Apesar de todas as evidências em contrário, apenas no momento em que Joe Biden assumiu o cargo de presidente dos Estados Unidos os seguidores do QAnon finalmente aceitaram a ideia de que um golpe militar ou a decretação de lei marcial por Donald Trump para impedir a posse não iram acontecer. Nas plataformas de mídia social populares entre conservadores e teóricos da conspiração, como Gab e MeWe, alguns ainda mostravam fé na volta de Trump para finalizar sua obra e que algo parecido com o “grande despertar” ainda poderia acontecer. Mas a maioria expressava frustração.

Entrevistado pela Reuters após a cerimônia, o pesquisador do Atlantic Council Jared Holt disse nunca ter visto uma desilusão tão grande nas comunidades QAnon que monitora.

Ainda é cedo para prever o futuro da QAnon sem Donald Trump como presidente dos EUA e banido pelas principais plataformas de mídia social. E diante de oposição pública ao movimento como a que a parlamentar americana a ele afiliada Marjorie Taylor enfrenta, com um grupo de parlamentares tentando removê-la do Congresso. Mas alguns efeitos começam a ser percebidos.

A empresa britânica Graphika, que monitora mídias sociais utilizando ferramentas de inteligência artificial, contabilizou que 60% das contas relacionadas ao movimento haviam desaparecido do Twitter até o dia 18 de janeiro.  O relatório publicado no dia 22 mostra queda acentuada após os distúrbios no Capitólio, em 6 de janeiro. No dia 12, o Twitter suspendeu mais de 70 mil contas diretamente vinculadas ao QAnon, mas a debandada começou antes disso.

Só que seus seguidores estão sendo hábeis em encontrar outros espaços. Em um artigo publicado na semana passada, o portal de notícias sobre tecnologia The Verge revelou que uma nova plataforma chamada Clapper, com sede no Texas e apenas 15 funcionários, tornou-se um novo lar para os seguidores do QAnon. Segundo a revista, o app foi baixado mais de 500 mil vezes, com aumento acentuado nas últimas duas semanas.

Os adeptos do QAnon também estão tomando de assalto comunidades de praticantes de ioga na web. O fenômeno começou a ser percebido logo após o início da pandemia, mas vem se intensificando, com influenciadores promovendo curas milagrosas e questionando distanciamento social e vacinas sob a ótica da espiritualidade e do desafio à medicina tradicional.

O pesquisador em teorias da conspiração Marc-Andre Argentino, da Universidade de Concórdia, no Canadá, chamou o fenômeno de Pastel QAnon, referindo-se a cores pastéis usadas em sites dedicados a mulheres e mães.  A plataforma de ioga Gaia foi invadida por seguidores do QAnon e por gente banida de outras redes, como o conspiracionista britânico David Icke.

 

QAnon afasta-se do Twitter

Pelos dados da Graphika, mais de 8.859 das 13.856 contas altamente conectadas que estavam usando hashtags QAnon no segundo trimestre de 2020 agora estão inativas. A migração para outras redes tem várias explicações. Há os que se foram voluntariamente, insatisfeitos com a moderação. E há os banidos pelo próprio Twitter, como indica o relatório da empresa:

“Embora algumas dessas contas provavelmente tenham sido desativadas pelos próprios usuários ou suspensas em ações de execução anteriores, acreditamos que a grande maioria foi removida na rodada mais recente de suspensões do Twitter, anunciada em 12 de janeiro.”

A pesquisa demonstra em uma linha do tempo o pico de tuítes produzidos por seguidores do QAnon em 6 de janeiro, dia dos tumultos em Washington. E em seguida, veio a queda, antes mesmo de o Twitter remover as contas.

“Há um declínio notável nos dois dias anteriores ao anúncio do Twitter. Nesse período, vimos diminuir entre 70-80% a quantidade de conteúdo sendo produzido pelas contas QAnon mais conectadas no Twitter”. 

 
 
 
 
 

O gráfico acima indica o volume do tweet ao longo do tempo para a comunidade central QAnon no mapa de rede do Graphika; a atividade diminui significativamente entre 6 e 10 de janeiro.

De acordo com a Graphika, as suspensões parecem ter afetado todas as comunidades online ligadas ao QAnon no Twitter. A consultoria revelou que, além dos adeptos mais dedicados da comunidade, as contas de suporte a Donald Trump que se engajaram com o conteúdo QAnon e os usuários japoneses deste também tiveram um grande impacto. A empresa revela que 45% do usuários associados ao movimento mapeados no Japão ficaram inativos. Nos Estados Unidos a taxa foi de 62% da comunidade central de conspiração QAnon.

