Donald Trump ainda não cumpriu a promessa de criar sua própria rede social, mas um aliado acaba de fazer isso por ele. A novidade chama-se Gettr — uma abreviatura para Getting Together (ficando juntos) — e foi oficialmente lançada no dia 4 de julho por Jason Miller, porta-voz do ex-presidente na Casa Branca que continua falando por Trump na mídia e nas redes sociais. 

Honrando a tradição da presença de Trump nas redes sociais, a novidade que se apresenta como um espaço conservador e com liberdade de expressão já entrou no radar da First Draft, que monitora fake news globalmente.

Em um comunicado emitido na segunda-feira (5/7), a agência apontou que o mito da eleição roubada, repetido diversas vezes por Trump durante o pleito americano, virou tema central na plataforma, que também abriu espaço para perfis ligados ao movimento QAnon.

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A “rede de Trump”?

Não há informações de que a Gettr seria do ex-presidente, mas no Twitter seus seguidores se referem a ela como “a rede social anunciada pelo Trump”, ou “a rede de Trump”, que foi ao ar pelas mãos de seu assistente. 

A promessa é de um ambiente sem moderação, sem cultura do cancelamento, sem censura, de direita, feito para os conservadores e com liberdade de expressão. A aparência lembra a do Twitter.

A Gettr já teria mais de meio milhão de inscritos. Na manhã de terça-feira, exibia um aviso de lentidão no sistema devido ao número alto de inscrições. Entre os perfis destacados estão os da rede de TV conservadora Newsmax e do ex-vice-presidente Mike Pompeo.

A rede não tem uma versão em português, mas isso não impediu que o Brasil aderisse à novidade. Por redes sociais como o Twitter, vários brasileiros disseram que se cadastraram e estão convidando seguidores a fazê-lo. 

O presidente Bolsonaro está entre eles, assim como seus filhos Eduardo e Flávio e a mulher, Michele. Em seu perfil, o presidente posta informes sobre atos do governo (como a prorrogação do auxílio emergencial) e faz comentários como uma defesa de policiais atacados, em que critica a suposta indiferença da “grande mídia”.

Perfil do presidente Bolsonaro no Gettr. Foto: reprodução/Gettr
Hackeada no primeiro dia 

A Gettr estreou aos solavancos. Depois de entrar no ar em versão de testes na última quinta-feira (1/7), acabou sendo hackeada no dia do lançamento oficial, que coincidiu com data em que se comemora a Independência americana.

Usuários mais populares, sobretudo ex-assessores de Trump como Mike Pompeo, Steve Bannon, Marjorie Taylor-Greene, Hrlan Hill e a emissora Newsmax, tiveram suas contas comprometidas.  O próprio Jason Miller teve sua conta retirada do ar.

O hacker mudou os perfis dos atingidos, que passaram a exibir o texto “@JubaBaghdad was here:) ˆˆfree palestineˆˆ”.

Perfil ligado a Steve Bannon impulsiona teoria enganosa

Segundo a First Draft, contas afiliadas ao grupo QAnon, de cunho negacionista e conspiracionista, postaram falsas alegações de que Trump venceu a eleição de 2020 e teorias sobre seu “retorno iminente” à Presidência dos Estados Unidos (EUA). 

A First Draft aponta afirmações semelhantes verificadas em post no Gettr do perfil verificado do podcast War Room, de Steve Bannon, apontado como um dos idealizadores da campanha vencedora de Trump em 2016.

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A postagem afirma que era importante “esclarecer o que aconteceu no dia 3 de novembro” junto com a hashtag #StolenElection. 

Links para vídeos que pretendem mostrar cédulas de 2020 sendo manipuladas ou destruídas em vários estados dos EUA também foram curtidos quase 2.000 vezes no Gettr.

Perfil no Gettr de podcast de Steve Bannon. Foto: reprodução/Gettr
Trumpistas apostam em nova contagem de votos

Postagens compartilhadas sob a hashtag #ArizonaAudit focam em supostas fraudes no processo de contagem de votos no condado de Maricopa, no Arizona, citando relatórios da One America News Network e do The Conservative Brief, veículos que publicam regularmente teorias da conspiração, aponta a First Draft. 

Os dois artigos disseram aos leitores que esperassem “discrepâncias significativas” entre a contagem original das cédulas do condado de Maricopa e uma nova auditoria, dando crédito a Sonny Borrelli, um membro republicano do Senado do Arizona.

Auditorias anteriores no Arizona foram concluídas e nenhum problema foi descoberto. 

“Este último processo, no entanto, está sendo conduzido por uma empresa sem experiência em eleições liderada por um CEO que espalhou teorias de conspiração relacionadas a eleições”, escreveu um repórter da NPR (National Public Radio) no mês passado. 

A auditoria atual ainda não emitiu nenhuma conclusão e o processo ainda está em andamento, de acordo com o The Washington Post.

*colaborou Marco Britto

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