No mundo do jornalismo digital, virou notícia velha a de que um jornal deixou de ser impresso e ficou apenas com a edição online. Isso tem acontecido no Brasil e em boa parte do mundo, sobretudo com a imprensa regional e local.
Mas para provar que toda regra tem exceção, um jornal do País de Gales, no Reino Unido, acaba de fazer o movimento inverso, enchendo de alegria aqueles que se deleitam ao folhear as páginas de papel de verdade. E colocando mais um dado na complexa equação para encontrar a fórmula da sustentabilidade da indústria de mídia.
Com pouco mais de 3 milhões de habitantes, Gales não é um pólo jornalístico cosmopolita como Londres. Mas o The National não é uma pequena empresa local.
Pertence ao grupo de mídia regional Newquest, um dos maiores do Reino Unido, com mais de 120 jornais, que por sua vez faz parte do conglomerado americano Gannett, dono do USA Today e um dos maiores em circulação nos Estados Unidos.
E nem se pode dizer que é falta de concorrência, porque na mesma semana, um outro jornal foi anunciado no País de Gales. Só que no sentido oposto.
O Pembrokeshire Herald, com tiragem de menos de 20 mil exemplares e que quase fechou há dois anos, lançou o site Herald.Wales na sexta-feira (26 de fevereiro), correndo para se antecipar ao The National, que entrou no ar no dia 1º de março.
Se a quantidade de novos títulos for critério para definir o que é um pólo de mídia dinâmico o País de Gales credencia-se facilmente a ser um deles.
Há vagas no País de Gales
A novidade foi anunciada pelo próprio editor, Gavin Thompson, em uma matéria no The National, em que agradeceu aos leitores pelo apoio e pela compra das duas edições iniciais impressas.
Para produzir a edição impressa, o The National está criando quatro empregos: um redator esportivo, dois repórteres e um editor de conteúdo e produção de impressos. O concorrente havia anunciado 10.
Numa abordagem bem original, o editor prometeu aos leitores contratar um editor de política quando o jornal atingir 1 mil assinantes. E passando disso, recrutar repórteres especializados em cultura e meio ambiente. Segundo ele, já são mais de 500 assinantes.
O editor, Gavin Thompson não desdenha do jornalismo digital. Diz que o objetivo de longo prazo continua sendo construir um título de notícias online de qualidade sustentável para o País de Gales, com base em assinaturas digitais.
Mas afirma ter percebido o apetite dos leitores por uma versão em papel, razão para a mudança em relação aos planos iniciais de se concentrar apenas no online.
A redação principal do The National pode ser pequena, mas o Newsquest tem cerca de 50 jornalistas baseados em todo o País de Gales, que passaram a contribuir com o título nacional. Entre os jornais do grupo no país estão o South Wales Argus, The Leader, The Western Telegraph e Barry & District News.
A política na pauta
O grupo Newsquest também é dono do jornal pró-independência escocês The National na Escócia, mas disse que o The National Wales apresenta-se como politicamente neutro, inclusive ao vender assinaturas. Mas a política é tema central da cobertura, às vésperas de uma disputada eleição para membros do Parlamento, em maio, e com o movimento por independência ganhando força.
A principal concorrência é com o grupo adversário Reach, o maior do Reino Unido, dono do site Wales Online e de títulos impressos em galês como Daily Post, Western Mail, South Wales Evening Post e Carmarthen Journal. E com a BBC Wales, principal fonte de notícias em televisão e no online.
O tempo dirá se a opção por um jornal impresso vai se pagar e se tornar viável. O movimento do The National, embora em condições muito particulares, merece ser observado como teste da combinação das várias mídias, sobretudo na imprensa regional.
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