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Falta diversidade na TV britânica?

A temporada 2020/2019 da TV no Reino Unido não foi boa para metade dos seis grupos monitorados pelo programa Diamond, que acompanha a representatividade de negros e minorias étnicas, mulheres, LGB, transgêneros, maiores de 50 anos e pessoas com necessidades especiais nas telas e nos bastidores.

Tanto os maiores de 50 anos como as pessoas com necessidades especiais, apesar dos pequenos avanços verificados, continuaram sub-representados nas telas e por trás das câmeras. O mesmo aconteceu com os transgêneros, só que para este foi pior, pois viram sua participação diminuir ainda mais no vídeo.

O acompanhamento, que vem sendo feito desde 2016, é uma iniciativa notável, que vem colhendo frutos. Ele é apontado como o primeiro sistema de coleta de dados online a ter sido implantado no mundo para monitorar e apontar caminhos para aumentar a diversidade e a inclusão de uma indústria.

A partir deste ano serão seis emissoras 

Participam do esforço cinco das principais emissoras britânicas − BBC, SKY, ITV, Channel 4 e Channel 5/ViacomCBS. Junto com BAFTA, ScreenSkills, Pact, ITN e S4C, elas mantêm a Creative Diversity Network, que conduz o programa. A partir da temporada 2021/2020, a UKTV passará a integrar o grupo e a participar da pesquisa.

Por outro lado, algumas emissoras não estão tão preocupadas com o tema, a ponto de enfrentar problemas com o OFCOM, o órgão regulador das telecomunicações no Reino Unido. Esse é o caso da Talking Pictures TV, um canal dedicado a filmes clássicos, com 3,5 milhões de telespectadores. Esta semana foi aberta uma investigação devido à exibição de um episódio da série Rogue’s Rock que apelou ao recurso blackface, com atores brancos maquiados interpretando os personagens negros.
O OFCOM vem pressionando a Talking Pictures a ter mais cuidado com sua programação, mas seus proprietários resistem sob o argumento de que não se deve reescrever a história da televisão. O mais interessante é que trata-se de uma produção da década de 70 que foi ao ar pela ITV, o que hoje seria impensável depois de ela ter se tornado signatária do programa Diamond quase cinquenta anos depois.

Constatando as desigualdades e comparando as evoluções a partir dos dados coletados anualmente, a iniciativa é a principal ferramenta do setor para garantir que a diversidade da população britânica esteja espelhada não apenas no conteúdo que vai para as telas, mas também nas pessoas que o produzem e tomam decisões.

Trata-se de um estudo bastante aprofundado, que mostra em detalhes a situação da diversidade e da inclusão numa das indústrias de produção televisiva mais avançadas do mundo. O trabalho abrange todos os gêneros de produção, como drama, comédia, infantil, factual e entretenimento.

A maior amostra anual desde o início da pesquisa

Por meio de formulários online preenchidos pelos integrantes do elenco e da equipe de apoio, a iniciativa verifica se os integrantes da produção refletem a composição da força de trabalho britânica, acompanhando os dados de seis grupos: mulheres, negros e outras minorias étnicas, LGB, transgêneros, maiores de 50 anos e pessoas com necessidades especiais. Esses são os chamados dados reais, informados pelos próprios participantes das produções.

Em outra frente, o Diamond pesquisa também os dados percebidos, que são obtidos por meio das respostas dos telespectadores, e comparam os percentuais dos mesmos grupos com os da composição da população britânica. Desta forma, examinam se os diversos grupos que compõem a audiência se veem refletidos no que vai ao ar.

Nesta última edição, que apresenta os dados reais coletados a partir de 36 mil formulários preenchidos por participantes de produções que foram ao ar entre 1º de agosto de 2019 a 31 de julho de 2020, foram computadas 742 mil contribuições. Cada contribuição refere-se à participação em um episódio ou programa, o que representa a média de 20 participações por respondente. Desde a primeira edição, o Diamond já coletou mais de 1,9 milhão de contribuições.

Produções com menos mulheres, transgêneros e minorias 

Os grupos das mulheres e o dos negros e minorias étnicas diminuíram sua presença tanto nas telas como nos bastidores, mas continuaram com índices acima de sua participação na população e na força de trabalho do Reino Unido.

Se por um lado as produções britânicas da última temporada foram exibidas com menos mulheres, transgêneros e negros e outras minorias étnicas, o mesmo não se pode dizer do grupo LGB. Ele foi o único a conquistar mais espaço no vídeo e nos bastidores, atingindo índices que representam o dobro de sua participação na composição da força de trabalho e da população do Reino Unido.

Nas produções jornalísticas factuais, situação muda 

Considerando as produções factuais, as mulheres permaneceram, como no ano anterior, subrepresentadas nas telas e os negros e minorias, nos bastidores, apesar dos avancos verificados. Inversamente, os negros e minorias continuaram bem representados nas telas e as mulheres, nos bastidores, com índices acima de suas participações na população e na força de trabalho, apesar de pequenos recuos. A participação de negros e minorias diminuiu 1% nas telas das produções factuais e 3,1% nas de current affairs.

Assim como na análise geral de todas as produções, os transgêneros, pessoas com necessidades especiais e os maiores de 50 anos permaneceram sub-representados tanto na frente como por trás das câmeras nas produções factuais. E o grupo LGB foi o único a ter representação na tela e nos bastidores das produções factuais acima de sua participação na população e na força de trabalho do Reino Unido.

Funções dominadas por gêneros

Nos bastidores, algumas funções continuam altamente relacionadas ao gênero, com as mulheres dominando áreas como figurino e especialmente cabelo e maquiagem. Em contrapartida, câmera, som e principalmente iluminação são espaços quase que exclusivamente masculinos nas produções da TV britânica.

