A pandemia fez estragos até debaixo d’água. Que o digam profissionais e amadores especializados em fotos subaquáticas, privados de viajar para santuários marinhos que são cenário para trabalhos espetaculares. Mas a paixão pela fotografia fez com que as limitações impostas pelo coronavírus não fossem obstáculo para a realização de um dos mais celebrados concursos de fotografia subaquática do mundo, ainda que com algumas adaptações.
Outra novidade foi a criação de uma nova categoria: My Backyard (Meu quintal), destacando os trabalhos realizados sem viagens. Das 130 imagens finalistas, 46 foram produzidas perto de casa.
O Reino Unido tem tradição em fotografia subaquática. O primeiro festival dedicado ao gênero foi em 1965, dando origem à criação da British Society of Underwater Photographers, em 1967.
O UPY acontece desde 2014 e foi criado pelos fotógrafos Alex Mustard, Dan Bolt e Peter Rowlands. Na edição anterior à pandemia, havia atraído um recorde de 5.500 trabalhos de 500 fotógrafos subaquáticos de todo o mundo.
O novo coronavírus fez cair o número de inscrições este ano, mas não a beleza, a poesia e a técnica apurada, que podem ser admiradas em verdadeiras obras-primas. Nestes dias de isolamento, é um verdadeiro presente daqueles que se dedicam a mergulhar fundo (ou raso, em alguns casos) para compartilhar imagens de sonho com quem está em terra firme. Confira.
Grande vencedora do Prêmio Underwater Photographer of the Year 2021 e da categoria Grande Angular
‘Sharks’ Skylight’ – Renee Capozzola (Estados Unidos)
“Esta imagem foi capturada na Polinésia Francesa, um dos meus lugares favoritos para fotografar tubarões, e onde há fortes proteções legais para eles. Durante esta visita a Moorea, passei várias noites na parte rasa ao pôr do sol, na esperança de capturar algo único. Em vez de me concentrar em imagens de níveis separados, como sempre gosto de fazer, decidi tentar algo diferente. Eu imaginei e tive como objetivo capturar os tubarões debaixo d’água com o pôr do sol ao fundo. Foram muitas tentativas, mas nesta noite em particular a água estava calma, o pôr do sol era vibrante e eu tive muita sorte com a composição também, uma vez que muitas espécies de tubarões estão ameaçadas de extinção em todo o mundo.”
Vencedora do Prêmio British Underwater Photographer 2021 e das categorias My Backyard e Grande Angular Reino Unido
‘While You Sleep’ – Mark Kirkland (Reino Unido)
“Malls Mire – uma pequena floresta em Glasgow, entre um bairro residencial, um supermercado e uma fábrica – é um refúgio improvável para a vida selvagem. Com o degelo do inverno, por algumas noites a cada ano, um de seus pequenos lagos lamacentos ganha vida com sapos comuns. Eu os fotografei aqui pela primeira vez em 2018 e desde aquele dia tenho essas imagens na minha cabeça. Demorou mais dois anos antes de eu capturar as pequenas maravilhas que se movem nas noites frias enquanto a cidade dorme. Usar um obturador remoto combinando longa exposição, luz de fundo, grande angular com foco próximo e fotografia dividida significava que eu tinha que abandonar qualquer frustração e tentar (e inevitavelmente falhar) pela centésima vez para acertar. Esta tomada final é o culminar de 25 horas em 4 noites deitado na escuridão, coberto de lama, esperando que os elementos imprevisíveis da natureza se alinhassem. Foi um tempo bem gasto? Com certeza!”
Vencedora do Prêmio Most Promising British Underwater Photographer 2021 e da categoria Up & Coming
‘Tying In’ – SJ Alice Bennett (México)
“Como essa foto foi tirada durante um treinamento em cavernas, tínhamos um plano bem intrincado, que geralmente não é como eu faço as fotos em cavernas. No entanto, o plano falhou, pois um dos alunos, Max, teve várias falhas de equipamento antes mesmo de passar pela entrada da caverna. Os planos são importantes, mas quando eles falham, você precisa se adaptar rapidamente e lidar com a nova situação. Depois de consertar todos os problemas na superfície e mudar nosso plano para acomodar nossos estoques de oxigênio agora muito escassos, descemos novamente. Eu nadei à frente e esperei um pouco além do início da corda principal permanente, observando a equipe nadando em minha direção, seguida de perto pelos assistentes de iluminação criando aqueles lindos efeitos de halo. De repente, tudo ficou alinhado perfeitamente. Então apertei o obturador no momento em que Max se virava para se amarrar na linha principal.”
