A isenção da imprensa está sendo a primeira vítima no julgamento de Benjamin Netanyahu, que começou na segunda-feira (5/4) em Jerusalém. Illan Yeshua, ex-CEO do Walla!, um site de notícias de grande audiência no país, confirmou no tribunal que foi coagido pelo dono do veículo a fazer matérias negativas sobre adversários do primeiro-ministro e a não publicar críticas sobre ele. 

Nesta terça-feira (6/4) o depoimento continuou. Segundo noticiou o próprio Walla!, o executivo informou à promotoria ter recebido mensagens ameaçadoras depois das declarações feitas no primeiro dia do julgamento de Netanyahu. 

Benjamin Netanyahu responde a acusações de suborno, fraude e quebra de confiança em três processos diferentes. O depoimento de Yeshua foi visto como importante para corroborar a tese de suborno. 

Os promotores disseram que Netanyahu tomou decisões regulatórias no valor de centenas de milhões de dólares que favoreceram negócios de Shaul Elovitch, proprietário do Walla!, em troca de cobertura favorável.

A alegação da promotoria foi referendada pelo depoimento de Ilan Yeshua. Ele confirmou no primeiro dia do julgamento de Netanyahu que recebeu ordens diretas de Elovitch para sumir com matérias negativas sobre o primeiro-ministro. E que também foi orientado a publicar conteúdo atacando rivais de Netanyahu.

Nas declarações de abertura do julgamento, com o primeiro-ministro presente, a promotora-chefe Liat Ben Ari descreveu o que chamou de “caso substancial e sério envolvendo corrupção governamental”.

Ela alegou que o primeiro-ministro fez “uso impróprio do poder do governo para exigir e obter benefícios impróprios dos proprietários dos principais meios de comunicação israelenses, atendendo a interesses pessoais”.

“A relação entre Netanyahu e os réus tornou-se moeda, algo que poderia ser negociado”, disse ela ao painel de três juízes. “Essa moeda pode distorcer o julgamento de um funcionário público”.

Illan Yeshua disse no tribunal que no final de 2012 começou a receber pedidos de Elovitch “para fazer desaparecer artigos negativos sobre o primeiro-ministro e sua esposa e publicar artigos que os beneficiassem”.

Também houve “pedidos para postar artigos contra várias pessoas que eram contra o primeiro-ministro”, afirmou ele, incluindo Naftali Bennett, um ex-protegido de Netanyahu que serviu em seu gabinete de 2013 a 2020.

No depoimento, ele relatou situações em que foi instruído a produzir uma matéria  imediatamente “porque esta semana [o Sr. Netanyahu] tem que assinar algo para mim”, inferindo a troca de favores. 

De acordo com Yeshua, as pressões geraram reação por parte dos editores. Ele citou situações em que o jornalista Yinon Magal, “a quem ninguém chamaria de esquerdista”, saiu furioso de seu escritório, batendo a porta, por não se conformar com os pedidos. 

E que tentou contemporizar dizendo que era uma situação temporária. Ou ponderando com a equipe que a cobertura favorável a Netanyahu era necessária para dar impressão de equilíbrio. 

Segundo a cobertura do Walla!, a mulher de Elovitch contestou as declarações aos gritos dentro do tribunal. 

O primeiro-ministro defende-se dizendo que não recebeu nada de Elovitch e que foi alvo de cobertura negativa pelo Walla!. Justificou as decisões regulatórias que beneficiaram o dono do veículo sob o argumento de que foram validadas por especialistas. 

 

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