Londres – Diante das ameaças crescentes à liberdade de imprensa no Afeganistão depois da tomada do poder pelo Talibã, um grupo de mais de 100 jornalistas afegãos, alguns ainda no país e outros exilados, utilizou a organização Repórteres sem Fronteiras para lançar um pedido de ajuda à comunidade internacional.
Por medo de represálias e riscos para as famílias que ainda estão no Afeganistão, eles se mantiveram anônimos.
Intitulado “O jornalismo afegão está ameaçado de extinção”, o apelo divulgado nesta sexta-feira (17/9) foi assinado por 103 jornalistas (incluindo 20 mulheres) de diferentes meios de comunicação, refletindo várias opiniões políticas e etnias, segundo a RSF.
A maioria ainda está trabalhando no Afeganistão (em Cabul ou em outra cidades). Alguns estão escondidos porque temem por sua segurança e dez conseguiram fugir do país.
A Repórteres sem Fronteiras ressaltou que, apesar das preocupações com a segurança, eles decidiram assinar a mensagem para a comunidade internacional porque temem que o jornalismo e o pluralismo da mídia possam desaparecer completamente do país.
O apelo pede à comunidade internacional que tome medidas urgentes para ajudar a manter viva a liberdade de imprensa no Afeganistão.
“Os muitos incidentes no campo nos últimos dez dias, a interferência cada vez mais flagrante do Talibã no trabalho da mídia e o fato de que um grande número de mulheres jornalistas agora não consegue continuar trabalhando são motivos para temer o pior”, diz o comunicado.
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Para ajudar a garantir a liberdade de imprensa no Afeganistão, eles estão buscando garantias de proteção, especialmente para jornalistas mulheres que desejam continuar trabalhando, e recursos para encorajar os meios de comunicação afegãos a continuar ou a reabrir.
Os profissionais de mídia também pedem assistência àqueles que fugiram para o exterior, para que continuem a trabalhar como jornalistas, e apoio dos países ocidentais para os que necessitam de refúgio.
O Afeganistão ficou em 122º lugar entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2021, publicado pela RSF em abril.
Leia o apelo abaixo:
“Precisamos de solidariedade internacional para evitar a extinção do jornalismo afegão”
103 jornalistas afegãos pedem ajuda
“Somos jornalistas afegãos de várias opiniões políticas e etnias. Alguns de nós ainda conseguem trabalhar. Outros estão escondidos em Cabul ou em outro lugar no Afeganistão. E outros já fugiram para o exterior ou estão em vias de sair. Todos nós somos forçados a permanecer anônimos ao fazer este apelo. Não queremos que o jornalismo se extinga no Afeganistão, como aconteceu de 1996 a 2001. Este é um assunto da maior urgência.
Por meio da Repórteres Sem Fronteiras (RSF), lançamos hoje um apelo solene às instituições internacionais para que obtenham compromissos concretos dos novos líderes do Afeganistão nas negociações em andamento. Menos de uma em sete mulheres jornalistas ainda trabalham em Cabul.
Apesar dos compromissos públicos do Talibã, vemos sinais concretos de uma repressão geral não declarada que inclui ameaças a jornalistas no campo, intimidação da mídia de notícias e censura indireta.
Pedimos a todos aqueles que desejam o melhor para o Afeganistão e seu povo a defesa do futuro do jornalismo afegão, independentemente do cenário que prevalecerá nos próximos meses.
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Apelamos a uma campanha pela liberdade de imprensa em nosso país, pela preservação das conquistas dos últimos 20 anos, incluindo a independência da mídia, o pluralismo e a proteção dos jornalistas. As instituições internacionais têm o dever de salvaguardar o respeito pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, que o Afeganistão ratificou.
Precisamos que você garanta que o jornalismo possa ser sustentado no Afeganistão. Isso significa recursos para encorajar os meios de comunicação a continuar ou a reabrir.
As jornalistas e todas as outras profissionais da mídia devem poder voltar ao trabalho e exercer sua profissão com total segurança. E o comitê tripartite de mídia criado em 21 de agosto deve dar garantias de que será de fato um mecanismo de defesa da liberdade de imprensa e não de opressão de jornalistas.
No curto prazo, precisamos de um forte apoio para a evacuação de jornalistas em perigo, atribuindo-lhes todos os recursos diplomáticos, consulares e financeiros necessários. Os jornalistas que fugiram do país devem ter instalações para continuarem a trabalhar como jornalistas.
Neste momento histórico e também caótico, o desaparecimento do jornalismo afegão seria desastroso.
Garantir a segurança dos profissionais da mídia é crucial para preservar o direito fundamental de todos os cidadãos afegãos de receber notícias e informações precisas, um pré-requisito para qualquer esperança de um dia ver o Afeganistão no caminho para uma paz duradoura.
Ajude-nos a fazer o jornalismo afegão sobreviver.”
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