Diversidade e inclusão são tópicos na agenda da mídia, desde a premiação do Oscar, nas artes, à composição de redações ou o enfoque de anúncios, nos casos do jornalismo e da publicidade. O Fórum Econômico Mundial, organização independente focada na cooperação entre setores públicos e privados, reuniu dados em um estudo para destacar que abraçar a causa não significa apenas fazer a coisa certa: ser diverso é lucrativo.
A análise a partir de estudos considerados internacionais, sendo a maior parte de origem americana, mostra que “a ética e os lucros são as duas faces da mesma moeda”. A pesquisa teve participação da consultoria Accenture.
Para impulsionar a mudança e obter progresso real, as organizações devem ter dados e ferramentas de medição que lhes permitam entender onde estão e para onde precisam ir, aponta o fórum. Essas ferramentas devem abordar tanto o conteúdo quanto os criadores desse produto e garantir transparência e responsabilidade.
Diversidade eleva receita de filmes no cinema e compras
Por exemplo, filmes que carecem de representação autêntica e inclusiva apresentam desempenho inferior em cerca de 20% de seu orçamento na bilheteria do fim de semana de estreia, aponta a pesquisa.
Na publicidade, 64% dos consumidores consultados em um estudo do Google disseram que pensaram em comprar ou fizeram uma compra depois de ver um anúncio que consideraram diverso ou inclusivo.
A pesquisa traz exemplos de iniciativas que apontam na direção certa, como por exemplo a parceria entre Netflix e USC Annenberg (escola de comunicação da University of Southern California) para analisar os roteiros de suas séries e filmes, buscando torná-los mais diversos.
A NBC Universal e o Geena Davis Institute testaram uma ferramenta de IA “Spellcheck for Bias” para medir a representação na frente e atrás da câmera. A gigante da computação IBM firmou parceria semelhante, colocando sua inteligência artificial Watson a serviço do Ad Council, para analisar o quão enviesado são os anúncios publicitários de hoje.
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E o Twitter lançou um painel interno para dar aos funcionários uma visão transparente dos dados demográficos de toda a organização, segundo a pesquisa do fórum.
Abraçar uma maior diversidade racial também pode se traduzir em um público mais amplo, sugere o levantamento, citando o anúncio da P&G, “The Talk”, que mostrava mães negras falando sobre o preconceito que elas e seus filhos enfrentaram nos Estados Unidos. Foi visto 7 milhões de vezes online, bem como na TV.
Não brancos e mulheres na imprensa
Na imprensa, pouco progresso foi feito em direção a uma maior diversidade racial, com o número de editores não brancos aumentando em apenas 3% desde 2015, ressalta a pesquisa. Junto a esse dado aparece ainda um sinal de resistência: 34% dos executivos de notícias discordam que mulheres e pessoas de cor enfrentam barreiras para progressão na carreira.
De acordo com pesquisa da consultoria Nielsen nos Estados Unidos, os telespectadores estão cada vez mais diversificados: a audiência asiática aumentou em 86%, hispânicos em 66% e a audiência negra em 58% de 2018 a 2020.
“A identidade de jornalistas e autores molda histórias contadas e pontos de vista representados”, destaca o estudo.
Um estudo feito pelo Instituto Reuters na esteira dos conflitos sociais em 2020 mostra que, melhorar a diversidade étnica (42%) é a mais urgente prioridade, antes de melhorar a diversidade de gênero (18%).
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No entanto, dados mostram que a diversidade racial na imprensa não melhora desde 2015, com editores não brancos aumentando em apenas 3%. O Brasil aparece como país sem qualquer diretor de redação não branco nos veículos com maior audiência, segundo pesquisa do Instituto Reuters publicada em março.
A composição racial da gestão da redação mostra um desequilíbrio semelhante. A Sociedade Americana dos Editores de Jornais aponta que 19% dos chefes de redação impressa e online eram pessoas de cor em 2019.