Vencedora do Prêmio Marine Conservation Photographer 2021 e da categoria Marine Conservation
‘Aerial view of a crowded island in Guna Yala’ – Karim Iliya (Estados Unidos)
“Um vilarejo densamente habitado na costa do Panamá, na região de Guna Yala, serve como um lembrete de como os humanos em todo o planeta estão consumindo terra e espaço em um ritmo rápido. A maioria do povo Guna vive nessas ilhas densamente povoadas, pescando e cultivando cocos nas ilhas próximas. A importância da relação do ser humano com a natureza e a necessidade de protegê-la torna-se muito aparente quando você olha para nossa espécie de uma perspectiva aérea e vê quanto espaço ocupamos. Eu vim para esta região do Panamá para fotografar a arte de fazer a roupa tradicional que o povo Guna usa. Enquanto esperava em um barco, voei meu drone sobre esta ilha para obter essa perspectiva aérea e dar mais impacto à imagem do que eu poderia ter fotografado ao nível do mar ou subaquático.”
Vencedora da categoria Macro
‘Pontohi pigmy seahorse’ – Galice Hoarau (Noruega)
Vencedora da categoria Naufrágios
‘BOWLANDER’ – Tobias Friedrich (Alemanha)
“Devido ao mau tempo em Tiger Beach e em Bimini, tivemos que procurar abrigo perto de Nassau, nas Bahamas, e fazer alguns mergulhos regulares. Este naufrágio foi totalmente novo para mim e uma grande surpresa quando descemos, pois a proa está pendurada quase completamente sobre uma saliência arenosa.”
Vencedora da categoria Comportamento
‘A striped marlin in a high speed hunt in Mexico’ – Karim Iliya (Estados Unidos)
“Esta é uma cena assustadora para os peixes pequenos, fugindo para salvar suas vidas enquanto um marlim listrado os caça. O menor erro significa vida ou morte. Frequentemente, há pássaros caçando de cima e, às vezes, uma dúzia de outros marlins e leões-marinhos atacando de todos os lados. O marlim é um dos peixes mais rápidos do mar, um predador terrível para os pequenos peixes no grande deserto azul. Fui ao México para documentar esse frenesi, mas não esperava uma caçada tão rápida, quase rápida demais para o meu cérebro processar. Por um breve momento, essa cena desenrolou-se diante de mim e eu tive que confiar em todos os meus instintos e em minha experiência para tirar essa foto. Usei luz natural e fiquei na periferia para tentar minimizar a perturbação. Assistir à caça de animais selvagens é um dos maiores espetáculos da natureza.”
Vencedora da categoria Retrato
‘Guardian Deity’ – Ryohei Ito (Japão)
“À medida que os peixes dessa espécie ficam mais velhos, eles mudam de sexo, de feminino para masculino, e ao mesmo tempo desenvolvem um grande caroço na cabeça. Pensei na iluminação e na composição para que a imagem da saliência e do rosto poderoso pudesse ser transmitida. Eles vivem em um santuário debaixo d’água e se parecem com uma divindade guardiã.”
Vencedora da categoria Preto e Branco
‘The Cut’ – Diana Fernie (Austrália)
“Esta fotografia foi tirada em Leru Cut, nas Ilhas Salomão. Tive a sorte de ter ganho uma viagem de dez dias no Solomons PNG Master e estava muito animada por ter a oportunidade de visitar este local novamente. Depois de mergulhar nessas águas em duas ocasiões anteriores, eu sabia o que esperar. No entanto, precisava de um modelo elegante como elemento essencial para esta composição e os meus companheiros de viagem não podiam ser classificados de forma alguma dessa maneira. Felizmente, havia outro fotógrafo no grupo, cuja bela esposa era o modelo perfeito. Um pouco atrevidamente consegui capturar algumas fotos enquanto ela posava para o marido!”
Vencedora da categoria Compact
‘Doule (Kuhlia Rupestris) near the surface’ – Jack Berthomier (Nova Caledônia, França)
“Acostumei-me a pescar no rio para tirar algumas fotos depois das grandes chuvas que fazem o leito subir e causam grandes enchentes. A correnteza do rio é forte, mas ainda possibilita o mergulho livre, apesar dos muitos galhos, plantas e folhas arrebatados. Esse material traz muitas cores, que ressaltam esta carpa nova caledônia incolor muito presente nesses rios.”
