Dois ataques graves a jornalistas foram registrados na cobertura da movimentação popular antivacina na Austrália, que une trabalhadores da construção civil, mineração e outros setores de infraestrutura. Houve agressão tanto por manifestantes quanto por forças de segurança, ferindo dois profissionais da imprensa, como mostram as imagens registradas.

Durante protestos em Melbourne nesta terça-feira (21/9), o repórter do Canal 7, Paul Dowsley, foi agredido em dois momentos da cobertura dos protestos. Imagens mostram quando o repórter foi agredido fisicamente por manifestantes, que o agarraram e empurraram, espirrando spray de urina no jornalista.

Em um segundo momento, enquanto fazia uma entrada ao vivo na TV, Dowsley é atingido na cabeça por uma latinha de bebida. O operador de câmera que acompanhava o repórter registrou o ataque e o ferimento.

Dowsley contou que jornalistas estavam sendo considerados alvos para os manifestantes. “Fui agarrado pelo pescoço, recebi um jato de urina e agora tive uma lata de bebida energética jogada em mim”, relatou ao vivo para o apresentador no estúdio. Veja abaixo:

As manifestações violentas reúnem pessoas contra a vacinação obrigatória para combate à Covid-19 no estado australiano de Victoria. 

As marchas foram organizadas pelo Sindicato da Construção, Silvicultura, Marítima, Mineração e Energia, embora haja relatos de que as comunicações sindicais foram infiltradas e distorcidas por extremistas de extrema-direita e antivacinação.

A Media, Entertainment and Arts Alliance (MEAA), afiliada da Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) na Austrália, em  declaração, sugere que a polícia, assim como os manifestantes, perseguiram os trabalhadores da mídia que cobriam a manifestação e disse que apresentou uma queixa à Polícia de Victoria sobre o tratamento de jornalistas que cobriam protestos anteriores em 18 de setembro.

Segundo a organização de mídia, pelo menos quatro profissionais de imprensa foram atacados e/ou detidos durante reportagens na cobertura recente da pandemia.

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Polícia espirra spray de pimenta nos olhos de fotógrafo durante manifestação

Em outro ataque a jornalista, no sábado passado (18/9), o fotógrafo do portal The Age, Luis Ascui, foi pulverizado com spray de pimenta diretamente nos olhos pela polícia. Ascui se identificou repetidamente como um membro da mídia. A cena pode ser conferida na imagem publicada pelo perfil do site no Twitter, e na reportagem é possível assistir ao vídeo do momento.

A vice-presidente federal da seção de mídia da MEAA, Karen Percy, afirmou que “a polícia e os manifestantes devem aceitar que a mídia oferece um serviço essencial, especialmente durante a pandemia, para manter nossa comunidade informada. Os jornalistas são observadores neutros, simplesmente fazendo um trabalho. Um ataque a um jornalista é um ataque a todos nós”.

A IFJ se manifestou condenando “atos agressivos e degradantes contra os trabalhadores da mídia por parte do público e da polícia. Apelamos à Polícia de Victoria para responder às reclamações para garantir que os jornalistas da Austrália possam trabalhar sem medo de assédio indevido”.

Na Europa, preocupação com liberdade de imprensa vai virar lei

Casos de jornalistas agredidos têm preocupado também a Europa, com episódios recentes registrados por organizações de mídia na Itália e na Eslovênia, com repórteres agredidos durante manifestações e estúdios de TV invadidos, fato ocorrido também na Inglaterra. 

O motivo da hostilidade é sempre o mesmo: insatisfação com a cobertura da mídia sobre a pandemia de Covid-19, protestos contra a obrigatoriedade de vacinas e do uso de máscaras.

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Os ataques e o cerceamento à liberdade de imprensa visto em países como Rússia e Afeganistão motivaram também uma movimentação do Conselho da Europa, que prepara uma lei específica para garantir o trabalho livre de jornalistas no continente.

Contudo, para a Associação de Jornalistas Independentes, a ação política ocorre com atraso, uma vez que vidas já foram perdidas em casos mais extremos e não relacionados à pandemia, como os assassinatos dos repórteres Peter de Vries, na Holanda, e Daphne Caruana Galizia, em Malta.

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