Maria, de 71 anos, tem um amigo chamado Jack. Diariamente, ela e Jack se encontram e fazem companhia um ao outro, jogam cartas, assistem à programas na TV e até pagam juntos as contas no banco. No último verão europeu, passaram alguns dias juntos na França.
Jack é como Maria decidiu chamar seu iPad. Um estudo britânico, da Universidade de Stirling, procurou mapear como idosos estão usando seus gadgets em 2021, registrando o dia-a-dia deles com seus aparelhos.
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A pesquisa, denominada Eu Sou o Mestre do Meu Destino (I Am the Master of My Fate), teve como objetivo justamente descobrir as estratégias desta faixa etária para se adaptar à rotina hiperconectada do século 21. O estudo é focado em aspectos práticos e não aborda questões de conteúdo ou desinformação, por exemplo.
Dar um nome a eles, e até mesmo uma personalidade, foi um dos achados da observação. Segundo os pesquisadores, é uma tendência comum e que torna mais fácil o relacionamento contínuo que hoje a humanidade tem com seus dispositivos eletrônicos.
Idosos não se surpreendem tanto quando tecnologia falha, sugere estudo
Outra observação importante foi que, apesar da dificuldade em alguns momentos, as pessoas com mais idade tendem a ver a tecnologia como algo naturalmente falho, e colocam o uso dos smartphones, por exemplo, em uma perspectiva provavelmente mais saudável que os jovens, devido à experiência de vida.
Contudo, isso não quer dizer que de repente vovôs e vovós viraram nerds. Na verdade, eles notam com clareza o que os jovens muitas vezes não percebem: o mundo está mais complicado.
“A sofisticação do que agora é oferecido, de fato, os torna mais complexos e menos amigáveis ao usuário em aspectos importantes”, observou um usuário de tablet, aos 77 anos.
Kindle é muito bom, mas livros não precisam carregar a bateria
Uma usuária do Kindle, fã do seu gadget de leitura, mencionou um episódio simples, mas que ilustra bem a análise do digital versus o analógico, uma concepção muito frequente nos idosos em relação à tecnologia.
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Ela acha seu e-reader muito melhor do que os livros, pois leva e adquire diversos livros sem ter que carregá-los por onde quer que vá. Contudo, ansiosa para ler antes de dormir, ela se deu conta de um problema: precisava antes carregar a bateria do dispositivo.
“Não tinha pensado nisso antes, mas é aqui que o Kindle não é tão bom quanto uma biblioteca. Você não pode simplesmente pegar um livro e começar a ler, você depende de se lembrar de manter a bateria carregada.”
Compras online não devem substituir “passeio” até o mercado ou à lotérica
O estudo ainda chama a atenção ao paradoxo da sociedade digital, que também atinge os usuários idosos: pode-se por um lado ganhar independência e aumentar a interação social, mas por outro lado substituir o contato real pelo virtual não é recomendável.
“As compras em supermercados são substituídas por compras online por meio de um dispositivo digital, o que pode impedir que o adulto mais velho saia de casa. Isso excluiria caminhar até a loja e socializar com as pessoas. No entanto, se a compra online for sugerida para itens mais volumosos, o adulto mais velho ainda estará inclinado a sair de casa para comprar produtos menores”, exemplificam as autoras.
Claramente, pontuam as autoras, há um papel crucial para amigos, família e comunidades “para garantir que os idosos permaneçam socialmente ativos, engajados e conectados por meio da tecnologia. Seu bem-estar pode depender disso”.
Deixar os gadgets com uma cara familiar, com aplicativos conhecidos, ajuda
A pesquisa descobriu também alguns “truques”. Com um novo dispositivo, software e aplicativos que os idosos já conhecem e entendem podem ser baixados para que pareçam menos estranhos.
Da mesma forma, se uma tela sensível ao toque for problemática, algumas pessoas podem decidir usar um teclado e mouse, ou até mesmo canetas digitais, como um usuário arquiteto de 83 anos comentou:
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“Tendo sido arquiteto e acostumado a desenhar pranchetas, papel e lápis desde que era estudante em 1944, uso canetas em meus computadores. Eu me acostumei com a precisão da Wacom (alemã) e seus pads, muito melhores do que os mouses. Então, eu uso uma caneta Wacom, e esse comentário foi escrito na cama, no iPhone.”
Corporações precisam oferecer suporte a clientes mais velhos, alertam pesquisadoras
A indústria, contudo, pode melhorar o design de seus produtos. Idosos ouvidos na pesquisa apontam a dificuldade de lidar com funcionalidades que deveriam ser simples, como ativar o sinal de Wi-Fi, por exemplo, ou habilitar e desabilitar funções como o Bluetooth.
As pesquisadoras apontam que os consumidores com mais idade não são considerados pelas corporações como um grupo que mereça atenção exclusiva.
“Se os governos estão incentivando o uso da tecnologia como um motivador para o envelhecimento saudável, quando os dispositivos são usados por adultos mais velhos, uma rede de apoio óbvia ou explícita deve estar disponível.”
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