O presidente Jair Bolsonaro entrou para a lista dos predadores da liberdade de imprensa, compilada pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que reúne 37 chefes de Estado ou governo que reprimem maciçamente a liberdade de imprensa.
Sobre o presidente brasileiro, a RSF afirma que a “retórica agressiva e rude [de Bolsonaro] sobre a mídia atingiu novos patamares desde o início da pandemia”.
Assim como Bolsonaro, quase metade (17) dos predadores fazem sua primeira aparição nesta lista de 2021, que a RSF publica cinco anos após a última, de 2016. A primeira edição da lista ocorreu em 2001 (veja a lista de 2021 completa mais abaixo).
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Alguns dos líderes ranqueados estão há mais de duas décadas em atividade, enquanto outros acabam de entrar na lista, que pela primeira vez inclui duas mulheres e um predador europeu.
Segundo a organização, “todos são chefes de Estado ou de governo que espezinham a liberdade de imprensa criando um aparato de censura, prendendo jornalistas arbitrariamente ou incitando à violência contra eles, quando não têm sangue nas mãos porque, direta ou indiretamente, pressionaram para que jornalistas fossem assassinados”.
Veja a seguir o resumo da RSF sobre Bolsonaro
Autoproclamado “candidato antissistema”, Bolsonaro avançou usando redes sociais, onde sua retórica e ideias ressoam amplamente, contornando a mídia tradicional. Desde que assumiu o cargo, o trabalho da imprensa brasileira tornou-se extremamente difícil. Seu estilo de marca registrada é insultar, denegrir e humilhar jornalistas considerados muito críticos. Para ele, a imprensa “não serve para nada” e equivale a “rumores e mentiras permanentes”.
Sua retórica combativa e desbocada é ampliada por membros de seu círculo e por uma base bem organizada. Desde 2018, o presidente, sua família e sua comitiva aprimoraram um sistema altamente eficiente. Nas redes sociais, exércitos de suportes e bots retransmitem e amplificam ataques destinados a desacreditar a imprensa, que é retratada como inimiga do Estado.
Um dos alvos preferidos da família Bolsonaro é a Rede Globo de TV, descrita como “TV funerária”, porque ousou informar os brasileiros sobre a propagação da pandemia Covid-19 e o número de mortes ligadas ao vírus. Em 2020, a RSF registrou mais de 180 ataques contra a Globo, que foi acusada de querer “trair” e “destruir” o país.
A rede está ameaçada de não renovação da sua frequência de transmissão em 2022. No terreno, os seus jornalistas, especialmente aqueles que cobrem a Presidência em frente ao palácio presidencial da Alvorada, são frequentemente apontados, humilhados e agredidos, por vezes com violência, por apoiadores da família Bolsonaro.
Ataques sexistas e misóginos contra jornalistas mulheres também são uma marca bolsonarista. Inúmeras mulheres jornalistas, como Patricia Campos Mello, foram atingidas por ataques sexistas e devem trabalhar em condições terríveis, sob ataque de linchamentos digitais de partidários do presidente.
Desafio é líderes pagarem o preço por seu comportamento, diz RSF
Os “predadores” governam, em sua imensa maioria, países com situação classificada como “ruim” ou “muito ruim” pelo mapa da liberdade de imprensa da RSF. A idade média dos integrantes da lista é de 66 anos e mais de um terço (13) desses governantes vêm da Ásia.
“Existem agora 37 líderes de todo o mundo na galeria de predadores da liberdade de imprensa da RSF e ninguém poderia dizer que esta lista é completa”, disse o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire.
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“Cada um desses predadores tem seu próprio estilo. Alguns impõem um reino de terror emitindo ordens irracionais e paranoicas. Outros adotam uma estratégia cuidadosamente construída com base em leis draconianas. Um grande desafio agora é esses predadores pagarem o preço mais alto possível por seu comportamento opressor. Não devemos permitir que seus métodos se tornem o novo normal”, afirma o chefe da organização.
Príncipe árabe e líder húngaro estão entre “novatos”
Para a RSF, “o mais notável” dos novos participantes da lista é, sem dúvida, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. Seus métodos repressivos, relata a organização, incluem espionagem, ameaças, sequestro e tortura, com destaque para a morte do repórter Jamal Khashoggi, assassinado após entrar em um consulado saudita na Turquia.
