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Passam de mil os jornalistas mortos por Covid-19 no mundo

Foto: Ehimetalor Aakhere Unuabona/Unsplash

O mundo superou a triste marca de mil jornalistas mortos por Covid-19. Mais precisamente, são 1037 segundo a última contagem da Press Emblem Campaign, organização sediada em Genebra. 

O Brasil lidera o trágico ranking, com 170 mortes de jornalistas reportadas à organização. Só dois países são citados com mais de 100 profissionais mortos. O outro é o Peru, segundo colocado, com 138.

Dos 10 países com mais vítimas, cinco são da América Latina, que se destaca como a região que concentra mais da metade das fatalidades. 

Um jornalista brasileiro morto por dia em março

Blaise Lempen, Secretário-Geral da entidade, comentou os resultados para o MediaTalks:

“Março foi o pior mês desde o início da pandemia, especialmente na América Latina, com pelo menos 91 jornalistas mortos pelo vírus. A média foi de 3 por dia. Só no Brasil, 30 jornalistas morreram infectados pelo vírus – um por dia.

Esta tragédia precisa acabar. Chegaremos a 1 mil jornalistas mortos pela Covid-19 em 73 países, um número muito alto, o pior depois dos trabalhadores de saúde.”

Para ele, o acesso prioritário à vacina é o mais importante.

“Todos os jornalistas, independentemente da idade, devem ser vacinados o mais rápido possível.”

Jornalistas têm prioridade na vacinação em vários países

Segundo Lempen, a demanda para que os jornalistas sejam priorizados é amplamente sustentada. Ele cita como exemplos alguns países da África. Os governos de Uganda, Somália, Zimbábue e Malaui, decidiram incluir jornalistas entre os primeiros grupos de pessoas na fila para a vacinação contra a Covid-19.

Na Europa, jornalistas são considerados profissionais de linha de frente em muitos países na Alemanha, Irlanda, Holanda e Noruega. A Sérvia também decidiu em janeiro vacinar os jornalistas e outros profissionais da mídia com prioridade.

“Na América Latina, a Federação Nacional de Jornalistas do Brasil (FENAJ), a Associação Nacional de Jornalistas do Peru (ANP) e a Diretoria Central da Associação Uruguaia de Imprensa (APU) recentemente instaram seus governos a considerarem os jornalistas como trabalhadores de linha de frente”, disse o Secretário-Geral. 

Blaise Lempen informou que na Índia, a Press Association pressionou em março o governo a incluir jornalistas credenciados como prioridade para a vacinação contra a Covid-19. E que no Camboja, considerando que a mídia desempenhou um papel vital no combate à pandemia, o primeiro-ministro Hun Sen designou os jornalistas como grupo prioritário para a vacinação contra a Covid-19 em fevereiro. Em Bangladesh, os jornalistas também tiveram prioridade no programa de vacinação. 

Nos Estados Unidos, o Comitê Consultivo sobre Práticas de Imunização (ACIP) do Center for Disease Control (CDC) recomendou que a mídia fosse incluída na lista de “trabalhadores essenciais” que deveriam receber a vacina na Fase 1c. O pessoal da produção de jornais foi incluído na Fase 1 b.

Blaise Lempen referiu-se ainda à necessidade do uso de equipamentos de proteção e dos riscos a que os jornalistas estão submetidos: 

“Os jornalistas estão na linha de frente desde o início da pandemia. Muitos, especialmente freelancers, fotógrafos e cinegrafistas, tiveram que trabalhar no campo e não estavam devidamente equipados. As empresas de mídia não devem forçá-los a sair para o trabalho de campo se isso for perigoso.”

Mais de dois jornalistas mortos por dia desde início da pandemia 

A média de fatalidades em todo o mundo desde o início da pandemia é de 2,5 por dia. Segundo a organização, este é o pior registro de perda de profissionais de imprensa desde a Segunda Guerra Mundial.

Considerando a população de cada país, a situação do Peru é ainda mais dramática para a imprensa. Já nos Estados Unidos, apesar de uma população maior do que a do Brasil, foram 46 mortos. 

