Dois assassinatos de jornalistas em julho, no México e na Guatemala, reforçam números que mostram a América Latina como uma região perigosa para a imprensa.
Casos recentes foram do guatemalteco Pedro Alfonso Guadrón Hernández, baleado na sexta-feira (30/7), e de Abraham Mendoza, atacado e morto na porta de um ginásio no México.
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Hernández foi baleado em Chiquimula, cidade no estado de mesmo nome Guatemala. Até o momento, ninguém foi preso e os responsáveis seguem foragidos. O Ministério Público do país investiga as circunstâncias do crime, enquanto organizações de imprensa vinculam o ataque ao seu trabalho jornalístico.
Aos 30 anos, o jornalista era administrador de uma página de notícias locais com mais de 40 mil seguidores, a Concepción Las Minas Mi Tierra. Segundo entidades como a Rede de Jornalistas e a Associação de Jornalistas da Guatemala, Hernández denunciou à polícia ter recebido ameaças pelo conteúdo que publicou em sua plataforma.
A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) pediu que o caso seja investigado e que o trabalho jornalístico seja considerado uma possível motivação para o crime.
México é considerado país mais perigoso para jornalistas no mundo
No México, o jornalista Abraham Mendoza foi assassinado na porta de um ginásio em Morelia, no estado de Michoácan. Segundo informações do Ministério Público local, três suspeitos de participar do ataque foram presos.
Com este crime, o México soma agora cinco assassinatos de trabalhadores da imprensa só em 2021. Em nota sobre o caso, a IFJ destacou que o país é hoje um dos mais perigosos do mundo para a prática do jornalismo, devido ao grande número de casos que são relatados ano após ano e pela impunidade que prevalece na busca pelos responsáveis.
“A liberdade de expressão tem enormes restrições em um território onde a integridade física dos trabalhadores da imprensa não pode ser garantida”, afirmou a federação.
O diretor geral da Unesco (braço da ONU para os direitos humanos) se manifestou sobre a morte de Mendoza. “Exorto veementemente as autoridades a prosseguir com sua investigação para encontrar os autores deste crime violento. A investigação também deve procurar determinar se a agressão teve relação com o trabalho jornalístico da vítima”.
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No final de 2020, o balanço anual da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) considerou o México como país mais perigoso do mundo para a profissão, com pelo menos oito casos de jornalistas executados, às vezes de forma selvagem, por investigar as ligações entre o crime organizado e a classe política.
Presidentes aparecem como depreciadores da imprensa na América Latina, aponta RSF
Segundo o Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa da RSF, publicado em abril deste ano, Guatemala e México são lugares considerados perigosos para jornalistas, ocupando respectivamente as posições de número 116º e 143º no levantamento que analisa 180 países.
No caso específico da Guatemala, a RSF destaca que o próprio presidente do país, Alejandro Giammattei, afirmou em março de 2020 que gostaria de “colocar a imprensa nacional em quarentena”.
Pouco tempo depois da declaração, uma carta aberta assinada por mais de 100 jornalistas denunciou barreiras no acesso a informações, censura por parte de oficiais do governo e humilhação pública.
Sobre o México, a RSF escreveu que o presidente Andrés Manuel López Obrador “segue difamando publicamente os jornalistas em coletivas se eles publicam algo que não é de seu agrado”.
O Brasil ocupa a 116º posição no ranking mundial, sendo que o presidente Jair Bolsonaro foi considerado pela RSF um dos “predadores mundiais” da liberdade de imprensa.
A mesma organização publicou recentemente uma reportagem mostrando o aumento dos ataques da família Bolsonaro à imprensa no Brasil em 2021.
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