O primeiro-ministro europeu, o húngaro Viktor Orbán, é apontado como um chefe de Estado que vem minando de forma “constante e eficaz” o pluralismo e a independência da mídia desde que voltou ao poder na Hungria, em 2010.
Chefe da região de Hong Kong figura entre “predadoras”
As duas primeiras mulheres predadoras são ambas asiáticas.
Uma é Carrie Lam, que chefia um governo que ainda era democrático quando assumiu. Chefe executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong desde 2017, Lam provou ser um fantoche do presidente chinês Xi Jinping e agora apóia abertamente suas políticas predatórias em relação à mídia.
A repressão chinesa levou ao fechamento do principal jornal independente de Hong Kong, o Apple Daily, em 24 de junho, e à prisão de seu fundador, Jimmy Lai, laureado pela liberdade de imprensa da RSF em 2020.
Outra governante da lista é Sheikh Hasina, primeira-ministra de Bangladesh desde 2009 e filha do herói da independência do país. Suas façanhas predatórias incluem a adoção de uma lei de segurança digital em 2018 que levou mais de 70 jornalistas e blogueiros a serem processados.
“Velhos frequentadores” da lista
Alguns dos predadores estão nesta lista desde que a RSF começou a compilá-la, há 20 anos.
O presidente da Síria, Bashar al-Assad, e Ali Khamenei, o líder supremo da Revolução Islâmica do Irã, estavam na primeira lista, assim como dois líderes da região da Europa Oriental e da Ásia Central, Vladimir Putin da Rússia e Alexander Lukashenko da Bielo-Rússia, cuja inventividade predatória recente ganhou ainda mais notoriedade.
Ao todo, sete dos 37 líderes da lista mais recente mantiveram seus lugares desde a primeira lista RSF publicada em 2001.
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Três dos predadores históricos são da África, a região onde eles reinam por mais tempo.
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, 79, é presidente da Guiné Equatorial desde 1979, enquanto Isaias Afwerki, cujo país ocupa o último lugar no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2021, é presidente da Eritreia desde 1993.
Paul Kagame, que foi nomeado vice-presidente de Ruanda em 1994, antes de assumir a presidência em 2000, poderá continuar governando até 2034.
A RSF publicou também a lista Predadores da Liberdade de Imprensa Digital em 2020 e planeja publicar uma lista de predadores não estatais ainda neste ano.
Veja a relação de “predadores” completa
- Abdel Fattah AL-SISSI – Egito
- Alexander LUKASHENKO – Bielorrússia
- Ali KHAMENEI – Irã
- Bashar AL-ASSAD – Síria
- Carrie LAM – Hong Kong
- Daniel ORTEGA – Nicarágua
- Emomali RAKHMON – Tajiquistão
- Gotabaya RAJAPAKSA – Sri Lanka
- Gurbanguly BERDYMOUKHAMMEDOV – Turcomenistão
- Hamed bin Isa AL KHALIFA – Bahrein
- HUN SEN – Camboja
- Ilham ALIEV – Azerbaijão
- Imran KHAN – Paquistão
- Ismaïl Omar GUELLEH – Djibouti
- Issaias AFWERKI – Eritreia
- Jair BOLSONARO – Brasil
- KIM Jong-un – Coreia do Norte
- LEE Hsien Loong – Cingapura
- Miguel DIAZ-CANEL – Cuba
- MIN AUNG HLAING – Mianmar
- Mohamed BIN SALMAN – Arábia Saudita
- Narendra MODI – Índia
- NGUYEN Phu Trong – Vietnã
- Nicolás MADURO – Venezuela
- Paul BIYA – Camarões
- Paul KAGAME – Ruanda
- Prayut CHAN-O-CHA – Tailândia
- Ramzan KADYROV – Rússia
- Recep Tayyip ERDOGAN – Turquia
- Rodrigo DUTERTE – Filipinas
- Salva KIIR – Sudão do Sul
- SHEIKH Hasina – Bangladesh
- Teodoro Obiang NGUEMA MBASOGO – Guiné Equatorial
- Viktor ORBÁN – Hungria
- Vladimir PUTIN – Rússia
- XI Jinping – China
- Yoweri MUSEVENI – Uganda
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