Danny Fenster, jornalista americano editor do site Frontier Myanmar, completou na última terça-feira (31/8) 100 dias de detenção sob o regime militar de Mianmar, em um caso visto como atentado à liberdade de imprensa. Ele foi preso em 24 de maio no aeroporto Internacional de Yangon, enquanto tentava embarcar em um avião para fora do país.
Fenster, a exemplo de jornalistas da BBC e Voice of America presos recentemente no país, está sendo investigado sob uma lei que criminaliza a dissidência e cuja pena pode ser de até três anos de prisão, usada pelo regime como coerção ao trabalho jornalístico.
A família pede a libertação imediata do jornalista, que está no centro de interrogatórios de Insein, em Yangon, apontado como prisão “famosa por suas violações dos direitos humanos”.
Os familiares suspeitam que ele tenha contraído Covid-19 na prisão. Sua mãe, Rose Fenster, disse que o jornalista revelou durante a última ligação em 1º de agosto que estava sentindo tontura e perda de olfato e paladar. Fenster não havia sido testado para a doença.
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Os parentes contam que, desde sua prisão, o contato com ele tem sido mínimo, mesmo com os esforços da embaixada dos Estados Unidos (EUA) em Mianmar e de outras entidades para garantir sua libertação.
Em agosto, a embaixada dos EUA disse que todos os pedidos para ver Fenster foram negados. “Nenhuma razão foi dada para o ajuizamento da acusação contra ele”, disse o comunicado.
Buddy Fenster, pai do jornalista, disse estar otimista, e reiterou que ele “não foi acusado, o que já é alguma coisa”.
Ásia vem registrando repetidamente casos de ataques à liberdade de imprensa
Contudo, o método de manter profissionais da imprensa presos sem acusação se repete na Ásia como forma de censura e retaliação. Na China, a jornalista australiana Cheng Lei, ex-apresentadora de TV, está presa há um ano, sem acusação oficial, supostamente por divulgar informações de Estado para países estrangeiros.
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O irmão de Fenster, Bryan, lembrou que o editor do Frontier Myanmar não era ativista ou um repórter de rua, mas alguém que “trabalhava sentado em uma mesa”.
A família do jornalista lançou a campanha #BringDannyHome (Traga Danny Para Casa) na plataforma de petições Move On.
Até a publicação desta matéria, o pedido já tinha quase 43 mil assinaturas. No texto que acompanha a petição, a família escreveu que Fenster “cumpriu a lei de Mianmar e obedeceu aos costumes e códigos do país. Ele não cometeu nenhum crime além de ser jornalista”.
Entidades defendem liberdade de imprensa na campanha pela soltura do jornalista
Os familiares contam que não viam Fenster havia três anos, e que ele estava embarcando para os EUA para fazer uma surpresa a eles.
“Nós — sua mãe Rose, seu pai Bud, seu irmão Bryan e toda a sua família — estamos preocupados com seu bem-estar mais do que nunca. Mianmar está bloqueado depois de ser duramente atingido por outra onda de Covid”, diz a campanha.
“Instamos a administração Biden e o Departamento de Estado dos EUA a agirem com a máxima urgência para garantir a libertação imediata, incondicional e segura de Danny e seu retorno aos Estados Unidos.
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Entidades defensoras da liberdade de imprensa e jornalistas solidarizaram-se com a situação de Danny Fenster e compartilharam a hashtag #BringDannyHome, pedindo que as pessoas deem atenção à luta e que assinem a petição por sua liberdade.
O Frontier Myanmar também escreveu sobre o caso, destacando a ofensiva do regime militar do país à imprensa local.
“A junta militar tem como alvo a mídia independente desde o golpe [em fevereiro, quando militares tomaram o poder], em um esforço para aumentar o controle sobre o fluxo de informações, detendo dezenas de jornalistas, revogando as licenças dos meios de comunicação locais e restringindo o acesso à internet.
A junta também revisou seu código penal logo após o golpe para incluir a divulgação de ‘notícias falsas’ como crime.”
Regime prende jornalistas e vasculha celulares da população em busca de dissidentes
Em agosto, a ditadura de Mianmar prendeu dois profissionais de imprensa, colaboradores das redes BBC, do Reino Unido, e Voice of America, dos Estados Unidos, sob acusações de deslealdade e desacato, além de “associações ilegais”.
Segundo entidades defensoras da liberdade de imprensa, os militares invadem casas, vasculham computadores e até mesmo celulares atrás de indícios de ideologia pró-democracia e contra o regime.
Em maio, a junta militar libertou o jornalista japonês Yuki Kitazumi, o primeiro profissional de imprensa estrangeiro formalmente acusado pelo regime. Sua libertação foi resultado da pressão do Japão sobre Mianmar. Ele havia sido preso em abril, sob acusação de espalhar fake news.