MediaTalks em UOL

Diversidade: pavilhão de verão em Londres homenageia migrantes e multiculturalidade

Londres − Inclusão e diversidade são a marca da 20ª edição do tradicional Pavilhão de Verão da galeria de arte Serpentine, inaugurado nesta sexta-feira (11/6) em Londres. O projeto, encomendado ao mais jovem profissional já contratado para criar a obra, a sul-africana Sumayya Vally, é inspirado na arquitetura de locais significativos para as comunidades multiculturais. E pela primeira vez terá fragmentos distribuídos pela cidade, em bairros que concentram grande população de migrantes.

A escolha da arquiteta, de 29 anos, tinha sido feita antes dos protestos desencadeados pela morte de George Floyd, que tomaram conta das manchetes mundiais e alimentaram o debate sobre diversidade e inclusão na sociedade. Mas reflete o alinhamento cada vez maior das instituições culturais com os movimentos sociais, buscando sintonia com o pensamento da sociedade e com o tratamento da mídia e da opinião pública a temas como racismo e feminismo. 

O projeto da Serpentine é um símbolo importante. A estrutura temporária virou ponto turístico e simboliza a abertura da temporada de mostras e eventos do verão londrino. Funciona nos Jardins de Kensington, uma das principais áreas verdes da cidade, onde fica o palácio habitado pelo príncipe William e sua mulher Kate. 

Desde a sua primeira edição, o projeto era entregue a grandes nomes da arquitetura mundial, como Zaha Hadid, Ai Weiwei, Jean Nouvel e Frank Ghery. Desta vez, a criação ficou a cargo de uma profissional de 29 anos. Sumayya Vally dirige o Counterspace, estúdio de arquitetura colaborativa com sede em Joanesburgo, fundado em 2015, que se dedica a projetos interdisciplinares baseados em elementos artísticos e envolvimento das comunidades locais.

 

Sumayya Vally, Counterspace. Fotografada por Justice Mukheli em Johannesburg, 2020. © Counterspace

Ela se inspirou na arquitetura de mercados, restaurantes, locais de culto, livrarias e instituições culturais em áreas de Londres onde vivem minorias étinicas e raciais, como Brixton, Hoxton, Hackney, Tower Hamlets, Edgware Road, Barking and Dagenham, Peckham e Notting Hill.

“Meu trabalho e este Pavilhão estão centrados em amplificar e colaborar com vozes múltiplas e com histórias diversas, associadas a temas de identidade, comunidade, pertencimento e encontro. O ano passado chamou a atenção para essas questões. E me possibilitou refletir sobre a incrível generosidade das comunidades, que têm sido parte integrante deste projeto.”

Serpentine Pavilion 2021 projetado por Counterspace, Vista interior © Counterspace Foto: Iwan Baan

Além da estrutura principal nos Jardins de Kensington, uma das áreas mais sofisticadas da cidade, foram instalados este ano quatro fragmentos do Pavilhão em outras comunidades de migrantes, com o objetivo de promover encontros e interações artísticas informais.

Os locais escolhidos foram a livraria New Beacon Books, em Finsbury Park, uma das primeiras editoras e livrarias para a comunidade negra no Reino Unido; o centro comunitário Tabernáculo, no bairro de Notting Hill; o centro de artes Albany, em Deptford; e a Biblioteca Valence, em Barking and Dagenham. 

Fragmento do Pavihão Serpentine 2021 projetado por Counterspace para a Biblioteca Valence © Counterspace Foto: George Darrell
Migrantes

De acordo com o último censo, de 2019, 14% dos residentes no Reino Unido nasceram fora do país, mas o tamanho da população de origem estrangeira é ainda maior se forem consideradas os filhos de famílias de migrantes. A maior parcela veio da Índia, ex-colônia britânica.

Londres é a cidade que concentra o maior número de migrantes: 35% do total, ou mais de 3,3 milhões de pessoas. Não estão contabilizados os ilegais, apenas os registrados oficialmente. 

Veja também: Fotografia | O olhar de fotógrafos selecionados pela agência Magnun para documentar a justiça social 

Sumayya Vally, que integra a lista das 100 pessoas mais influentes do futuro da revista Time, passou quatro meses em Londres investigando espaços de reunião importantes para os migrantes. Elementos abstratos desses edifícios e também de estruturas já demolidas como parte da modernização da cidade foram combinados para formar as colunas do pavilhão e o mobiliário interno. 

O Pavilhão foi erguido em estrutura metálica, envolta em compensado cortado em CNC. As placas são recobertas com microcimento rosa e cinza. 

Serpentine Pavilion 2021 designed by Counterspace, Design Render, Vista interior © Counterspace

Como todos os pavilhões anteriores, ele será totalmente desmontado no final do verão, quando será realocado e reerguido por seus novos proprietários, uma operadora de Spa. Todo o projeto, incluindo o transporte e remontagem, é carbono neutro. 

Um novo programa de bolsas para jovens artistas também foi anunciado como parte do projeto. Serão apoiados até dez artistas e coletivos em Londres que trabalham na interseção da arte, política e prática comunitária. Eles receberão uma doação de £ 10 mil para desenvolver ideias criativas. 

O Pavilhão ficará está aberto ao público até 17 de outubro de 2021. 

Em 2022, Pavilhão será projetado por um “não-arquiteto” negro 

A diversidade também influenciou a escolha do autor do próximo pavilhão da Galeria Serpentine: Theaster Gates. Diferentemente dos que o antecederam, ele não é um arquiteto, e sim um artista negro de Chicago. Gates é professor de artes na Universidade de Chicago e ativista de causas sociais e do movimento antiracismo. 

Uma de suas mais famosas intervenções urbanas foi a compra de um prédio deteriorado perto de sua casa, na região Sul de Chicago, criando 32 unidades de moradia para artistas em dificuldades financeiras e um espaço para performances. 

Leia também 

Covid-19 e protestos raciais: conheça os ensaios vencedores do prêmio da Associação Britânica de Fotojornalismo

Jornalismo ambiental entra na sua terceira era: a das soluções

Sair da versão mobile