Londres – A chefe da Scotland Yard, Cressida Dick, aproveitou as comemorações em torno do 20º aniversário do ataque às Torres Gêmeas, em Nova York, para aumentar a pressão sobre as plataformas de redes sociais no combate ao terrorismo, devido ao uso da critpografia de ponta a ponta nos aplicativos de comunicação.
Em artigo publicado no jornal britânico The Daily Telegraph neste sábado (11/9), ela criticou as plataformas digitais:
“O foco atual em criptografia por muitas grandes empresas de tecnologia está apenas servindo para tornar nosso trabalho de identificar e parar essas pessoas ainda mais difícil, se não impossível em alguns casos.”
No artigo, intitulado “Terroristas procuram nos dividir – eles não vão vencer”, a chefe de polícia considera que o 11 de setembro foi um divisor de águas, que confirmou que o terrorismo é uma ameaça global que exige uma resposta global e a colaboração de todos.
A criptografia de ponta a ponta é um recurso que garante o sigilo e a privacidade dos usuários, mas torna mais difícil identificar criminosos, incluindo terroristas que utilizam serviços de mensagem para organizar ataques e arregimentar seguidores.
O governo britânico tem se colocado fortemente contrário aos planos do Facebook de adotar a tecnologia também no Messenger e no Instagram (ela já existe no WhatsApp, que pertence ao Facebook).
Na sexta-feira (10/9), o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou o desenvolvimento de uma ferramenta para garantir a criptografia de ponta a ponta também nas mensagens armazenadas na nuvem (backup).
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Evolução do terror ganha velocidade com tecnologia de comunicação
Cressida alertou que desde os ataques o cenário do terrorismo mudou de várias maneiras e que tal mudança vem ganhando velocidade nos últimos anos com os avanços na tecnologia de comunicação.
“As mídias sociais e a internet têm facilitado cada vez mais que grupos terroristas – qualquer que seja sua ideologia distorcida – alcancem, recrutem e inspirem qualquer pessoa, em qualquer lugar e a qualquer momento.”
As consequências dos ataques foram acompanhadas de perto por Cressida, que tinha acabado de assumir o cargo que mantém até hoje. Nos dias e semanas que se seguiram ao atentado, ela trabalhou em Nova York com colegas do governo e da polícia como parte da resposta do Reino Unido.
Ela diz que a ameaça de sofisticadas células terroristas sendo dirigidas do exterior foi adicionada à de indivíduos realizando ataques rudimentares com muito pouco planejamento ou aviso.
“O que começou como nossa resposta à ação de grupos islâmicos como a Al-Qaeda no início dos anos 2000 continuou até o surgimento do Estado Islâmico e sua capacidade de inspirar e direcionar ataques em todo o mundo, até a ameaça terrorista dos grupos de extrema direita.”
Assim como a natureza da ameaça mudou e evoluiu, Cressida diz que a abordagem e a capacidade dos serviços de contraterrorismo deve acompanhar essa evolução.
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A primeira Unidade de Referência de Internet contra o Terrorismo
Como exemplo dessa evolução, a chefe de polícia cita a criação em Londres da primeira Unidade de Referência de Internet Contra o Terrorismo do mundo, que desde então foi replicada em todo o mundo.
Ela também citou o novo Centro de Operações Antiterrorismo de Londres, que reúne sob o mesmo teto todos os envolvidos no combate ao terrorismo, em uma instalação com tecnologia de última geração.
“A maneira como a polícia trabalha com nossos serviços de segurança está no centro de nossa resposta. E assim como os terroristas exploram a tecnologia em seu proveito, nós também desenvolvemos constantemente nossas capacidades digitais, tanto na área operacional quanto forense.”
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Futuro incerto
Ao fazer um balanço dos últimos vinte anos, Cressida diz que de todo aquele horror e perda vieram algumas coisas boas, como o desenvolvimento das técnicas de investigação contra terroristas, mas não considera a batalha ganha:
“O futuro, como sempre, é incerto – como exemplificado pela situação no Afeganistão, estamos avaliando como os eventos por lá podem mais uma vez impactar o cenário do terrorismo.”
Mas Cressida fez questão de se mostrar confiante. Além de conclamar as empresas de tecnologia a rever seus planos de implantação da criptografia, ela enfatizou a importância da união de todos na luta contra o terror:
“Precisamos que o público seja nossos olhos e ouvidos e nos informe sobre atividades suspeitas. Terroristas procuram nos dividir. Somente trabalhando juntos – tanto com nossas comunidades locais quanto com nossos parceiros globais – podemos ter esperança de derrotá-los.”
O serviço secreto britânico MI5 também tem se manifestado contrário à criptografia de ponta, que considera “passe livre a terroristas”.
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