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Emergência climática: linguagem simples e repetição ajudam o público a entender o problema

Foto: Markus Spiske/Unsplash

Você não consegue resolver um problema se não o entende. E infelizmente, principalmente nos Estados Unidos, muitas pessoas ainda não entendem a emergência climática. Esse foi o tema de um artigo de opinião no The Hill, leitura obrigatória para jornalistas que cobrem o clima em todo o mundo.

O artigo é de autoria de dois dos mais afiados comunicadores do clima – Katharine Hayhoe, professora da Universidade de Tecnologia do Texas e cientista-chefe da The Nature Conservancy, e David Fenton, executivo de comunicação de longa carreira – e traz lições essenciais para os jornalistas.

Em resumo, o texto diz que devemos reconhecer o quão pouco a maioria das pessoas entende sobre as mudanças climáticas e ajustar nossa cobertura a esse fato, usando uma linguagem “falada”, mais simples, e tendo o cuidado de repetir o básico.

Hayhoe e Fenton argumentam que a mensagem do presidente norte-americano Joe Biden sobre ação climática, focada na criação de empregos em decorrência de iniciativas de infraestrutura e energia verde, pode ser eficaz, mas, em última análise, é incompleta.

A mensagem do governo Biden pode tornar a ação climática atraente, escrevem os autores, mas não consegue transmitir por que uma transformação rápida em toda a sociedade, como acontece durante uma guerra, é imperativa para nossa sobrevivência coletiva.

Foto: William Bossen/Unsplash

De acordo com pesquisa do Projeto Yale sobre Comunicações sobre Mudanças Climáticas, 26% dos americanos dizem que estão “alarmados” com a mudança climática. Apenas 21% estão cientes de que existe um forte consenso científico sobre suas causas e consequências e 22% dizem que se informam sobre elas pelo menos uma vez por mês. 

Apesar desse quadro, com muita frequência os jornalistas fazem reportagens para aqueles que já conhecem o assunto – isto é, uns para os outros, em um círculo limitado de partes interessadas. Presumimos, erroneamente, que o que escrevemos ou transmitimos foi visto por todos os que importam, os que precisam ver as informações.

Além disso, priorizamos a exclusividade – e talvez, vamos confessar, nossos egos – evitando temas que foram publicados em outro lugar e nos irritamos com a ideia de nos repetir. Em reuniões de pauta, é muito comum ouvir “O Times já fez isso” ou “Outra emissora teve aquele convidado na semana passada”.

Leia também: Da Covering Climate Now, um “pautão” com ideias para abordar como a mudança climática afeta a vida real

Mas a repetição é a chave para perfurar a barreira da sociedade saturada de informações de hoje. Embora sejamos pagos por nossos empregadores, em uma democracia os jornalistas trabalham para o público. E a maioria da audiência não presta tanta atenção às notícias quanto os jornalistas – os leitores precisam que nós os encontremos onde eles estão.

Para fazer isso, Hayhoe e Fenton recomendam o uso de declarações factuais diretas, como:

Foto: Patrick Hendry/Unsplash
  • Quando desenterramos e queimamos combustíveis fósseis, criamos um manto de poluição de carbono ao redor da Terra. Este cobertor de poluição está prendendo calor em nossa atmosfera que, de outra forma, escaparia para o espaço.
  • Esse calor retido causa chuvas mais fortes que acabam com as safras dos agricultores. Ele impulsiona furacões que devastam nossas costas. Isso significa temperaturas mais altas que alimentam incêndios florestais e causam ondas de calor paralisantes, onde nossos filhos não podem brincar ao ar livre. Faz com que o nível do mar suba, o que inundará milhões de lares.
  • Quanto à ciência, 99% dos cientistas do clima concordam: é real, é causada pelo homem, é séria e há soluções que irão beneficiar a todos nós. Quanto mais rápido cortarmos nossa poluição de carbono, melhor estaremos.

Para quem vem cobrindo a mudança climática há algum tempo, os fatos acima e suas implicações podem ser evidentes. Mas não é assim para o nosso público.

Portanto, devemos aproveitar todas as oportunidades para declará-los de forma simples e repeti-los – em todas as matérias, de todos os ângulos, mesmo as que já foram feitas antes.

Isso não é para o bem da agenda de nenhum político. É pelo bem de um planeta habitável e do futuro de todos nós. 


Este artigo foi publicado originalmente na Covering Climate Now, uma colaboração jornalística global destinada a ampliar e aprimorar a cobertura da imprensa sobre a emergência climática. O MediaTalks by J&Cia integra a iniciativa e reproduz o artigo.

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