Total de mortes de jornalistas pode ser ainda maior

Os dados do PEC dizem respeito apenas a jornalistas que morreram com Covid-19 cujos casos foram divulgados na mídia local, referenciados por associações de jornalismo ou registrados por correspondentes regionais da entidade. Há países em que as informações são censuradas e possivelmente não reportam dados confiáveis. 

Desde o início da pandemia, a Press Emblem Campaign passou a acompanhar o drama dos profissionais de imprensa vítimas da Covid-19. A lista da entidade inclui um perfil de um, como forma de humanizar os números da doença.

O exemplo do Zimbábue

O Zimbábue é um exemplo de país que deu prioridade aos jornalistas. Em um artigo no dia 4 de março, a organização informou que mais de 2 mil profissionais de imprensa entraram para a lista dos primeiros a serem vacinados, junto com 60 mil médicos e integranes de equipes de saúde. 

“O importante de os jornalistas fazerem parte da campanha de vacinação é o fato de eles levarem mensagens a muitas pessoas”, disse Edwin Sibanda, médico que coordena o programa de imunização. “Muitas pessoas confiam nas informações dos jornalistas, eles as consideram autênticas”. 

A matéria destacou o caso de Abigail Tembo, editora de saúde da Zimbabwe Broadcasting Corporation, uma das primeiras a serem vacinadas no país (ela própria na foto):

Foto: Abigail Tembo/redes sociais

“Nós, como jornalistas, somos expostos todos os dias. O repórter, o cinegrafista, o editor,o produtor e o apresentador estão na linha de fogo no que diz respeito ao vírus”, disse ela. 

“Interagimos com muitas pessoas diariamente, mas não temos condições de pedir um certificado de Covid-19 ou fazer verificações de temperatura enquanto conduzimos entrevistas e matérias na rua”. 

Evolução da doença entre jornalistas

O acompanhamento da PEC mostra como a doença veio evoluindo entre jornalistas. Em maio de 2020 o registro já era alto: 64 mortes em 24 países. Em novembro subiu para pelo menos 462 jornalistas de 56 países − um aumento de mais de sete vezes. Nesse mesmo período, o número total de mortes por pandemia em todo o mundo aumentou cinco vezes, de acordo com o Johns Hopkins Coronavirus Resource Center.

“O que me surpreende é que, ao contrário da crença comum, muitos jornalistas morreram relativamente jovens”, disse Blaise Lempen em uma entrevista à Global Investigative Journalism Network.

Segundo Lempen, em países desenvolvidos como Itália, Estados Unidos e Grã-Bretanha, a maioria dos jornalistas que morreram de Covid-19 tinha mais de 70 anos, mas em países em desenvolvimento como Brasil, Índia ou África do Sul eles são mais jovens, a maioria deles na casa dos 50 ou 60 anos.

Os mais jovens e os mais velhos

Um dos mais jovens jornalistas a perder a vida para a Covid foi o brasileiro Taylor Abreu, de apenas 26 anos. Ele morreu em março em Campo Bom, no Rio Grande do Sul, depois de longa internação. Sua mãe tinha morrido nove dias antes. 

E entre as mais velhas está uma referência no jornalismo indiano, Fatima Zakaria. Ela morreu aos 85 anos, no dia 6 de abril. Zakaria foi editora do Mumbai Times e do Sunday Times of India, e nos últimos anos dedicou-se a uma organização não-governamental na área de educação. 

Era mãe de Fareed Zakaria, apresentador da CNN e escritor. Por ironia do destino, o último livro escrito por ele foi sobre a pandemia.

 

Ontem Zakaria postou no Twitter uma homenagem à mãe. 

Navegando no mar de desinformação 

As incertezas em torno da Covid-19 e a desinformação tornam o trabalho da imprensa ainda mais desafiante. Não é apenas o risco de contrair a doença, mas também a dificuldade de informar o público. 

O Knight Center para o Jornalismo nas Américas está oferecendo um curso para ajudar os profissionais que cobrem as vacinas. E o IJNet fez recomendações sobre como melhorar a cobertura e evitar armadilhas. Veja aqui.

 

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