Era para ser uma entrevista sobre erros cometidos pela imprensa contra Donald Trump, repercutindo a notícia de que o Washington Post teve que fazer uma correção em uma matéria contrária a Donald Trump.
Mas a conversa entre Jason Miller, ex-assessor do presidente, e o apresentador Howard Kurtz no programa Mediabuzz da Fox News no domingo (21/3) acabou revelando ao mundo os planos de o ex-presidente voltar para as redes por meio de uma plataforma própria, e em grande estilo.
A notícia põe fim às apostas sobre qual rede social abrigaria os seguidores do ex-presidente depois que em janeiro ele foi banido das principais, sobretudo do Twitter, seu canal digital preferido.
Segundo Miller, vai ser “algo grande” e que vai redefinir o jogo das redes sociais, agregando “milhões, dezenas de milhões de pessoas”. E que deve entrar no ar em dois ou três meses.
Para o assessor, será a entrada mais impactante até hoje nas mídias sociais, pois todos vão querer acompanhar o que o ex-presidente vai fazer nas redes.
Questionado se Donald Trump iria criar a plataforma sozinho ou com uma empresa, Miller disse: “Não posso ir muito além do que compartilhei”. Mas disse que ele tem feito muitas reuniões com representantes de diversas empresas importantes em Mar-a-Lago, o resort na Flórida onde passou a viver.
Trumpnet, um nome já registrado
A possibilidade de criar uma rede tinha sido aventada pelo então presidente depois do banimento. Ele chegou a revelar o plano em janeiro, em uma postagem removida em seguida pelo Twitter:
“Temos negociado com vários outros sites, e teremos um grande anúncio em breve, enquanto também olhamos para as possibilidades de construir nossa própria plataforma em um futuro próximo. Nós não seremos silenciados!”
Curiosamente, o nome Trumpnet chegou a ser registrado pelo então empresário Trump em 1990, como aparece noportal Justia. Em uma internet incipiente, restrita e lenta, não era uma rede social o objetivo do registro – abandonado por inatividade – e sim serviços de telecomunicações.
Jornalismo no alvo
Para os jornalistas e veículos que o ex-presidente escolheu como alvos principais de seus ataques a notícia deve ter preocupado. Um levantamento do projeto US Media Freedom mostrou que de 15 de junho de 2015, quando Trump declarou sua candidatura à Presidência, até sua última postagem antes de ter a conta suspensa pelo Twitter, em 8 de janeiro, ele tuitou 24.500 vezes, das quais 2.520 com mensagens contrárias à imprensa.
Isso significa que, em média, o ex-presidente dos EUA tuitou negativamente sobre a mídia mais de uma vez por dia em 5 anos e meio.
Ele notabilizou-se por atacar o jornalismo com termos como “Inimigo do Povo” e “LameStream Media”, apontando a mídia como “corrupta”, “desonesta” e “sem esperança”.
Para fazer as contas, o US Press Freedom Tracker criou um banco de dados dos tuítes antimídia de Trump, base de seu relatório. O documento explica que diversas decisões judiciais estabeleceram que cada um dos tuítes do nome pessoal de Trump, @realDonaldTrump, é uma declaração oficial do Gabinete do presidente dos Estados Unidos.
E quando Trump tentou contornar a suspensão do Twitter postando no @POTUS, o nome oficial do Gabinete do presidente, a plataforma de mídia social removeu esses tuítes também. A conta da campanha Trump, @TeamTrump, foi igualmente suspensa.
O projeto descobriu que em 2020, apesar de um processo de impeachment, uma pandemia global, protestos nacionais generalizados contra a injustiça racial e a derrota nas eleições, Trump postou mais tuítes negativos sobre a mídia do que em qualquer ano anterior. O relatório lista 633 tuítes anti-imprensa durante seu quarto e último ano no cargo.
Chuck Todd, da NBC, foi “homenageado” pelo ex-presidente como o primeiro e o último alvo dos tuítes contra a mídia. Ele insultou Todd pela primeira vez em 12 de julho de 2015, referindo-se ao âncora como “patético” e que ele estava “matando o programa Meet the Press”. Quase cinco anos e meio depois, em 6 de janeiro de 2021, Trump mirou em Todd em seu último tuíte antimídia. “É triste assistir!” ele postou, usando um de seus apelidos, “olhos sonolentos”, para referir-se a Todd.
Ao todo, o US Press Freedom Tracker listou 515 tuítes com insultos a jornalistas individuais e 810 a veículos. A CNN e seus profissionais aparecem no topo da lista, com um total de 310 tuítes. New York Times e MSNBC/NBC ficaram em segundo e terceiro com maior frequência, sendo citados em 289 e 271 tuítes, respectivamente.
Nem mesmo a Fox News escapou. O relatório descobriu que, embora não estivesse entre os três principais alvos, o canal foi um dos favoritos de Trump mesmo durante sua candidatura. E viu-se ainda mais em evidência nos últimos dois anos do ex-presidente no cargo.
As outras redes que abrigam seguidores de Trump
Outras disputam o legado, e devem continuar em evidência. Um relatório divulgado em 22/3 em Londres pela ONG Hope Not Hate mostra que a estratégia de grupos de extrema-direita tem sido a de atuar em várias plataformas, inclusive as menores, com objetivos diferentes.
Desinformação promovida pelo ex-presidente
A volta de Trump para as redes sociais vai preocupar também os que se alarmam com a desinformação nas redes. Em 2020, o então presidente ganhou o título de o maior gerador de notícias falsas sobre a pandemia, concedido pela Universidade de Cornell. E o de presidente do país com a pior gestão da crise do coronavírus entre 105 naçõesavaliadas pela consultoria Brand Finance.