tende a moldar as fontes que elas veem e esperam.

“As novas ramificações das mídias sociais mostram como grupos de mentalidade política que antes esperavam atrair ampla atenção estão cada vez mais optando por se retrair, preferindo comunidades insulares onde seus pontos de vista são menos testados e mais celebrados. O resultado: uma internet cheia de bolhas de crença coexistentes e ininterruptas”. 

A pandemia do coronavírus, que inundou o mundo de medo, incerteza, perda, prejuízo e desconfiança, está regando bem as plantinhas do jardim do pensamento único. 

Leia mais sobre iniciativas de regulação de plataformas digitais no Reino Unido, Europa, Estados Unidos e Austrália, e as recomendações feitas por um grupo de especialistas de vários países.

 


Redação MediaTalks
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