Durou pouco o blog de Donald Trump. Nesta quarta-feira (2/6), a rede americana CNBC informou que o espaço “Da Mesa de Donald J.Trump”, criado há menos de um mês dentro do site do ex-presidente, estava saindo do ar. O blog tinha sido lançado no 4 de maio como uma plataforma feita sob medida para que Trump se comunicasse com os seguidores fora das redes sociais, das quais está banido desde janeiro. 

A seção fazia parte do principal portal da campanha presidencial derrotada, usado pelo ex-presidente para arrecadar dinheiro e vender os produtos com a logomarca  MAGA – Make America Great Again. 

O nome do blog tinha sido adotado em alusão ao tempo em que ocupava o cargo de presidente, dando a ideia de que ele ainda dirigia o país. E apresentava statements (posicionamentos) “de Donald J. Trump, 45º Presidente dos Estados Unidos”, como se não existisse um 46º presidente, Joe Biden,  sentado na cadeira da Casa Branca.

Jason Miller, assessor sênior de Trump, confirmou à CNBC na quarta-feira que o site “não retornará”. As postagens antigas foram arquivadas como comunicados à imprensa, em uma seção separada do site.

Jornalistas e adversários políticos zombaram cruelmente da notícia, com alguns dizendo que Trump havia “cancelado a si próprio” e destacando a vida curta do blog.

 

Quando o blog foi lançado no mês passado, Miller twittou que o “site seria um ótimo recurso para encontrar” as últimas declarações de Trump, mas que não era ainda sua prometida “plataforma de mídia social”, que estaria sendo planejada.  

O formato do blog era perfeito para gerar compartilhamento, com mensagens no tamanho e no estilo das redes sociais, permitindo que seus seguidores postassem em suas próprias contas – uma forma de contornar o banimento. 

Mas o resultado não foi o esperado. A NBC News chegou a noticiar que o blog obteve apenas 212.000 engajamentos no total, muito menos do que os tweets do ex-presidente.

Na quarta-feira, o escritório de Trump não tinha novos detalhes relacionados à plataforma. No mês passado, o The Wall Street Journal informou  que Trump estaria negociando com empresas de mídia digital  como CloutHub e FreeSpace. 

Burlando as regras das plataformas

O espaço no website para retomar contato online com seguidores havia sido o primeiro passo para cumprir a promessa feita aos apoiadores no dia 15 de janeiro, quando deixou a presidência – a de que voltaria de alguma forma. 

Lançado na véspera do resultado do julgamento do Conselho de Supervisão do Facebook, que decidiu no dia seguinte manter o banimento do ex-presidente da rede social, o blog se tornou ainda mais importante para Trump contornar o bloqueio das plataformas.

Foi de lá que ele adotou seu conhecido estilo virulento para protestar contra a decisão que classificou de “desgraça total”, em uma postagem logo após o resultado. Um banner pedindo apoio passou a recepcionar os visitantes do site depois do veredito.

Ao ser lançado, o blog foi visto como um desafio às regras das redes sociais. Isso porque elas proíbem os usuários de burlar suas suspensões recorrendo a contas alternativas para postar.

Esse recurso já tinha feito com que o Twitter e o Facebook tomassem medidas no início do ano contra a conta de campanha de Trump e a de sua nora, Lara Trump, que estavam sendo usadas com esse objetivo, além da retirada de posts da conta oficial da Casa Branca utilizados para refletir as posições de Trump.                                                                                                

O Twitter disse ao site americano Politico no dia do lançamento da novidade  que o compartilhamento do conteúdo do novo site “Da Mesa de Donald J. Trump” poderia ser permitido, “desde que não violasse as regras da plataforma”. 

Ressaltou, no entanto, que medidas seriam tomadas se os usuários tentarem imitar a conta de Trump ou se sua “única intenção for substituir a conta suspensa”. O Politico não recebeu resposta do Facebook. Talvez alguns usuários tenham ficado temerosos de postar conteúdos, o que explicaria o baixo engajamento. 

“From the desk of Donald Trump”

A primeira a noticiar o novo palanque digital de Donald Trump há um mês tinha sido a emissora conservadora Fox, aliada de longa data, que descreveu a iniciativa como uma “plataforma de comunicação”, embora ela não permitisse interação. 

A emissora disse que a tecnologia parecia ser impulsionada pelo Campaign Nucleus – o “ecossistema digital feito para gerenciar campanhas e organizações políticas com eficiência”, criado pelo ex-gerente de campanha de Trump, Brad Parscale.

Apesar de criado após Trump deixar a presidência, o espaço ‘Desk” reforçava a sensação de “realidade paralela” que o site todo transmite, a de que Trump continua à frente da nação.

Na página de abertura, uma foto do ex-presidente batendo continência é acompanhada da frase “Juntos estamos reconstruindo nossa nação”, com o verbo no presente. 

Aliados prometem nova plataforma digital num futuro próximo

O novo site era um passo pequeno em relação ao muito que se falou sobre quais poderiam ser os próximos movimentos de Trump no mundo digital. Para contornar as proibições das plataformas, ele já sinalizou que pretende lançar sua própria rede social, onde ele mesmo ditará as regras

Também se falou que poderia aderir a plataformas alternativas com políticas de moderação menos rigorosas e por isso mesmo muito populares entre os conservadores, como a Parler.

Perto do poder de fogo do Facebook e seus 2,7 bilhões de membros, o blog que agora saiu do ar era insignificante. Mas Jason Miller, conselheiro sênior de Trump de longa data, tuitou na época que a iniciativa era apenas o começo para o retorno online do ex-presidente em todo o seu esplendor:

“O site do presidente Trump é um ótimo recurso para saber de suas últimas declarações e dos destaques de seu primeiro mandato, mas esta não é uma nova plataforma de mídia social. Teremos informações adicionais sobre esse assunto em um futuro muito próximo.”

A passagem de Donald Trump pela presidência foi marcada por um clima de hostilidade com a imprensa e pela disseminação de fake news associadas ao líder nos primeiros meses da pandemia. O projeto US Press Freedom Tracker contabilizou mais de 2, 5 mil tweets do ex-presidente contra a Imprensa nos cinco anos e meio desde que lançou a candidatura até o fim do mandato, média de um por dia. A Universidade de Cornell apontou-o como o principal gerador de fake news sobre a Covid-19.