Em mais um baque para veículos de imprensa conservadores americanos que encamparam a tese de fraude eleitoral contra Donald Trump, a rede Newsmax teve que se retratar na sexta-feira (30/4) por ter acusado o diretor de uma empresa de sistemas eletrônicos de adulteração das urnas para prejudicar o ex-presidente.
A organização publicou em seu site uma declaração afirmando não ter encontrado evidências de que Eric Coomer, da Dominion Voting Systems, tenha manipulado as máquinas de votação, o software e a contagem de votos.
“Há vários fatos que nossos telespectadores devem estar cientes. A Newsmax não encontrou nenhuma evidência de que o Dr. Coomer interferiu com as máquinas de votação ou software de votação Dominion de qualquer forma, nem que o Dr. Coomer alguma vez afirmou ter feito isso.
Nem a Newsmax encontrou qualquer evidência de que o Dr. Coomer tenha participado de qualquer conversa com membros da ‘antifa’, nem que ele estivesse diretamente envolvido com qualquer organização política ou partidária.”
Na retratação, a emissora pede desculpas:
Em nome da Newsmax, gostaríamos de nos desculpar por qualquer dano que nosss matérias com alegações contra o Dr. Coomer possa ter causado a ele e à sua família.”
Foi o fim de uma história que começou na TV e espalhou-se pelas redes sociais, com providencial ajuda do filho de Trump, Eric, que postou uma acusação a Coomer com a foto do diretor, incentivando perseguições.
O processo menciona hashtags pedindo que Coomer seja preso e exposto. Em um artigo publicado em um jornal de Denver, ele disse ter sido forçado a fugir de casa e passado a temer pela sua segurança e da família.
O post de Eric Trump (ainda no ar), compartilha uma matéria virulenta contra o funcionário da Dominion publicada pelo site de extrema-direita The Gateway Pundit, em que ele é chamado de sociopata.
Eric Coomer – Dominions Vice President of U.S. Engineering — “Don’t worry about the election, Trump’s not gonna win. I made f*cking sure of that!”
https://t.co/EK8fcEwQIH— Eric Trump (@EricTrump) November 17, 2020
Mas pode haver ainda desdobramentos jurídicos, pois figuras associadas a Trump e também uma outra emissora amiga foram alvo da ação. No processo, que cita a campanha de Trump, Rudolph W. Giuliani e a One America News Network, Coomer alegou que havia sofrido danos à sua reputação, angústia emocional, ansiedade e perda de rendimentos à medida que falsas acusações se espalhavam por todo o país.
Rudolf Giuliani, advogado de Trump, disse em uma entrevista coletiva que Coomer era um “homem perverso e cruel” que estava “próximo da antifa”, segundo o processo.
E Sidney Powell, outro advogado do então presidente, respondeu: “Sim, é verdade”, em uma entrevista à Newsmax quando ele foi questionado se Coomer havia dito: “Não se preocupe com o presidente Trump, já me certifiquei de que ele vai perder a eleição ”, afirma a ação.
A Newmax chegou a estar no radar de Donald Trump para uma possível aquisição, um movimento que o faria ter sua emissora própria, ganhando poderes para controlar o conteúdo inteiramente. A Fox, que o apóia abertamente, perdeu pontos com os seguidores de Trump e com ele próprio depois das eleições, ao ter anunciado a vitória de Joe Biden quando a teoria conspiratória de fraude eleitoral estava em alta.
Segundo o Wall Street Journal, a empresa de private equity Hicks Equity Partners, ligada a um membro do Comitê Nacional Republicano, conversou nos últimos meses sobre a aquisição e investimento na Newsmax.
Percalços da mídia pró-Trump
O episódio com a NewsMax é o primeiro envolvendo a controvérsia de fraude eleitoral que chegou a um desfecho. Os valores pagos ao diretor não foram revelados, mas em seu pedido ele apresentou evidências de danos à imagem, ao trabalho e à vida pessoal.
E a derrota judicial de uma das três emissoras aliadas a Trump – junto com a Fox e a One America News (OAN) acontece em um momento em que a mídia apoiadora do ex-presidente têm sofrido reveses.
A Fox responde a um processo de US 4,5 bilhões movido por duas empresas de sistemas eletrônicos que igualmente sentiram-se prejudicadas por terem sido apontadas como envolvidas em fraude eleitoral.
E o New York Post viu-se na semana passada desmascarado pelo Washington Post por ter publicado uma matéria fabricada sobre a Vice-Presidente Kamala Harris, que acabou custando a cabeça da jornalista.
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