Desigualdade no acesso aos cargos mais importantes

As pessoas com necessidades especiais são as mais sub-representadas nos cargos mais importantes, embora tenha crescido um pouco sua participação no último ano. Sua representação é três vezes menor do que sua parcela na força de trabalho britânica.

 

O grupo com maior representação relativa é o LGB, que depois do crescimento no último ano passou a ter uma participação três vezes maior do que sua parcela na força de trabalho nos cargos mais importantes.

As mulheres, os maiores de 50 anos e os negros e outras minorias étnicas viram sua participação nos cargos de chefia diminuir no último ano. Contudo, as mulheres continuam com uma representação alinhada à sua parcela na força de trabalho. Os maiores de 50 anos e os negros e outras minorias étnicas permanecem sub-representados.

Sub-representados na tela e nos bastidores

Metade dos grupos monitorados − os maiores de 50 anos e especialmente as pessoas com necessidades especiais e os transgêneros − apresentou uma sub-representação tanto no elenco como na equipe dos bastidores. O grupo com maior representação relativa é o LGB, tanto na tela como por trás das câmeras.

Com exceção das mulheres e do grupo LGB, todos os demais continuaram no último ano mais sub-representados por trás das câmeras do que na tela.

Os negros e minorias étnicas têm uma situação singular: bem representados na tela, mas sub-representados fora dela. Essa sub-representação agravou-se no último ano e a discrepância ficou mais evidente nas produções dramáticas, infantis e de comédia.

Participação de negros e minorias étnicas diminuiu

A participação de negros, asiáticos e outras minorias étnicas diminuiu na tela e por trás das câmeras nas produções da temporada 2020/2021, embora na tela tenha permanecido com uma representação (21,2%) maior do que sua participação na população britânica (12,8%). Essa diminuição foi causada pela perda de representação dos asiáticos tanto no elenco como na equipe de apoio.

No comparativo das quatro edições anuais realizadas, os negros mantiveram seu percentual do ano anterior tanto na tela como por trás das câmeras. O grupo com maior representação é o que se define como “mixed”, categoria existente desde o censo de 1991 no Reino Unido e que corresponde aos que declaram terem ascendentes de duas ou mais raças.

Participação de mulheres também reduziu

Embora os índices tenham permanecido acima de sua participação na população e na força de trabalho, a representação das mulheres diminuiu no último ano tanto na tela como nos bastidores.

Na tela, os últimos três anos indicam estabilidade. Neste último ano, estiveram bem representadas em todos os gêneros de produções, com exceção das comédias. Já por trás das câmeras nota-se uma tendência de queda ao longo dos quatro anos da pesquisa.

Pessoas com necessidades especiais são as mais sub-representadas 

Houve uma ligeira melhora da participação das pessoas com deficiência tanto nas telas como nos bastidores, mas nada para se comemorar: o grupo continua sendo o mais sub-representado nas produções da TV britânica.

Apesar de representar 18% da população, o grupo teve menos de 10% de participação no elenco de todos os gêneros de produções, à exceção dos infantis (11,9%). Nos bastidores, o grupo é ainda mais sub-representado. Por causa disso, as emissoras participantes do programa assumiram o compromisso de elevar a representação nos bastidores para pelo menos 9% até o final de 2021.

Pessoas com mais de 50 anos continuam sub-representadas

Apesar do aumento verificado no último ano tanto na tela como nos bastidores, o grupo dos mais de 50 anos continuou sendo subrepresentado em relação à sua participação na população e na força de trabalho.

Os grupos de pessoas de 30 a 49 anos foram os mais representados nas produções da TV britânica no último ano, tanto na tela como nos bastidores.

Homossexuais masculinos dominam grupo LGB

Dentro do grupo LGB, de maior representação relativa tanto na tela como nos bastidores das produções televisivas britânicas, os homossexuais masculinos foram os que tiveram a participação mais significativa nos dois setores no último ano.

Tanto na tela como nos bastidores, os homossexuais masculinos tiveram um percentual de participação quatro vezes maior do que os femininos, que também tiveram participação menor do que a dos bissexuais nas duas áreas.

Participação de transgêneros diminuiu

Depois de terem atingido uma representação no ano anterior na tela equivalente à sua participação na população britânica (0,8%), os transgêneros viram esse índice diminuir nas produções do último ano, quando tiveram uma participação significativa apenas nos dramas. Nos bastidores, o índice permaneceu inalterado, mas não alterou sua sub-representação, com apenas 0,2% de participação na equipe de apoio.

Recomendações para garantir igualdade

Com base nos dados coletados, o relatório anual faz recomendações às emissoras participantes. Entre as principais deste ano estão a da melhoria da representação dos grupos sub-representados, especialmente por trás das câmeras, onde esse quadro é mais evidente, além de um programa de treinamento e capacitação para eliminar os estereótipos e a dominância de grupos sobre determinadas funções.

Também foram recomendadas ações urgentes para melhorar o acesso dos grupos sub-representados nos cargos mais importantes das produções da TV britânica, principalmente para as pessoas com necessidades especiais, os negros e minorias étnicas e as pessoas com mais de 50 anos. Os cargos que requerem maior atenção para a mudança desse quadro são os de roteirista e o de diretor.

Com as recomendações realizadas e o acompanhamento anual de sua implantação e efeitos, o programa Diamond busca atingir seu objetivo de garantir que as oportunidades de criar, escrever, produzir ou dirigir sejam iguais para todos, independentemente de raça, gênero, orientação sexual, necessidades especiais, idade ou origem social. É uma tarefa difícil. Mas não impossível, enquanto houver uma preocupação genuína do setor em manter um programa como esse.

 

 

 

 

 

 

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