Pressionadas por todos os lados para combater fake news em suas plataformas, as empresas de mídia digital têm adotado estratégias diversas para reverter a impressão de que não fazem o suficiente. O mais novo movimento foi do Twitter, que nesta segunda-feira (2/8) anunciou uma aliança com duas grandes agências internacionais, a Reuters e a AP (Associated Press), para aumentar a exibição de conteúdo confiável. 

O Facebook já tinha firmado acordos com as duas agências. Inicialmente, a colaboração com o Twitter será limitada a conteúdos em inglês, mas a empresa confirmou a intenção de expandir para outros idiomas.

No comunicado em que divulgou a parceria, o Twitter assumiu compromisso de garantir que as pessoas que acessarem a plataforma para ver o que está acontecendo “encontrarão facilmente informações confiáveis”.

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Por meio do acordo, a equipe de curadoria da rede social utilizará a experiência da Reuters e da AP para adicionar mais contexto às notícias e tendências que circulam por ela. E também para auxiliar em postagens da própria plataforma em eventos de alta visibilidade.

Parceria deve tornar Twitter mais ágil sobre qualidade das informações

Atualmente, a equipe de curadoria do Twitter é responsável por inserir informações adicionais ao conteúdo, na guia Explorar. A equipe também atua sobre como resultados de busca são classificados, para oferecer conteúdo confiável no topo dos resultados quando certas palavras-chave ou hashtags são pesquisadas. 

O time está envolvido ainda com as solicitações que aparecem na guia Explorar da timeline inicial, relacionadas a grandes eventos, como emergências de saúde pública (incluindo a pandemia) ou outros fatos mobilizadores, como eleições. E ainda interfere nos rótulos de desinformação, como aqueles aplicados a tweets que violam as regras. 

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Segundo o Twitter, o trabalho conjunto com AP e Reuters permitirá aumentar a velocidade e a escala para adicionar essas informações adicionais aos tweets e em outros pontos da plataforma. 

Quando as notícias sobre um determinado evento começarem a aparecer e informações contraditórias se disseminarem no Twitter, a equipe da rede social poderá recorrer rapidamente às agências para melhorar a forma como as informações de contexto são adicionadas às conversas. 

Tópicos na página do Twitter. (Divulgação)
Regras da rede social continuam a cargo do Twitter

Se funcionar como planejado, a iniciativa pode ajudar a impedir que fake news viralizem, sem ter que esperar que tweets com informações inverídicas se espalhem para só então desmenti-los.

Mas o acordo não envolve a participação das agências em julgar conteúdo que viole as regras, ou definir punições como suspensão ou banimento. Isso continua a cargo de uma área separada do Twitter. 

O sistema de checagem de fatos do Twitter lançado recentemente, o Birdwatch, um projeto descentralizado crowdsourced, também aproveitará o feedback da AP e da Reuters para ajudar a determinar a qualidade das informações compartilhadas pelos participantes. 

Fake news na plataforma

A iniciativa é mais uma das tentativas da rede social para lidar com desinformação e com manipulação proposital por figuras proeminentes e teóricos da conspiração. Entre os recursos já experimentados estão a desativação de retweets com um clique, a adição de checagem de fatos e a proibição de contas. 

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Nesta segunda-feira, o Twitter apareceu em um relatório da ONG britânica Center for Counting Digital Hate como uma das plataformas em que mais conteúdo antissemita é disseminado sem que ações sejam adotadas mesmo quando os casos são relatados.

As plataformas que menos removeram as contas denunciadas foram Twitter e TikTok. Essas redes retiraram apenas uma de cada 20 contas (5%) que cometeram abusos racistas contra usuários judeus, segundo a ONG.

Rede social ganha reforço para filtrar informações enganosas. (Alexander Shatov/Unsplash)
O que disseram as agências 

“A AP tem uma longa história de trabalho próximo ao Twitter, junto com outras plataformas, para expandir o alcance do jornalismo factual”, observou Tom Januszewski, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios Globais da AP, em um comunicado sobre o novo acordo. 

“Este trabalho é fundamental para a nossa missão. Estamos particularmente entusiasmados em aproveitar a escala e a velocidade da AP para adicionar contexto às conversas online, que podem se beneficiar do fácil acesso aos fatos”, disse ele. 

Hazel Baker, chefe da UGC Newsgathering da Reuters afirmou que confiança, precisão e imparcialidade estão no centro do que a agência de notícias faz todos os dias.

“Esses valores também impulsionam nosso compromisso de impedir a disseminação de informações incorretas. Estamos animados com a parceria com o Twitter para alavancar nossa profunda experiência global e local para servir ao diálogo público com informações confiáveis”, disse Baker.

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