Em mais uma condenação a profissionais de imprensa, o Vietnã sentenciou Pham Chi Thanh, ex-editor de uma rádio estatal Voice of Vietnam, a cinco anos e seis meses de prisão por disseminação de propaganda contra o Estado.

No início do mês, o jornalista independente Le Van Dung, proprietário da CHTV, também foi preso após veicular reportagem crítica à realidade social do país. O governo chegou a anunciar em rede nacional a busca pelo comunicador.

Frequentemente o poder central se baseia nos termos do Artigo 117 da Constituição do país comunista, que criminaliza “a criação, armazenamento e divulgação de informações, documentos, itens e publicações que se opõem à República Social do Vietnã”. Outros jornalistas já foram detidos desta forma.

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Thanh, que está preso desde maio de 2020, ainda terá cinco anos de liberdade condicional após cumprir pena. Para condená-lo, o tribunal alegou que o jornalista tinha “informações distorcidas que causaram preocupação social” em sua página no Facebook e deu entrevistas a veículos de comunicação estrangeiros.

Jornalista foi filiado ao Partido Comunista por 41 anos e passou a se opor ao regime

A Federação Internacional de Jornalistas disse que “condena o uso desta legislação pelo governo do Vietnã para intimidar jornalistas e desrespeitar a liberdade de imprensa”.

Após 41 anos de filiação, Thanh passou a se opor ao Partido Comunista do Vietnã, defendendo um sistema democrático na região.

Em uma entrevista à Voice of America em 2019, Thanh disse:

“Eu acompanhei o Partido e o Estado [Comunista] por 41 anos. Agora, olhando para trás, descobri que nossa nação retrocedeu em todos os sentidos. Qual é a causa? A razão é que não temos democracia. A razão é que o Partido Comunista mantém uma ditadura! Eu luto contra a ditadura comunista!”

O advogado de Thanh, Ha Huy Son, falou que o jornalista “rejeitou a acusação, dizendo [no tribunal] que ele não infringiu a lei”.

Governo fez “caçada” a apresentador no fim de maio
O jornalista Le Van Dung. (Reprodução/Facebook)

Le Van Dung, também conhecido como Le Dung Vova, é outro caso recente da ação do Estado contra a liberdade de imprensa. Apresentador e coordenador de um canal de notícias baseado em vídeos divulgados em redes sociais, ele foi preso em 1º de julho em Hanói, capital do país, após uma tentativa frustrada de prendê-lo em sua casa, em 25 de junho.

Em 1º de junho, autoridades vietnamitas emitiram um mandado especial pedindo a prisão de Dung, publicando avisos na mídia nacional.

A CHTV, canal de Dung, divulgou informações em uma transmissão ao vivo no Facebook relacionadas a disputas de terras e corrupção em andamento, alertando as pessoas para essas questões e abrindo um canal para discussões, o que chamou a atenção das autoridades.

Blogueira foi condenada a oito anos de prisão em abril

Em abril, outros três jornalistas independentes do Vietnã foram presos e podem ser condenados a sete anos de prisão cada um, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF). A página de Facebook da publicação para a qual os repórteres colaboravam, que havia ultrapassado 100 mil seguidores, foi bloqueada.

No mesmo mês, a blogueira Tran Thi Tuyet Dieu foi condenada a oito anos de prisão após produzir reportagens sobre corrupção e problemas ambientais.

“Em vez de limpar a corrupção do Partido Comunista, o aparato repressivo do regime agora persegue regularmente os jornalistas que investigam a corrupção”, disse Daniel Bastard, chefe do escritório da RSF para a Ásia-Pacífico.

No mapa mundial de liberdade de imprensa da RSF, o Vietnã ocupa a posição 175 entre 180 países avaliados. Na escala de perigo ao jornalismo e a jornalistas, o país é considerado local “muito ruim”, o pior status na classificação do índice.

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