O regime do presidente Alexander Lukaschenko, considerado o “último ditador da Europa”, anunciou nesta segunda-feira (12/4) o banimento da Euronews da Bielorrúsia. A emissora é a líder de difusão de notícias na Europa. O canal é distribuído em treze línguas para mais de 100 países, incluindo o Brasil.

Um comunicado do Ministério do Interior informou que o órgão regulador decidiu não renovar a licença de operação da Euronews. O motivo alegado foi o de que a emissora veiculava anúncios em inglês, em desrespeito à legislação que obriga anúncios em russo ou bielorrusso.

O informe oficial acrescenta que no lugar da Euronews entrará uma programação produzida pela Rússia, sobre a Segunda Guerra Mundial.

Federação Internacional de Jornalistas critica censura

A decisão de banir a Euronews da Bielorrússia, considerada uma censura aos meios de comunicação, foi duramente criticada pela Associação de Jornalistas da Bielorrússia (BAJ), pela Federação Europeia de Jornalistas (EFJ) e pela Federação Internacional de Jornalistas (IFJ).

Em comunicado conjunto distribuído nesta terça (13) em Bruxelas, a IFJ e a EFJ condenaram a proibição da transmissão do Euronews na Bielorrússia como “uma nova tentativa do governo bielorrusso de restringir a liberdade de imprensa e derestringir o direito de seus cidadãos à liberdade de informação”.

50 representações de jornalistas pedem ação contra violações

A IFJ e a EFJ ressaltam que a decisão foi tomada em meio à crescente pressão das autoridades sobre os órgãos de imprensa que operam na Bielorrússia. Dezenas de jornalistas e funcionários da mídia foram presos por cobrirem manifestações antigovernamentais.

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No mês passado, líderes de 50 sindicatos e associações de jornalistas de 34 países europeus exortaram seus governos a tomar medidas em face das constantes violações dos direitos humanos e da liberdade de imprensa na Bielorrússia.

Isolamento da população denunciado por organização humanitária

Ales Bialiatski, líder da Viasna, principal organização humanitária do país, disse que a medida revela “a situação de desespero em que se encontram os meios de comunicação independentes na Bielorrússia”:

“O Euronews permitia aos telespetadores se manterem a par dos acontecimentos europeus. Vai ser agora substituído por um canal de propaganda. A população da Bielorrússia está sendo isolada da informação e é isso o que o regime quer”.

Repressão piorou após eleições consideradas fraudadas

Um grande movimento de protesto abalou a Bielorrússia em 2020. A oposição contesta a reeleição de Lukashenko, no poder desde 1994, considerando fraudulentas as eleições presidenciais de agosto passado.

O movimento reuniu milhares de pessoas nas ruas de Minsk e em outras cidades importantes do país durante semanas. Uma repressão severa fez com que os protestos perdessem lentamente o fôlego. O regime se utilizou de apagões da Internet, violações à liberdade de imprensa e de expressão e atos violentos, que provocaram pelo menos quatro mortos.

Além da detenção de vários jornalistas, alguns dos quais condenados a pesadas penas de prisão, seguiu-se uma campanha de perseguição dos órgãos de imprensa independentes, cujo último ato é o banimento da Euronews. Aguardemos o próximo capítulo.

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