Donald Trump saiu da Casa Branca com mรก fama referendada por tรญtulos como o maior gerador de notรญcias falsas sobre a pandemia concedido pela Universidade de Cornellou o presidente do paรญs com a pior gestรฃo da crise do coronavรญrus entre 105 naรงรตes avaliadas pela consultoria Brand Finance.

A danificada marca Trump pode ser atรฉ vir a se recuperar diante do pรบblico, mas entre os jornalistas serรก difรญcil. Uma pesquisa do projeto US Press Freedom Tracker contabilizou que de 15 de junho de 2015, quando Trump declarou sua candidatura ร  presidรชncia, atรฉ sua รบltima postagem antes de ter a conta suspensa pelo Twitter, em 8 de janeiro, ele tuitou 24.500 vezes, das quais 2.520 com mensagens contrรกrias ร  imprensa.

Isso significa que, em mรฉdia, o ex-presidente dos EUA tuitou negativamente sobre a mรญdia mais de uma vez por dia nos รบltimos 5 anos e meio.

Nรฃo serรก fรกcil perdoar o homem que atacou o jornalismo com termos como “Inimigo do Povo” e “LameStream Media”, apontando a mรญdia como “corrupta”, “desonesta” e “sem esperanรงa”.

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O โ€œMurder the Mediaโ€ esculpido na porta do prรฉdio do Capitรณlio durante os recentes protestos em Washington pode ser visto como resultado desses cinco anos.

Todas as postagens catalogadas 

O projeto UK Press Freedom Tracker criou um banco de dados dos tuรญtes anti-mรญdia de Trump, base de seu relatรณrio. O documento explica que uma sรฉrie de decisรตes judiciais estabeleceram que cada um dos tuรญtes do nome pessoal de Trump, @realDonaldTrump, รฉ uma declaraรงรฃo oficial do Gabinete do Presidente dos Estados Unidos.

E quando Trump tentou contornar a suspensรฃo do Twitter postando no @POTUS, o nome oficial do Gabinete do Presidente, a plataforma de mรญdia social removeu esses tuรญtes tambรฉm. A conta da campanha Trump, @TeamTrump foi igualmente suspensa.

O projeto descobriu que em 2020, apesar de um processo de impeachment, uma pandemia global, protestos nacionais generalizados contra a injustiรงa racial e a derrota nas eleiรงรตes,  Trump postou mais tuรญtes negativos sobre a mรญdia do que em qualquer ano anterior. O relatรณrio lista 633 tuรญtes anti-imprensa durante seu quarto e รบltimo ano no cargo.

Count graph

O relatรณrio diz que nos รบltimos meses da presidรชncia, as denรบncias ร  imprensa no Twitter ficaram em segundo plano para ataques contra o processo eleitoral, reivindicaรงรตes de vitรณria e teorias de conspiraรงรฃo infundadas de fraude eleitoral. Ainda assim, em relaรงรฃo aos anos anteriores, em seu รบltimo ano no cargo, Trump aumentou seus ataques a redaรงรตes e jornalistas especรญficos.

Chuck Todd, da NBC, foi “homenageado” pelo ex-presidente como o primeiro e o รบltimo alvo dos tuรญtes de Trump contra a mรญdia. Ele insultou Todd pela primeira vez em 12 de julho de 2015, referindo-se ao รขncora como “patรฉtico” e que ele estava “matando o programa Meet the Press”. Quase cinco anos e meio depois, em 6 de janeiro de 2021, Trump mirou em Todd em seu รบltimo tuรญte anti-mรญdia. โ€œร‰ triste assistir!โ€ ele postou, usando um de seus apelidos , olhos sonolentos, para referir-se a Todd.


last Tweet

Ao todo, o US Press Freedom Tracker listou 515 tuรญtes com insultos a jornalistas individuais e 810 a veรญculos.  A CNN e seus profissionais aparecem no topo da lista, com um total de 310 tuรญtes. New York Times e MSNBC / NBC ficaram em segundo e terceiro com maior frequรชncia, sendo citados em 289 e 271 tuรญtes, respectivamente.

Nem mesmo a Fox News escapou. O relatรณrio descobriu que, embora nรฃo estivesse entre os trรชs principais alvos, o canal foi um dos favoritos de Trump mesmo durante sua candidatura. E viu-se ainda mais em evidรชncia nos รบltimos dois anos do ex-presidente no cargo.

Fonte: US Press Freedom Tracker database, Trump’s negative Tuรญtes about the press 

No รบltimo ano tudo piorou 

 

Opposition Graph

Trump e a pandemia no Twitter

Em seu relatรณrio anterior, emitido quando Donald Trump ultrapassou os 2.000 tuรญtes contra a mรญdia, o US Press Freedom Tracker destacou que ocorreu um aumento perceptรญvel ร  medida que a gravidade do novo coronavรญrus progredia nos Estados Unidos e a gestรฃo da crise era criticada.

