Na batalha entre emojis irritados e felizes, as carinhas vermelhas de raiva estรฃo vencendo. Uma pesquisa realizada pelo laboratรณrio que examina tomadas de decisรฃo na Universidade de Cambridge, no Reino Unido constatou: trollar dรก mais ibope. 

Nรฃo que promover o bem tambรฉm nรฃo gere engajamento. Mas ao coletar e examinar quase 3 milhรตes de posts no Facebook e no Twitter, o estudo do Departamento de Psicologia apontou que o engajamento gerado por crรญticas supera em duas vezes o compartilhamento de notรญcias positivas.

O estudo analisou publicaรงรตes feitas pela imprensa e por congressistas dos Estados Unidos. A partir das mรฉtricas geradas, ficou claro que, quando um post estรก atacando um grupo adversรกrio (exemplo: polรญtico de esquerda criticando polรญtico de direita, ou vice-versa), o compartilhamento รฉ maior do que uma manifestaรงรฃo de apoio ao prรณprio partido, por exemplo.

Nรฃo se trata de pouca motivaรงรฃo. Segundo o estudo britรขnico, โ€œcada termo se referindo ao grupo oponente aumenta em 67% a probabilidade de este conteรบdo ser compartilhadoโ€.

“Nรณs contra eles” gera mais engajamento

A linguagem que estimula a exclusรฃo, o famoso โ€œnรณs contra elesโ€, se mostra um combustรญvel implacรกvel se o objetivo รฉ viralizar. Essa postura de divisรฃo supera o discurso de apenas criticar. E tambรฉm a retรณrica moral-emocional, de acordo com a pesquisa britรขnica.

Uma vez que o discurso รฉ o do ataque, as reaรงรตes dominantes nรฃo poderiam ser diferentes: o emoji expressando raiva (carinha vermelha) foi o mais usado em todos os posts observados pela equipe de Cambridge, fossem crรญticos ou nรฃo. Olhando apenas para as publicaรงรตes de espรญrito mais fraterno, digamos, a reaรงรฃo que predomina รฉ o โ€œameiโ€ (coraรงรฃozinho).

Quando examinados separadamente o efeito do que publicam polรญticos e imprensa nas redes sociais, o primeiro grupo engaja mais, aponta o estudo. Mas isso pode ter um efeito-rebote: o Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo apontou que os brasileiros consideram atรฉ os desconhecidos fontes mais confiรกveis de informaรงรตes sobre a Covid-19 do que os polรญticos. 

Apesar do sucesso de engajamento verificado, a raiva como motor das redes sociais se coloca obviamente com algo alarmante, como destaca a pesquisa: “Em suma, a “linguagem do grupo externo” [que ataca o rival] รฉ o preditor mais forte de envolvimento da mรญdia social em todos os preditores relevantes medidos, sugerindo que a mรญdia social pode estar criando incentivos perversos para conteรบdo que expressa animosidade”.

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