A coalizão #HoldTheLine, formada por mais de 80 veículos ao redor do globo, liderados pelo Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ) e a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), lançou na segunda-feira (3/5), Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, uma campanha inovadora em apoio à jornalista filipina Maria Ressa, fundadora e CEO do Rappler, que pode enfrentar uma vida inteira na cadeia por causa de seu trabalho como jornalista.
A campanha criou o site www.holdthelineformariaressa.com, feito em parceria com a agência de publicidade francesa BETC, que apresenta centenas de vídeos de apoiadores de Resse, em uma live ininterrupta. Os vídeos serão exibidos até o governo filipino retirar todas as acusações e cessar a pressão contra Ressa e o Rappler. A coalização incentiva as pessoas a enviarem seus próprios vídeos por meio do site, que serão adicionados ao stream.
Um dos vídeos da live é de Christophe Deloire, secretário-geral da RSF, que pede apoio à campanha por parte do público.
“Os ataques cruéis do regime Duterte contra Maria Ressa são ataques ao próprio jornalismo e à democracia. Na RSF, temos orgulho de nos solidarizarmos com esta corajosa jornalista e agora pedimos que o público internacional se mobilize em seu apoio, o que poderia fornecer-lhe proteção vital enquanto enfrenta a ameaça crescente de uma possível vida na prisão”.
Do Brasil, Natalia Viana, diretora e fundadora da Agência Pública, também enviou seu vídeo de apoio a Ressa, que foi incluído na live ininterrupta.
“Eu venho acompanhando o corajoso jornalismo de Maria Ressa já há alguns anos. Seu trabalho de investigação cobra dos mais poderosos e ajuda os cidadãos e a sociedade das Filipinas a estarem mais bem informadas, e a serem mais democráticas. Ela é um exemplo para muitas jornalistas mulheres ao redor do mundo. Os ataques contra ela são ataques contra todas nós”.
Entre os apoiadores estão ativistas dos direitos humanos, jornalistas, artistas, advogados e políticos de todo o mundo, como a jurista sul-africana e ex-alta comissária da ONU para os direitos humanos Navi Pillay; Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel de Economia; o ativista da Praça Tiananmen e dissidente chinês Wu’er Kaixi; o jornalista australiano Peter Greste, que já foi preso no Egito; o historiador e autor britânico Timothy Garton Ash; Jon Snow, apresentador de notícias do Channel 4 do Reino Unido; a editora-chefe do The Guardian Katharine Viner; e o membro do Parlamento do Reino Unido, Damian Collins.
Os brasileiros apoiam a iniciativa são, além de Natália Viana, da Agência Pública, Cecília Oliveira, jornalista investigativa e diretora do Instituto Fogo Cruzado; o jornalista, professor e ativista Leonardo Sakamoto; e a repórter e colunista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello.
Sobre Maria Ressa
Pelo menos nove casos estão abertos contra Maria Ressa nas Filipinas. Referência mundial no jornalismo investigativo, ela enfrentou cerca de dez mandatos de prisão em menos de dois anos.
Os processos contra ela incluem três casos de difamação cibernética , bem como acusações fiscais criminais. Ressa foi condenada pela primeira vez por difamação cibernética em junho de 2020, que pode acarretar em uma sentença de seis anos prisão se não for anulada na apelação. Se for condenada por todas as acusações, ela pode enfrentar uma vida inteira na prisão.
Seu trabalho no jornalismo e na luta pela liberdade de imprensa nas Filipinas fez com que ela fosse considerada uma das “Pessoas do Ano” em 2018 pela revista TIME. Neste ano, ela venceu o Prêmio Mundial de Liberdade de Imprensa da Unesco .
Vale lembrar que as Filipinas estão em 138º lugar entre 180 países no ranking de liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras de 2021. O Brasil, por exemplo, caiu quatro posições e está um pouco à frente do país de Ressa, na 111ª posição.
Assista à live:
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