Vencedora da categoria Macro (Reino Unido)
‘Portrait of a variable blenny’ – Malcolm Nimmo (Reino Unido)
A espécie blenny (Parablennius pilicornis) é relativamente nova nas águas costeiras do Reino Unido, com sua origem em águas mais ao sul (foi registrada em todo o Mar Mediterrâneo). Ela pode aparecer em várias formas, de cores diferentes. Essa imagem foi tirada em Plymouth Sound, em julho de 2020. Este peixe em particular estava se destacando orgulhosamente em uma saliência de recife, tornando-o um tema ideal. A imagem foi capturada usando iluminação para enfatizar apenas o rosto, com a luz sendo posicionada acima da cabeça realçando as características faciais.
Vencedora da categoria Living Together (Reino Unido)
‘SS Hispania’ – Kirsty Andrews (Reino Unido)
“O Reino Unido, na minha opinião, tem alguns dos melhores naufrágios do mundo, e o SS Hispania no Sound of Mull é um dos meus favoritos. Este naufrágio realmente tornou-se um recife artificial: atrai a vida selvagem e os dois juntos atraem os mergulhadores. Cada centímetro de metal está coberto de anêmonas, algas ou esponjas, em laranja e branco. Meu amigo estava investigando a superestrutura acima de uma fileira de vigias e eu recuei, fotografando o mais aberto que pude para tentar dar uma sensação de escala dentro desta cena colorida.”
Vencedora da categoria Compact (Reino Unido)
‘Sunrise Mute Swan Feeding Underwater’ – Ian Wade (Reino Unido)
“Eu estava observando alguns cisnes no lago local. Eles pareciam estar seguindo as pessoas em busca de comida. Decidi colocar um pequeno peso na parte de trás da minha GoPro e joguei no lago a uma curta distância de mim. O pequeno peso faz com que a GoPro sempre caia de costas, então eu posso fotografar em um ângulo quase vertical. Conectei a GoPro ao meu telefone para poder disparar imagens remotamente. Ao afundar na água, a GoPro atraiu o interesse dos cisnes e eles nadaram. Esperei até que um deles estivesse na posição correta e com a cabeça embaixo d’água. Tirei uma sequência em alta velocidade que me permitiu capturar essa imagem.”
Menções Honrosas – Comportamento
‘Face to Face’ – JingGong Zhang (China)
‘Milk feeding’ – Mike Korostelev (Rússia)
‘Barrel sponge beneath mangroves’ – Alex Lindbloom (Indonésia)
Menções Honrosas – Grande Angular
‘Upside Down’ – Alvaro Herrero (Espanha)
Menções Honrosas – Macro
‘Larval lionfish’ – Steven Kovacs (Estados Unidos)
‘The fastest nudy’ – Fabio Urdino (Itália)
‘Pineaplefish vision’ – Nicolas Remy (Austrália)
Menções Honrosas – Naufrágios
‘Golden Hour at the Georgios’ – Renee Capozzola (Estados Unidos)
‘World War One Submarine U89’ – Rick Ayrton (Reino Unido)
‘Very Wrecked’ – Pekka Tuuri (Finlândia)
Menções Honrosas – Retrato
‘Snooty the lemon shark’ – Galice Hoarau (Noruega)
‘Yellow Dragon’ – Csaba Tokolyi (Hungria)
‘Surprised’ – Filip Staes (Bélgica)
Menções Honrosas – Preto e Branco
‘Prey or Predator?’ – Wayne Lai (China)
‘Ying and Yang’ – Hannes Klostermann (México)
‘Hunting Sea Lion’ – Nick Polanszky (Áustria)
Menções Honrosas – Macro
‘Pelagic Stingray (Pteroplatytrygon Violacea)’ – Isaías Cruz (Espanha)
‘Rainbow Goby’ – ManBd (Malásia)
‘Life Drop’ – Chiara Scrigner (Itália)
Menções Honrosas – Macro
‘Floating Rest’ – Irene Orozco (México)
‘Majestic Dance’ – Severin Pohlmann (Alemanha)
‘Resplendence – Black Browed Albatross’ – Danny Lee (Austrália)