“A análise preliminar sugere que muitas das contas removidas serviram como pontes influentes entre os diferentes subgrupos que compõem a comunidade QAnon maior. O Twitter anunciou  que havia removido contas QAnon altamente influentes, incluindo as de Michael Flynn, do ex-advogado do Trump Sidney Powell e do ex-administrador do 8kun Ron Watkins. As contas removidas parecem ter sido altamente interconectadas, sugerindo que estavam bem integradas na atividade online”.

Os autores acreditam que, devido ao papel proeminente e de “ponte” desempenhado por essas contas na rede geral, as suspensões recentes tiveram o efeito indireto de diminuir o número de conexões entre os usuários do Twitter. E que isso resultou em uma rede online menos densa, que compreende uma coleção de comunidades dissidentes isoladas.

“A remoção deles provavelmente terá um impacto significativo na coesão social e nos esforços de coordenação futuros da comunidade QAnon no Twitter.”

O relatório do Graphika descobriu que 4.997 contas desta rede permanecem ativas. Aqueles com o maior número de seguidores no mapa são em sua maioria contas do Twitter que produzem um alto volume de conteúdo centrado no suporte a Donald Trump e tendem a evitar o uso de terminologia ou identificadores QAnon. A pesquisa identificou eles têm lamentado o fim da administração Trump e compartilhado reportagens de veículos de direita especulando sobre o destino político do ex-presidente.

O papel da QAnon na rede antivacina 

A Graphika também mediu o papel do QAnon na disseminação de teorias de conspiração adjacentes. O relatório diz que um grupo de apoiadores do QAnon teve papel central na rede dos que se opõem à vacina contra a Covid-19 no Twitter.

“Embora as contas do QAnon representassem apenas 17% da rede geral, o grupo atuava como uma ponte crucial entre as contas que apoiavam Donald Trump e o núcleo do movimento antivacina nos Estados Unidos”. 

Desde a suspensão feita pelo Twitter, quase 50% das contas QAnon que participam do diálogo antivacina foram desativadas, diz o relatório, tornando-se incapazes de operar como vetor de informação para teorias conspiratórias como o “despovoamento global” ou a interferência de Bill Gates.

 

 

 

 

 

 

 

A Graphika vinha avaliando a evolução do QAnon nas redes sociais desde que as principais empresas globais passaram a adotar ações para limitar a presença do movimento em suas plataformas. Em outubro do ano passado, analisando as iniciativas do Facebook e do YouTube nesse sentido, a empresa observou que elas não tiveram consequências significativas na capacidade da comunidade QAnon de produzir e consumir conteúdo nocivo.

“Como muitos pesquisadores e jornalistas observaram, a aplicação dessas mudanças de política foi irregular, especialmente para conteúdo em outro idioma. Essa análise descobriu que, para a mesma rede central QAnon mencionada acima, entre 85-95% das contas ainda estavam ativas em outubro, após o  Twitter anunciar uma ‘repressão’ em julho. ”

Muitos relatos QAnon exibiram uma mudança de comportamento, adaptando sua atividade para evitar a suspensão, segundo a Graphika:

“Apoiadores do QAnon deixaram de usar a ‘marca registrada’ para escapar das especificações de cada plataforma. No Twitter, isso incluiu a substituição de hashtags QAnon reconhecidas, que geralmente são usadas em biografias, nomes de usuário e descrições de contas,  por números comerciais e letras. Em termos de narrativas, tem havido um amplo esforço para suavizar a retórica. Um exemplo é o reenquadramento do discurso ‘grupos satânicos de tráfico sexual infantil operando nos mais altos escalões do governo dos EUA’ para um enfoque mais suave, com foco na proteção dos direitos das crianças ”. 

A consultoria afirma que as plataformas costumam ser lentas para responder a essas mudanças de comportamento.

A pesquisa também identificou que muitas das contas que permanecem online defendem a migração da comunidade QAnon para plataformas de alta tecnologia, como Parler (agora inativa), Gab, Clouthub, Telegram e MeWe, com um aumento acentuado no compartilhamento de Parler e Domínios Gab por contas QAnon em 6 de janeiro, o dia dos distúrbios no Capitólio.

