A justiça de Manila rejeitou nesta terça-feira (1/6) uma acusação criminal contra a jornalista filipina Maria Ressa. O caso foi encerrado depois que o polêmico empresário Wilfredo Keng retirou sua reclamação contra a profissional e assim inviabilizou o processo movido pelo Estado contra ela.
A equipe jurídica de Keng declarou que “após uma reflexão cuidadosa, o reclamante decidiu redirecionar seu foco para ajudar com a pandemia, em vez de se preocupar com o julgamento deste caso.”
A reclamação do empresário dizia respeito a um tweet que Ressa postou contendo duas capturas de tela da notícias publicadas por outro veículo sobre as atividades de Keng.
A retirada da acusação foi recebida com alívio pelas entidades que se engajaram no movimento para proteger a jornalista, que corre o risco de enfrentar décadas na prisão devido a outros oito processos ou acusações ainda em curso.
The #HoldTheLine Coalition welcomes a Manila court’s decision to dismiss the second criminal cyberlibel charge against American-Filipino journalist @mariaressa.
All other charges and cases against Ressa and @rapplerdotcom must be immediately withdrawn.https://t.co/GMUbxrEZVC pic.twitter.com/x9pgnXy4Id
— Committee to Protect Journalists (@pressfreedom) June 1, 2021
Símbolo de luta contra a censura
Depois de passar quase duas décadas trabalhando como repórter investigativa para a CNN no Sudeste asiático, Maria Ressa fundou o site de notícias Rappler, e desde então se tornou um símbolo mundial de perseguição contra a imprensa.
Em 2018 foi incluída na lista de Personalidades do Ano da revista Time, como membro de um grupo de jornalistas de todo o mundo que combatem a desinformação.
No dia 3 de maio, durante a Conferência Global do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, na Namíbia, recebeu o Prêmio Mundial de Liberdade de Imprensa da UNESCO/Guillermo Cano, que reconhece contribuições pendentes para a defessa ou promoção da liberdade de imprensa, especialmente em situações de perigo.
Ressa sofre com uma campanha contínua de abuso, ameaças e assédio online de gênero, que resultou no recebimento de uma média de mais de 90 mensagens de ódio por hora no Facebook.
Ele foi presa em 13 de fevereiro de 2019 por “difamação cibernética” em meio a acusações de vários casos de notícias falsas e sonegação de impostos corporativos. Em 15 de junho de ano passado, um tribunal de Manila a considerou culpada de difamações em ambiente cibernético.
Sua prisão foi vista pela comunidade internacional como um ato com motivações políticas , já que suas críticas ao presidente filipino Rodrigo Duterte tem sido a principal causa dos seus problemas.
Caoilfhionn Gallagher, da equipe jurídica internacional de Ressa, afirma que, por ter publicado reportagens, sua cliente agora enfrenta uma enxurrada de ações judiciais infundadas que buscam criminalizar seu trabalho e expô-la a um século de prisão:
“As autoridades atacam diretamente Maria e também criam um ambiente favorável que facilita e estimula o abuso de outras pessoas. Por sua vez, o abuso online encoraja as autoridades em sua perseguição contra ela. Na minha opinião, existe uma relação simbiótica entre o abuso que Maria experimenta online e o progresso do assédio legal offline. ”
Hold the Line
No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3/5), a coalizão #HoldTheLine, formada por mais de 80 veículos ao redor do mundo, liderada pelo Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), pelo Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ) e pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), lançou uma campanha em apoio à jornalista.
O site www.holdthelineformariaressa.com, feito em parceria com a agência de publicidade francesa BETC, apresenta centenas de vídeos de apoiadores de Resse em uma live ininterrupta.
Os vídeos serão exibidos até o governo filipino retirar todas as acusações e cessar a pressão contra a jornalista e o Rappler. Qualquer pessoa pode enviar seu vídeo de apoio por meio do site.
A #HoldTheLine cobrou novamente do governo filipino, liderado pelo presidente Rodrigo Duterte, a retirada dos demais casos ainda em curso.
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