Uma investigação iniciada na semana passada levou Julian Reichelt, editor-chefe do jornal Bild, a pedir em 13/3 seu afastamento até que se chegue a uma conclusão sobre as acusações.
A revista semanal Der Spiegel foi a primeira a noticiar a investigação sobre Reichelt. A natureza das acusações permanece obscura, mas a revista relatou que ele havia sido acusado por algumas funcionárias, incluindo jornalistas, de “abuso de poder”, “exploração de relações de dependência”, coerção e intimidação.
O Die Zeit afirmou que pelo menos algumas das acusações envolviam “má conduta com mulheres” e que Reichelt teria “favorecido funcionárias com as quais tinha relações íntimas, apenas para abandoná-las mais tarde”.
A apuração do caso é acompanhada com muito interesse porque o Bild é controlado pelo grupo de mídia Axel Springer, com mais de 16 mil funcionários em mais de 40 países. Com capital aberto, o grupo é dono de marcas internacionais como o site de notícias financeiras Business Insider, o site de análises econômicas eMarketer e o site Politico.eu, que cobre a política da Europa. Isso além de marcas líderes nacionais, como Die Welt e Die Dame, na Alemanha, e Fakt, o jornal mais lido da Polônia.
Em uma mensagem a seus colegas no fim de semana, Reichelt anunciou que sua decisão de se afastar visava a “contribuir para que a investigação possa avaliar as alegações que foram feitas”. Por enquanto, suas funções serão assumidas por Alexandra Würzbach, editora da edição dominical do Bild.
Editor acusado diz que denúncias partem de quem não gosta do Bild e do que o jornal defende
Julian Reichelt, de 40 anos, é um dos jornalistas mais proeminentes e polêmicos da Alemanha. Ele disse que as acusações são infundadas e que lutaria contra aqueles que querem destruí-lo “porque não gostam do Bild e de tudo o que defendemos”.
O Bild é um tablóide de direita com circulação diária de cerca de 1,2 milhão de exemplares, mas que já chegou a ter mais de 5 milhões na década de 1980. É o tabloide mais vendido não só na Alemanha como na Europa, acima do britânico The Sun, com cujo estilo é comparado. Tem cerca de 25 milhões de leitores por mês em seu site. Veículos concorrentes criticam os padrões do Bild e o acusam de estar empurrando a Alemanha ainda mais para a direita.
Depois que a embaixada chinesa na Alemanha disse que o editorial teria provocado “preconceito e hostilidade contra a China”, Reichelt respondeu dizendo que Jinping pretendia fortalecer a China por meio de uma praga que seu país tinha exportado.Desde o início, a tendência editorial foi conservadora e nacionalista.
Investigação será conduzida por auditores externos
A Axel Springer informou que a investigação será conduzida por auditores externos, com o objetivo de fazer “uma distinção completa entre rumores, pistas e provas”.
Embora afirme não haver evidências claras contra Reichelt, em comunicado assinado por Edda Fels, vice-presidente de Comunicação Corporativa da Axel Springer, o grupo admite que há indícios concretos para a abertura de uma investigação fornecidos pelas pessoas envolvidas:
Grupo completa 75 anos em 2021
Fundado em 1946 pelo jornalista Axel Springer, o grupo que leva seu nome está completando 75 anos. O Bild, criado por Springer em 1952, foi decisivo para a criação de seu império jornalístico. Isso lhe permitiu no ano seguinte comprar o Welt e sua edição dominical Welt am Sonntag no ano seguinte. Em 1956, a edição dominical do Bild também passou a circular. Essas são as capas das primeiras edições do Bild em seu formato diário e dominical:
O Bild nasceu com uma linha nacionalista e conservadora, centrada em imagens (daí o nome Bild, palavra alemã para imagem). A inspiração de Springer foram os tabloides britânicos, misturando fofocas de celebridades, histórias de crimes e tiradas políticas.
A logomarca também segue o modelo “red top”, a marca vermelha no topo que identifica os tabloides ingleses. O Bild logo se tornaria o tabloide mais vendido não apenas na Alemanha, mas em toda a Europa. Durante a maior parte de sua história, o jornal foi baseado em Hamburgo, mas mudou sua sede para Berlim em março de 2008, por considerar uma base mais adequada a um jornal nacional.
Springer faleceu em 1985, e sua viúva, Friede, ainda detém 22,5% das ações do grupo. Em 2019, a empresa norte-americana de private equity KKR tornou-se majoritária, com 35,8% de participação. O CEO Mathias Döpfner também é um importante acionista do Axel Springer, com 21,9% de participação.