Tweets de usuários US QAnon contendo links para parler.com (acima) e gab.com (abaixo); ambos indicam um rápido aumento em 6 de janeiro.

Clapper, o clone do TikTok

Esse movimento pode ser percebido analisando o crescimento da rede ClapperEla foi lançada em julho passado, posicionando-se como um aplicativo “Free Speech Short Video”, com menos moderação. Segundo a The Verge, o aplicativo foi baixado mais de meio milhão de vezes, com uma quantidade considerável desse crescimento ocorrendo apenas nas últimas duas semanas.

O portal de notícias de tecnologia Verge comparou a página do Clapper “For You” com a One America News Network, rede de TV alinhada ao pensamento conservador e de extrema-direita, por destacar vídeos com pessoas que se autodenominam “patriotas”. E também com muita desinformação antivacina e vídeos chamando os democratas de “pedófilos”.  A The Verge afirma que #trump2020 e outras hashtags políticas são algumas das mais populares na plataforma. Uma rápida olhada demonstra o tipo de conteúdo ali exibido.

Em um press release anunciando o lançamento da rede, em novembro.- apesar de ela ter entrado em operação em julho – a ausência de moderação é apresentada como o principal atributo:

“Clapper é uma plataforma social de vídeo curtos, imparcial e de livre expressão que surgiu devido à necessidade de uma plataforma de mídia social sem censura, onde todas as opiniões importam. A plataforma foi lançada em linha com o objetivo da empresa de incentivar a liberdade de expressão, permitindo que as pessoas manifestem livremente suas opiniões pessoais, pontos de vista políticos ou compartilhem notícias em vídeo locais sem limitações”. 

Reafirma a liberdade dizendo que dizendo que “a interface fácil e intuitiva do aplicativo torna mais fácil para os usuários postar e obter mais envolvimento de pessoas com interesses semelhantes em um tópico, independentemente do preconceito político ou social”. E busca claramente diferenciar-se das demais plataformas, afirmando que “a Clapper foi projetada para defender a tendência da “liberdade de expressão”  quebrando o poder de censura das grandes mídias sociais e plataformas de streaming”. 

A rede não exibe anúncios e é gratuita. Há uma ferramenta de monetização, a Clapper Fan, que remunera os criadores por vídeos com muitos seguidores, descrita sob a promessa de marca “Be valued” e acenando com “lucros substanciais”. Em janeiro, anunciou o início de transmissões ao vivo. Os vídeos podem ter até três minutos.

E a promessa “Be Seen” é justificada pelo uso de algoritmos que oferecem “oportunidades iguais” aos usuários para mostrar a realidade de suas localidades.

O CEO e cofundador do Clapper, Edison Chen, admitiu ao The Verge que o crescimento recente do aplicativo veio de pessoas que acreditam na QAnon e de contas políticas de direita que procuram menos censura ou foram banidas de outras plataformas de mídia social.

Quando questionado se o Clapper permite conteúdo QAnon em sua plataforma, Chen disse ao site que a moderação depende em grande parte de sinalização dos usuários, mas ressaltou que conteúdo capaz de incitar a violência é proibido. Mais tarde, ele voltou à revista para informar que a Clapper havia “identificado” vários usuários estava conduzindo uma investigação para saber alguns usuários violavam os padrões da comunidade do aplicativo.

Embora Chen tenha tentado na entrevista dissociar a rede de assuntos políticos − chegando a enviar ao site exemplos de vídeos não relacionados ao tema −, vídeos pró-Trump e alinhados a posições conservadoras como aversão a imigrantes e condenação do aborto   podem ser facilmente encontrados, mesmo sem baixar o aplicativo.

Não é preciso ser membro para acessar o conteúdo relacionado ao QAnon. Em uma busca no Google por “Clapper QAnon”, um link para vídeos associados ao movimento aparece na primeira página, levando a vídeos que endossam os ataques de 6 de janeiro e ajudam a disseminar teses como a de que Trump estava lutando contra um perigoso “estado profundo” dentro do governo dos EUA.

 

QAnon e Ioga, combinação perigosa

Na postagem em seu  blog no dia 12 de janeiro a respeito da suspensão de conteúdo associado ao QAnon, o Twitter anunciou decisão de “suspender permanentemente milhares de contas que eram principalmente dedicadas ao compartilhamento de conteúdo QAnon”. 

