Na falta de um dado oficial, organizações civis passaram a fazer contagens independentes de pessoas que sumiram após as manifestações do fim de semana em Cuba. A Anistia Internacional estima um grupo entre 136 e 187 pessoas detidas ou desaparecidas.

Advogados de direitos humanos da ONG (organização não governamental) Cubalex elaboraram uma lista de 136 pessoas, e afirma que a maioria delas são ativistas e jornalistas.

A ONG Cuban Rights Defenders afirma ter apresentado uma lista de 187 nomes à ONU (Organização das Nações Unidas). Já o movimento Cuba Decide divulgou uma lista de 151 desaparecidos.

Leia também:  Fotógrafos registram o cotidiano do isolamento social na ilha de Cuba

Repórter fotográfico passa por cirurgia após agressão policial

Ramon Espinosa, fotógrafo espanhol que trabalha há 21 anos na agência Associated Press (AP), foi agredido e ferido durante os protestos. Imagens divulgadas em redes sociais mostram o momento em que o repórter fotográfico é segurado por policiais, e posteriormente seu rosto coberto de sangue.

Espinosa teve o nariz quebrado e um dos olhos ferido, e precisou passar por cirurgia.

O chefe da sucursal da AP em Havana, Michel Weissenstein, publicou em sua conta no Twitter as imagens do fotógrafo sendo abordado e posteriormente ferido. Ele escreveu:

“O fotógrafo da AP Ramón Espinosa cobriu a cobertura dos protestos de hoje em Havana. Seja qual for a sua opinião sobre as notícias, os civilizados condenam quando os jornalistas se ferem ao documentá-las.”

As imagens foram feitas por outro profissional da AP, Adalberto Roque. A agência registrou ainda que um de seus cinegrafistas teve a câmera de vídeo destruída. Héctor Luis Valdés, do portal ADN Cuba, também foi agredido.

A Espanha pediu a Cuba na terça-feira que libertasse a jornalista Camila Acosta, 28, que trabalha para o diário espanhol ABC, detida pela polícia na noite de segunda-feira (12/7).

O chanceler espanhol, José Manuel Albares, se manifestou pessoalmente por Acosta e pediu que Cuba respeitasse os direitos dos manifestantes.

Protestos na ilha são considerados os maiores desde os anos 1990

Cuba passou no fim de semana pelo que a imprensa internacional está classificando como a maior onda de protestos no país desde os anos 1990, quando houve a queda da União Soviética, o que veio a originar a “crise dos barqueiros”, com milhares de cubanos se lançando ao mar em direção aos Estados Unidos (EUA), principalmente.

Os cubanos saíram às ruas para protestar contra a carência de alimentos e da falta de vacinas contra a covid-19. Cuba manteve a pandemia sob controle em 2020, mas vive um período de agravamento. O país produz uma vacina própria, mas há informações de uma distribuição precária.

Leia também: Cuba tem aumento de 124% de violações contra liberdade de imprensa em janeiro

Centenas de cubanos começaram a protestar no domingo nas cidades de San Antonio de los Baños, perto de Havana, e Palma Soriano, em Santiago, uma faísca que mais tarde se espalhou por todo o país.

A crise econômica que a ilha sofre há anos foi agravada pela pandemia que afetou gravemente o setor do turismo.

EUA apoiam manifestações, mas não aliviam sanções

O presidente dos EUA, Joe Biden, se manifestou nesta segunda-feira (12/7) sobre o ocorrido:

“Estamos ao lado do povo cubano em sua defesa corajosa de seus direitos fundamentais e universais, e em todos eles clamam por liberdade e alívio das trágicas garras da pandemia e das décadas de repressão e sofrimento econômico.”

Desde que assumiu a Casa Branca em janeiro, o novo presidente americano não modificou ou derrubou nenhuma das sanções impostas pelo governo do antecessor, Donald Trump. O bloqueio econômico foi apontado como um empecilho à vacinação contra Covid-19 em Cuba, uma vez que dificulta a compra de seringas pelo país.

Leia também

Reino Unido em “guerra cultural” às vésperas de desobrigar uso de máscaras para população