MediaTalks em UOL

No México, 80% da imprensa pretende cobrar por acesso a conteúdo em até três anos

New York Times: modelo mundial de obtenção de receita com assinaturas. (Brian McGowan/Unsplash)

Um raio-X da mídia mexicana revelou que as empresas de comunicação no país ainda engatinham quando o assunto é cobrar pelo acesso a conteúdo. Contudo, apesar das assinaturas ainda serem uma realidade para 10% das publicações, a maioria consultada pretende instalar em breve algum sistema de pagamento por parte dos leitores.

Durante o mês de março de 2021, WAN-IFRA (Associação Mundial de Jornais) e o centro universitário Tecnológico de Monterrey, com o apoio do Facebook Journalism Project, ouviram 51 empresas de mídia nacional e regional no México. 

Leia também: Google é multado em € 500 mi na França em briga com imprensa por pagamento de conteúdo

“O que os meios de comunicação pesquisados ​​diferem em relação aos seus pares internacionais está na implementação de cobrança por conteúdo (acesso pago, associação, assinatura), recurso avançado no mundo, com quase nenhum desenvolvimento no México”, afirma o estudo. 

Mudar o modelo de negócio já

Entre os consultados, 91% da mídia digital mexicana e 79% da mídia regional não operava modelos de cobrança no momento da pesquisa, mas 80% das empresas trabalha para incorporar a receita por leitor.

Gráfico sobre a disposição na imprensa em mudar o modelo de negócio. (Reprodução/WAN-IFRA)

“Este trabalho contribui para um melhor entendimento da indústria jornalística mexicana, a maior indústria de língua espanhola do mundo”, destaca Rodrigo Bonilla, diretor para as Américas da WAN-IFRA. “A pesquisa traz dados muito valiosos que revelam que a imprensa regional do país está à beira de uma mudança drástica em seu modelo de negócios, com foco nas novas receitas digitais, e tem consciência da urgência”, afirma.

A pesquisa ainda revelou que o país possui redações equilibradas em relação a paridade de gênero, com predominância de jornalistas jovens. Subindo a hierarquia, a presença de mulheres tende a diminuir.

Argentina e Brasil são líderes latinos em assinaturas digitais

No contexto mundial, jornais americanos são os líderes em arrecadação. Na América Latina, os argentinos Clarín (350 mil assinaturas) e La Nación (345 mil) estão à frente dos brasileiros Folha de S.Paulo (291 mil), O Globo (254 mil) e Estado de S. Paulo (196 mil).

Líder, o The New York Times acumula 7 milhões de assinaturas, afirmam dados da WAN-IFRA.

Ranking mundial de publicações com mais assinaturas digitais. (ReproduçãoWAN-IFRA)

A investigação revelou que a mídia no México está procurando ajustar o modelo de negócios. Considerada a tendência de cobrar pelo acesso, as publicações mexicanas sinalizaram a necessidade de mudar a estratégia de faturamento nos próximos três anos: 85% por cento responderam que era total ou muito necessário fazê-lo.

Leia também: Facebook e Twitter cedem e entregam perfis ligados a racismo contra atletas da seleção da Inglaterra

Publicidade impressa despenca, e digital cresce

No México, mostra a pesquisa, a publicidade continua sendo a principal fonte de renda para a mídia. Porém soluções com publicidade programática (anúncios em plataformas como Google e outros), assinaturas, eventos e branded content começam a ser abordadas.

Os meios de comunicação regionais lideram em publicidade programática: 37% da mídia regional recebe 50% ou mais de sua receita de anúncios online, ante 28% de mídia digital que recebe o mesmo percentual deste tipo de fonte. 

No total, a publicidade programática é responsável por 10% ou menos do total da publicidade digital no país. 

Faturamento com assinaturas de conteúdo lidera entre fontes de renda com maiores altas. (Reprodução/WAN-IFRA)

A publicidade digital cresce como fonte de renda, segundo as empresas consultadas, enquanto a modalidade impressa apresenta números negativos. 

Os veículos locais também apresentam uma receita maior vinda dos leitores comparada à da mídia digital mexicana. Contudo, uma fatia maior da imprensa online (53% contra 32%) considera o seu modelo de negócio “muito sustentável” nos próximos anos.

Leia também: USA Today é o mais novo grande jornal dos EUA a cobrar por conteúdo digital

Aumentar fontes de receita fez subir lucro do grupo The Economist

O grupo The Economist, no Reino Unido é um exemplo positivo de diversificação de receitas durante a pandemia, reportando recentemente queda de 3% na receita, porém um lucro 27% superior ao de 2019. 

Além do jornalismo, cujo carro-chefe é a revista financeira The Economist, o grupo tem divisões de eventos, consultoria e educação executiva. A receita total alcançou £ 310.3 milhões (cerca de R$ 2,1 bilhões). O lucro operacional foi de £ 41,8 milhões (cerca de R$ 292 milhões). 

As assinaturas cresceram mais de um quarto, com a incorporação de 90 mil novos assinantes, um crescimento de 9%, elevando o total para 1,1 milhão de leitores pagantes. A maioria das novas assinaturas foi para produtos digitais.

Leia também: Leitor interessado em mais de um assunto tem maior propensão a comprar assinatura, diz pesquisa

Mídia em transição – os números do México
  • 80% dos meios de comunicação pesquisados ​​pretende adotar modelo de conteúdo pago nos próximos três anos.
  • 85% dos entrevistados consideram que sua empresa precisa de uma mudança em seu modelo de negócios nos próximos três anos.
  • As redações ​​contam com equipes jovens, com paridade entre homens e mulheres. No entanto, no nível de gestão editorial, a paridade é menor.
  • 43% da mídia não possui equipe dedicada à análise de métricas ou inteligência de dados.
  • Segundo os entrevistados, a falta de talentos especializados e a impossibilidade de oferecer salários competitivos estão entre os principais entraves à sua transformação digital.
Leia também

Publicidade baterá recorde em 2021, com Brasil à frente dos EUA, mostra consultoria

Sair da versão mobile