Vale observar a palavra principalmente, sugerindo nem todas as contas que promovem QAnon seriam alcançadas. E não foram mesmo. Um grande e perigoso exemplo é a comunidade de ioga, que virou palanque para a promoção das teses do QAnon, por vezes de forma velada ou até mais explícita, com o uso de símbolos do movimento.

O fenômeno não é novo. Desde o início da pandemia, os pesquisadores notaram que o QAnon estava encontrando seu caminho entre os praticantes de ioga que acorreram à internet para continuar praticando a atividade depois que muitos países entraram em lockdown.

Uma das primeiras a alertar para o problema foi a americana Seane Corn, instrutora de ioga e ativista de justiça social. Em entrevista ao Yahoo News, ela revelou que começou a receber mensagens estranhas de amigos e colegas professores em março:

“Eles tentavam fazer crer que não deveríamos confiar no governo. E que havia uma conspiração profunda relacionada à Covid para nos microchipar por meio de vacinas obrigatórias com a ajuda de Bill Gates, usando termos como “grande despertar” e “pílula vermelha”.

 

Em setembro, ela postou um video denunciando a situação, junto com outros influenciadores, que teve ampla repercussão nas redes sociais e em jornais como o New York Times.

 

O pesquisador Marc-Andre Argentino, um estudioso das teorias conspiratórias, deu um nome ao fenômeno: Pastel QAnon , que consiste na adoção de formas mais leves de propaganda. 

“Como forma de contornar as sanções iniciais do Facebook, as mulheres que acreditam nas conspirações da QAnon usaram imagens calorosas e coloridas para espalhar as teorias da QAnon por meio de comunidades de saúde e bem-estar e infiltrando-se em campanhas legítimas contra o tráfico de crianças“. 

Em seu estudo, que avaliou sites de influenciadores de estilo de vida, de mães, de fitness, de dieta de curas alternativas, Argentino observou que a estética das páginas suaviza as mensagens do movimento, um oposto da narrativa crua do QAnon.

 

Cecile Guerin, uma pesquisadora de desinformação online francesa que mora em Londres e também atua como professora de ioga nas horas vagas, escreveu um artigo na Wired UK no dia 28 de janeiro contando sua experiência pessoal. Ela disse que, a exemplo de Seane Corn, nos primeiros dias do lockdown começou a encontrar postagens sobre como sucos, curas milagrosas e açafrão podiam aumentar a imunidade e afastar o vírus. E que quando a pandemia agravou-se a desinformação tornou-se mais sombria, com muito conteúdo antivacina, negação de Covid e apelos para ‘questionar verdades estabelecidas’.

Em sua opinião, alguns influenciadores de ioga e líderes de espiritualidade da nova era viram a pandemia como uma oportunidade e começaram a fornecer uma plataforma para teorias da conspiração, citando o exemplo de Guru Jagat , um professor de ioga Kundalini com 67.000 seguidores no Instagram e 21.000 assinantes do YouTube, que convidou o QAnon teórico da conspiração Kerry Cassidy para uma entrevista de uma hora no YouTube.

Guerin diz que é difícil dizer o quanto as teorias da conspiração se infiltraram no espaço de bem-estar e ioga:

”Os pesquisadores tentaram documentar o recente renascimento da ‘conspiritualidade’ − a interseção de ioga, espiritualidade e saúde holística com teorias da conspiração. O podcast Conspirituality, cofundado pelo sobrevivente de culto e professor de ioga Matthew Remski, lista figuras na indústria do bem-estar que compartilharam teorias da conspiração e tem como objetivo expor o ‘utopismo falso-progressivo do bem-estar’.

Ela acredita que a tendência vai além dos influenciadores, já que o conteúdo de conspiração compartilhado por entusiastas de ioga e bem-estar também aparece de várias formas em espaços de difícil acesso para pesquisadores, incluindo grupos privados no Facebook ou na forma de conteúdo de curta duração, como o Instagram histórias.

Guerin também associa a situação à crise sofrida pela indústria de ioga − uma pesquisa nos Estados Unidos mostrou um aumento de 23% no fechamento de estúdios em 2020 −, privando milhares de professores de renda e encorajando muitos a capitalizar sobre o conteúdo que gera tráfego e dinheiro.

“Para os influenciadores modernos, as motivações para compartilhar o conteúdo QAnon variam do oportunismo cínico à ideologia. Empreendedores de ioga usaram as oportunidades que a pandemia apresentou,  aproveitando-se da vulnerabilidade de seu público”.

