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A contribuição extraordinária de Graciela Iturbide para a fotografia documental

Graciela-Iturbide/Acervo pessoal

“Eu sempre fotografo o que me surpreende”

A afirmação é da homenageada deste ano pelo Sony World Photography Award na categoria Contribuição Extraordinária para a Fotografia, a mexicana Graciela Iturbide, referência em fotografia documental. O prêmio é concedido a uma pessoa ou grupo de pessoas que tenham causado um impacto significativo no meio fotográfico, com imagens inovadoras que possam cativar, educar e inspirar. Conheça a história e o trabalho da fotógrafa reconhecida por retratos em preto e branco enigmáticos e poéticos. 

Do cinema para a fotografia 

Graciela Iturbide nasceu na Cidade do México há 78 anos. Em 1969 se matriculou no Centro de Cinema da Universidad Nacional Autonoma de Mexico com a intenção de seguir a carreira de diretora cinematográfica, mas logo foi atraída pela arte da fotografia, praticada pelo mestre modernista mexicano Manuel Alvarez Bravo, que foi seu professor.

Foto: Perfil Wikipedia/Marshall Astor

De 1970 a 1971, trabalhou como assistente de Bravo, acompanhando-o em suas várias viagens fotográficas pelo México e diz ter aprendido ali a retratar seu país de um jeito único, sempre em preto e branco. “A imagem monocromática torna o assunto mais abstrato, o que me agrada”, explica.

Iturbide já fez exposições em alguns dos museus mais importantes do México, EUA e Europa. E recebeu prêmios internacionais como W. Eugene Smith, Mois de la Photographie, Hugo-Erfurth,  Hasselblad, Prêmio Nacional de Ciências e Artes de 2009 do México e Infinity (concedido pelo International Center of Photography).  A Fundação Hasselblad assim descreveu seu trabalho: 

“Graciela Iturbide é uma das fotógrafas latino-americanas mais importantes e influentes das últimas quatro décadas. Sua fotografia é da mais alta força visual e beleza. Desenvolveu um estilo fotográfico baseado em seu forte interesse pela cultura, ritual e vida cotidiana em seu México natal e em outros países. Iturbide estendeu o conceito de fotografia documental para explorar as relações entre o homem e a natureza, o individual e o cultural, o real e o psicológico. Ela continua a inspirar uma geração mais jovem de fotógrafos na América Latina e além.”

Criação das imagens

 A fotógrafa já criou séries famosas como “Aqueles que vivem na areia” “Frida’s Bathroom”, “Goat’s Dance” e “Imagens of the Spirit”.

Suas fotos – feitas com câmeras de 35 mm e de médio formato, sempre com luz natural- retratam mistério, dor, emoção, poesia, melancolia, morte, arte e história. São geralmente retratos enigmáticos. “Eu tiro uma fotografia para que o público reconheça o assunto. Eu interpreto o que vejo”, diz.

Em entrevista após receber o prêmio , a fotógrafa disse:

“Estou muito feliz e honrada. É  um grande incentivo para continuar fotografando. Com a pandemia, venho trabalhando no meu arquivo e preparando algumas exposições. Infelizmente, não posso sair para fotografar, mas aproveitei a oportunidade para reler alguns livros de literatura e poesia que estão relacionados ou inspiram meu trabalho”.

Ela conta que no início da sua carreira fotográfica teve a oportunidade de visitar comunidades indígenas (os índios Seri e Zapotecas) e assim conheceu melhor o México e suas diferentes culturas, que inspiraram sua fotografia documental. 

©-Graciela-Iturbide-Nuestra-Senora-de-las-Iguanas-Juchitan-Mexico-1979-

“Fotografar é um bom pretexto para conhecer o mundo e a sua cultura. Estabeleci uma relação de cumplicidade com diferentes comunidades e pude e compartilhar suas vidas. Infelizmente, não posso voltar a essas comunidades no momento, devido ao tráfico de drogas e aos muitos perigos que existem agora em meu país. Passei então a viajar para fora do México – para a Itália, Índia, Estados Unidos”.

“Mulher anjo”

Uma das fotos mais emblemáticas de Iturbide foi feita no deserto de Sonora, no México, em 1979. ‘Mulher Anjo’ retrata as costas de uma mulher Seri, vestida com roupas tradicionais, de cabelos longos e soltos, atravessando o deserto de Punta Chueca. Ela parece que vai voar. Observando-se os detalhes, vê-se que ela carrega um aparelho de som portátil na mão direita, um objeto de outro lugar e tempo. A imagem mostra a combinação do tradicional e do contemporâneo e sugere como um antigo modo de vida mudou com a introdução de objetos do capitalismo.

© Graciela Iturbide, Mujer Angel, Desierto de Sonora, México, 1979
As fontes de inspiração

Apaixonada pelo livros de Carson McClullers, romancista americano, pelas poesias do mexicano Octavio Paz e pelos fotógrafos Josef Koudelka, Henri Cartier-Bresson e Manuel Álvarez Bravo, seu mentor, Graciela busca inspiração nessas pessoas para captar a emoção nas suas fotos. 

“Quando faço um retrato o acaso desempenha seu papel. Não preparo com antecedência. A ideia da foto aparece quando estou com a pessoa que estou fotografando. Acho que é o momento em que todos os meus sentidos estão atentos, e que procuro capturar uma boa imagem”.

Galeria de fotos

Graciela escolheu trabalhos de sua carreira de 50 anos de fotografia documental para ilustrar a galeria do Sony World Photography Award. Suas fotos revelam um México imbuído de caráter, cultura e espiritualidade, além de imagens feitas em outros países. 

©-Graciela-Iturbide-La-luna-Roma-Italia-2007

 

©-Graciela-Iturbide-Mexico-City-1969-

 

© Graciela Iturbide, Carnaval, Tlaxcala, México, 1974

 

©-Graciela-Iturbide-Perros-Perdidos-India-1998.jpg

 

©-Graciela-Iturbide-Marcha-politica-Juchitan-Mexico-1984

 

©-Graciela-Iturbide-Novia-muerte-Chalma-Mexico-1990

 

©-Graciela-Iturbide-Magnolia-con-espejo-Juchitan-Mexico-1986

 

©-Graciela-Iturbide-La-nina-del-peine-Juchitan-Mexico-1979

 

Veja também 

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https://mediatalks.com.br/2021/04/27/jornalismo-ambiental-na-era-da-emergencia-climatica/

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