Londres â A jornalista PatrĂcia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, foi a escolhida pelo Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo, um dos principais centros de pesquisa da atividade em todo o mundo, para apresentar a conferĂȘncia Reuters Memorial Lectures de 2021, realizada no dia 8 de junho.
PatrĂcia falou sobre Como resgatar o jornalismo na era da mentira.
“Muitos de nĂłs ainda pensĂĄvamos com a velha mentalidade, presumindo que qualquer lĂder autoritĂĄrio tomaria o poder por meio de um golpe de Estado clĂĄssico.
“Nesse contexto, se as condiçÔes do paĂs sĂŁo favorĂĄveis, elas viram ferramentas realmente perigosas para minar a democracia e manipular o debate pĂșblico”.
A jornalista acha que as empresas de mĂdia digital “demoraram um pouco”, mas acabaram percebendo que estavam causando um grande problema e começaram a tomar medidas para mitigar isso.
Ela revelou que no inĂcio as plataformas negavam a existĂȘncia de sistemas automatizados para enviar mensagens em massa sempre que eram confrontados com essa hipĂłtese. Mas depois dos linchamentos na Ăndia e das eleiçÔes de 2018 no Brasil “perceberam que tinham um grande problema de relaçÔes pĂșblicas e seu comportamento mudou”.
A partir daĂ, segundo a jornalista, passaram a agir processando empresas de marketing por mau uso da plataforma e proibindo envio de mensagens em massa.
PatrĂcia considera que o mau uso das plataformas no Brasil e na Ăndia nĂŁo recebeu tanta atenção no passado porque o que acontecia nos Estados Unidos era mais visĂvel, “e hĂĄ uma enorme diferença na forma como eles aplicam suas regras nos EUA e na Europa e no resto do mundo”, afirmou.
“Acho que hĂĄ padrĂ”es diferentes sobre o tipo de polĂtica de moderação que eles aplicam e o quanto se preocupam com o uso indevido de suas ferramentas, dependendo da importĂąncia do paĂs”.
Em sua opiniĂŁo, a gravidade da desinformação sobre pandemia ajudou a reverter o quadro, mas as fronteiras entre saĂșde pĂșblica e polĂtica nem sempre sĂŁo fĂĄceis de estabelecer:
“Em vĂĄrios paĂses, saĂșde pĂșblica e polĂtica sĂŁo tĂŁo misturadas que, ao fazer cumprir as regras de saĂșde pĂșblica, as plataformas entram em questĂ”es polĂticas”.
Ela recomendou aos que se sentem atingidos: ter um amigo ou parente que possa ler todas as mensagens de Ăłdio apenas para verificar se hĂĄ algo perigoso que precisa ser denunciado Ă polĂcia, para que nĂŁo seja necessĂĄrio continuar vendo os ataques:
‘Ă tĂłxico e faz vocĂȘ se sentir gradualmente deprimido”.
Ainda que caiba recurso, a jornalista acredita que a vitĂłria em primeira instĂąncia foi de certa forma um alĂvio, “porque significa que ainda hĂĄ alguma independĂȘncia no judiciĂĄrio, mesmo que esteja diminuindo”.
No entanto, lembrou que nem todos os agredidos tĂȘm o mesmo suporte:
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