Ela lembra que, apesar de as comunidades online de ioga e bem-estar sejam em grande parte formadas por mulheres instruídas e de classe média − candidatas aparentemente incomuns para a disseminação de teorias da conspiração −, pesquisas mostram que elas são mais propensas a acreditar na desinformação antivacina. Isso torna a ioga uma porta de entrada para essas crenças.

Também há interesses comerciais envolvidos, com influenciadores aproveitando seu alto engajamento para vender produtos. A pesquisadora cita o caso de Krystal Tini, professora e  dona de uma empresa de tapetes de ioga, que ampliou sua base de seguidores nos primeiros dias da pandemia após postar longos vídeos em apoio da QAnon, tornando-se um dos representantes de bem-estar de maior sucesso do movimento.

Chegou a ter a conta principal desativada pelo Instagram, mas passou a postar em outra conta, sem aparentemente ser incomodada de novo.

Em um post publicado antes da posse de Biden, ela ataca o distanciamento social e relaciona doenças com o isolamento obrigatório por causa da Covid, assim como o uso de máscaras. E sugere que algo sério aconteceria em poucos dias, em clara referência ao “grande despertar” do QAnon. Pelo menos uma seguidora brasileira apoiou o manifesto.

 

Gaia, muito mais do que poses relaxantes 

A tendência de aproveitar a ioga para propagar o QAnon está presente também em sites especializados na atividade. O jornal online Daily Dot registrou em matéria publicada em dezembro passado como a plataforma Gaia, que oferece vídeos de ioga por meio de um modelo de assinatura, passou a abrigar muito mais do que ensinamentos sobre a prática.

Engana-se quem pensa tratar-se de um espaço alternativo. A plataforma é listada na bolsa americana Nasdaq, tem 8 mil títulos e assinantes em 185 países. No balanço do terceiro trimestre de 2020 registrou aumento de 28% na receita e ganhou quase 100 mil membros. A assinatura custa £ 8,99 por mês (R$ 66,00). O idioma português não está entre as opções oferecidas.

Ela se apresenta como rede de mídia apoiada por quem busca a verdade e acredita na evolução da consciência, prometendo responder às perguntas mais profundas da vida e ir além da narrativa dominante. Oferece mais 8.000 títulos para streaming sem anúncio, “que desafiam os paradigmas modernos e permitem que você manifeste a realidade que define o seu ser”.

A oferta vai além das aulas de ioga, com uma extensa biblioteca que inclui de tudo, desde alienígenas a conteúdo antivacina.

Na Gaia estão teóricos da conspiração renomados que foram dispensados pelos principais sites de mídia social. David Icke é um exemplo. Apesar de ter sido banido do Facebook e do YouTube, o teórico da conspiração tem vídeos no Gaia. Na série Escape The Matrix, ele promete que “conectar os pontos entre os principais eventos mundiais a fim de fornecer um contexto mais claro para entender melhor a realidade simulada em que vivemos”.

O Daily Dot diz não ter recebido resposta da Gaia sobre como os usuários são selecionados para verificação, nem como os vídeos são escolhidos ou encomendados para o site. Nos  Termos de Uso e Privacidade do site oferecem o único insight sobre qualquer tipo de política de moderação, observando que, “vemos a associação à nossa rede e comunidade como um privilégio, não um direito”, o que significa que eles removerão comentários “desrespeitosos” e reserva-se o direito de revogar associações.

 

O que vai ser do QAnon? 

Para Marc-André Argentino, o ataque do Capitólio mostrou os perigos reais dos adeptos do Qanon. Em um artigo no portal The Conversation, ele observou que já passamos muito do ponto de simplesmente perguntar como as pessoas podem acreditar no QAnon quando tantas de suas afirmações vão de encontro aos fatos.

Para ele, a ideologia militante e antiestablishment − enraizada em um desejo quase apocalíptico de destruir o mundo existente e corrupto e inaugurar uma era de ouro prometida − foi exibida naquele ataque para o mundo inteiro ver. E o que vai acontecer agora?

“O QAnon, junto com outros atores de extrema direita, provavelmente continuará a se unir para alcançar seus objetivos de insurreição. Isso poderia levar a uma continuação da violência inspirada no QA, já que a ideologia do movimento continua a crescer na cultura americana”, diz o pesquisador.