O tuรญte 2.000 foi um exemplo, criticando a cobertura de nada menos do que cinco veรญculos e acusando a maioria de parcialidade:

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O relatรณrio de abril do ano passado diz que a taxa de tuรญtes negativos de Trump contra a mรญdia comeรงou a acelerar a um ritmo nunca visto nos 5 meses anteriores, tendo subido de 5,6% de seus tuรญtes gerais em janeiro para 11,2% em marรงo. Na semana de 23 de marรงo – quando os EUA comeรงaram a liderar o mundo em casos confirmados – Trump criticou a mรญdia em quase um em cada cinco tuรญtes.

 

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Em 1ยบ de marรงo do ano passado, ele referiu-se a um grande nรบmero de meios de comunicaรงรฃo como “inimigos do povo”, um termo usado pela primeira vez logo apรณs assumir o cargo. O tuรญte veio um dia depois de os Estados Unidos registrarem sua primeira morte por coronavรญrus.

The Times, The Washington Post, MSNBC, ABC, CBS News e mais, ele tuitou, โ€œencabeรงamโ€ a โ€œMรญdia Falsa de Notรญciasโ€ e sรฃo uma fonte de desgosto e constrangimento nacional.

O relatรณrio diz que os tuรญtes anti-imprensa de Trump focaram predominantemente na cobertura da mรญdia sobre a pandemia e na resposta de seu governo:

“Trump condenou repetidamente o uso de fontes nรฃo identificadas, alegou que a mรญdia estava deliberadamente dramatizando o surto para prejudicar a economia e suas chances de reeleiรงรฃo, e afirmou que os meios de comunicaรงรฃo deveriam se unir a ele em face da crise, em vez de continuar cobrindo o surto e a resposta crรญtica “.

Tuรญtes foram ร  รฉpoca direcionados a veรญculos especรญficos – com MSNBC e o New York Times atacados com mais frequรชncia –  e usando “apelidos” degradantes como “MSDNC” e “DeFace the Nation”.

Cinco jornalistas individuais – representando quatro veรญculos – tambรฉm foram atacados diretamente: Rachel Maddow e Joe Scarborough da MSNBC, Chuck Todd da NBC, Maggie Haberman do Times e Chris Cuomo da CNN.

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O projeto US Press Freedom Tracker destacou os tuรญtes contra profissionais,  questionando sua legitimidade, รฉtica e objetividade, bem como insultando sua aparรชncia fรญsica ou comportamento e atribuindo-lhes apelidos degradantes.

As coletivas de imprensa durante a pandemia viraram campo de batalha e foram exploradas pelo presidente no Twitter:

“Quando o Correspondente Chefe da ABC na Casa Branca, Jonathan Karl, perguntou durante uma reuniรฃo em 6 de abril sobre um relatรณrio do inspetor-geral do Departamento de Saรบde e Serviรงos Humanos, Trump brincou:” Vocรช รฉ um repรณrter de terceira categoria. ” Karl tambรฉm รฉ o presidente da Associaรงรฃo de Correspondentes da Casa Branca. “

O US Press Freedom Tracker destaca as referรชncias de Trump ร  CNN como โ€œuma PIADA! , ao Wall Street Journal comoโ€œ Fake News! โ€.  E observa que ele mirou no Washington Post e no New York Times afirmando que a publicidade estava โ€œ MUITO baixa โ€porque sรฃoโ€œ Notรญcias Falsas โ€ou porqueโ€œ o vรญrus estรก simplesmente os espancando โ€

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Trump tambรฉm dirigiu-se ร  Fox News no auge da pandemia, tuitando que assistir ao canal nas tardes de fim de semana era โ€œuma total perda de tempoโ€. O relatรณrio associa este tuรญte a uma matรฉria  sobre a falta de equipamentos de proteรงรฃo e mortes de veteranos relacionadas ao coronavรญrus.

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Minando a confianรงa da imprensa 

Em seu relatรณrio de abril de 2020, o US Press Freedom Tracker alertava para o fato de que o tom agressivo que estava  corroendo a confianรงa do pรบblico na mรญdia, embora fosse uma marca registrada da administraรงรฃo do presidente, aumentava no Twitter em conjunto com a disseminaรงรฃo do coronavรญrus nos EUA e as crรญticas ร  gestรฃo do governo.

A situaรงรฃo nรฃo melhorou desde entรฃo, como mostram os nรบmeros agora revelados mostrando todo o ciclo de Donald Trump na rede social em que chegou a ter 88 milhรตes de seguidores.

Pesquisas que mostram a desconfianรงa no jornalismo alimentada por essa campanha do ex-presidente da naรงรฃo mais influente do mundo   indicam que a imprensa tem um longo caminho a percorrer para recuperar o terreno perdido.

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