Não foi um concurso, com vencedores e prêmios. Ao criar o projeto colaborativo Depois de Abril, em junho de 2020, dois meios de comunicação independentes de Cuba tiveram como objetivo capacitar e estimular fotógrafos amadores e profissionais a documentar de forma criativa e humana o isolamento social imposto pelo coronavírus.
O país passa por grande convulsão social após protestos generalizados no último fim de semana, com registro de agressões a jornalistas, e manifestantes revelando a insatisfação popular com a condução da pandemia, entre outros fatores. Cuba produziu sua própria vacina, mas a distribuição do imunizante estaria acontecendo de forma precária.
O projeto foi realizado pela revista digital cubana Periodismo de Barrio em conjunto com a plataforma de jornalismo independente eITOQUE, com apoio da ONG Voices Latinas. Mais do que simplesmente submeter fotos, como em concursos, os participantes apresentaram suas ideias.
O convite dizia:
“Pense em uma imagem que teve um impacto sobre você durante esta fase ou que descreve como você e os seus viveram a crise de saúde causada pelo Covid-19 – uma imagem da qual você poderá se lembrar por muito tempo.”
Os 70 fotógrafos aceitos pelos curadores do Depois de Abril passaram a trocar experiências, compartilhar seus trabalhos e a receber orientação técnica de dois consultores, Amarilis Magaña e Sadiel Mederos, sobre composição e edição fotográfica.
O resultado do esforço é um acervo composto por mais de 500 imagens capturadas em diversas partes do país, construindo uma história visual do impacto da Covid-19 sobre Cuba – que não é tão diferente do impacto em tantos outros locais do mundo. Ao final, 24 imagens mais representativas foram selecionadas e exibidas virtualmente nas plataformas.
Em abril de 2021, uma nova rodada do projeto foi anunciada, aberta a cubanos e estrangeiros.
Uma seleção das imagens da primeira etapa pode ser conferida aqui. Elas mostram esperança, desesperança, poesia, o amor que vence as dificuldades e cenas comuns que depois da pandemia se tornaram raras e especiais. Foram feitas em Cuba, mas são universais.
A “GRIFE” COVID
Por Randy B.
Para o fotógrafo, o nome Covid na máscara de um adolescente em uma rua deserta em Havana remeteu às peças de grife usadas pelos jovens que enchiam as animadas ruas da cidade antes da pandemia. Nenhuma marca teve tanta exposição nos últimos meses.
ANJOS DE MÁRMORE
Por Raimel Fernandez
No meio da crise da Covid-19, Fernandez conheceu essas estátuas de anjos. E enxergou nas manchas causadas pela deterioração uma lágrima escorrendo do rosto de um deles.
ENTARDECER
Por Josue Corujo
BORDADO
Por Roger TM
A técnica de bordar, aprendida na infância, continuou viva nos tempos de isolamento social para essa mulher solitária e melancólica.
Inscreva-se aqui para receber gratuitamente em seu email a Newsletter MediaTalks, com alertas sobre novos ensaios fotográficos e notícias internacionais sobre jornalismo, plataformas digitais, informação e desinformação.
JARDIM JAPONÊS
Por Luisma del Valle
O que era comum antes da pandemia tornou-se um momento especial e raro a ser documentado depois das restrições ao movimento: um passeio no Jardim Japonês do Jardim Botânico de Havana, reunindo um grupo de amigos que sempre gostaram de expedições.
APANHADOR DE SONHOS
Por Gabriela Molina
Com saudades de suas viagens ao campo, a fotógrafa interpretou o simples pouso de uma mariposa como uma “visita da natureza”.
TERRAÇO
Por Amarilis Magana
A vista do céu azul decorado por nuvens brancas através de uma antiga antena de TV foi a imagem escolhida por Magana para lembrar que os meses de confinamento foram mais duros para aqueles que não tinham belas vistas de suas janelas.
COTIDIANO
Por Dani Cervantes
A mulher cabisbaixa caminhando pela célebre Calle Tejadillo, em Havana Velha, foi para a fotógrafa uma visão do cotidiano em tempos de Covid-19.
TV
Por Amanda Santana Rizo
Esta foto foi tirada durante a fase 1 em Vedado, Havana. A fotógrafa contou que gostava de pedir pizza de casa. E que a pandemia permitiu apreciar essas pequenas liberdades sob uma outra perspectiva.
Leia também: Brasileiros confiam mais em desconhecidos do que em políticos para se informar sobre a Covid-19
PARDAL
Por Pedro Sosa Tabio
O isolamento fez muitos verem o mundo de outra forma e observar detalhes em coisas simples. O pardal pousado no muro em uma tarde representou para Tabio a beleza do comum.
GALÁCTICA
Por Miguel Hinojosa
Pode ser um pardal no muro, ou até a lua em uma bolacha. Hinojosa foi outro que expressou sua visão da pandemia com uma captura exemplificando como o confinamento fez prestar mais atenção nos pequenos detalhes do cotidiano.
AVÓ MODISTA
por Josue Corujo
Durante a pandemia que levou entes queridos ou impediu encontros familiares, o fotógrafo manifestou sua alegria pela chance de retratar sua avó. “Tê-la perto nestes meses é um presente imenso”.
LACUNA
Por Gabriela Molina
O desespero do confinamento foi traduzido por Molina em uma imagem forte e dramática, de alguém que está prestes a afundar. “Estar trancada em casa às vezes é como olhar para um poço sem fundo”, disse.
DEPOIS DA SUA PEGADA
Por Randy B.
Mas nem tudo foi desespero. Randy B produziu com a namorada o que chamou de uma foto pessoal, pois são os pés dela. Eles simularam a chuva com uma mangueira de jardim para simbolizar o enfrentamento dos desafios. “A imagem é uma representação: ela caminhando e meu olhar sempre atrás dela, independentemente das dificuldades da vida”.
GATO
Por Randy B.
O mesmo fotógrafo também observou sinais de um tempo em que tudo ficou diferente. “Eu tirei essa foto na Velha Havana. Ela mostra um gato em um papel que é geralmente atribuído aos cães, cuidando da casa. A imagem representa esses tempos de pandemia”.
MUDANÇA
Por Anniet Forte
Uma cena tão normal, a de um caminhão sendo descarregado, passa a ser vista de outra forma. Forte utilizou-a para simbolizar a ansiedade criada pela quarentena. “Você olha pela janela e tenta entender o que mudou, mas o mundo continua o mesmo.”
GIRASSÓIS
Por Josue Corujo
Não foi fácil e continua não sendo fácil. Mas Corujo viu nos girassóis a esperança de tempos melhores.
“No último ano, os girassóis foram para mim um símbolo de amor e resistência”.
Veja também
https://mediatalks.uol.com.br/2021/06/19/usuarios-de-redes-preferem-remocao-de-discurso-de-odio-do-que-de-palavroes/