O Instituto Reuters, em estudo recente, mostrou que apenas 23% dos executivos ou editores-chefes em 10 mercados analisados são mulheres, enquanto 40% de todos os editores são do sexo feminino.
A 6ª edição do Global Media Monitoring Project (GMMP), lançada em julho, mostra que a baixa representação de mulheres na mídia levará pelo menos 67 anos para ser sanada, caso se mantenham as tendências atuais.
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Jovens estão de olho na TV e nas assinaturas de conteúdo
Apesar de inclinados ao consumo de notícias por redes sociais, como indicou o último Relatório Reuters de Mídia Digital, o público jovem vem se inclinando para as notícias da TV no mercado americano: consumidores de 18 a 34 anos aumentaram seu consumo total de notícias em 134% entre 2019 e 2020, e os jovens estão também impulsionando o aumento das assinaturas digitais.
Contudo, estudos apontam que eles sentem que as preocupações de sua geração, incluindo os direitos das minorias, não são devidamente abordados pela mídia.
Um estudo mundial sobre efeitos da mudança climática sobre jovens de dez países revelou que para 75% dos entrevistados “o futuro é assustador”.
Games têm público fiel no segmento LGBTQ+
Baseada no levantamento, a entidade destaca que “ao abordar consumidores sub-representados, as empresas de mídia devem ser capazes de abrir novos mercados”.
Nos games, por exemplo, apenas 11% dos títulos indicados para um prêmio em 2020 tinham histórias LGBTQ+ significativas. Esta é uma oportunidade perdida, alerta a pesquisa: a pesquisa mostra que os consumidores LGBTQ+ são mais propensos a ter um sistema para jogar em casa e também gastam mais em games.
Da mesma forma, apenas 3% dos títulos têm um personagem primário de cor, apenas 23% permitiram que os jogadores escolhessem a etnia de seu personagem e apenas 18% dos jogos lançados em 2020 apresentavam personagens femininas, aponta o fórum.
Os desenhos animados têm se mostrado atentos a esse movimento, com um salto de representatividade na última década, como mostrou a revista Insider. Houve um pulo de 11 novos títulos com personagens LGBTQ+ na década de 2000 para 48 desenhos animados entre 2010 e 2020.
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No mundo dos esportes, quase metade (47%) dos fãs mais fervorosos dos 13 principais esportes do mundo são mulheres, aponta o fórum. No entanto, o esporte feminino recebe apenas 4% da atenção da mídia esportiva hoje.
Recomendações do Fórum Econômico Mundial para diversidade
Embora o contexto e os desafios enfrentados por cada um setor de mídia pode ser diferente, analisa o estudo, há oportunidades para ajudar a quebrar barreiras sistêmicas, incluindo:
– Cotas: iniciativas podem exigir um número mínimo de candidatos de segmentos sub-representados para posições de liderança e diretoria;
– Relatórios: dada a sensibilidade do tema, organizações devem procurar construir um caminho seguro para as empresas voluntariamente divulgarem seus dados de diversidade e explorar oportunidades de melhoria;
– Relatórios voluntários: as empresas devem se comprometer a publicar dados de diversidade. As companhias que relatam voluntariamente suas informações podem ganhar a confiança dos consumidores e investidores;
– Incorporar diversidade como critério de elegibilidade: organizações e empresas podem criar políticas para fazer cumprir metas de diversidade. Por exemplo, o Bafta (premiação britânica de cinema) estabeleceu a diversidade como critério de elegibilidade para prêmios da indústria e oportunidades de financiamento, e a Bloomberg exige que seus funcionários participem de painéis e eventos com times diversos de palestrantes.
Essas questões estão no cerne da recém-formada Força-Tarefa do Poder da Mídia sobre diversidade, equidade e igualdade (DE&I) do Fórum Econômico Mundial. A equipe reúne empresas, órgãos da indústria e organizações sem fins lucrativos na defesa destes valores. A força-tarefa se concentrará em três áreas principais:
– Medição: criar referências e métricas baseadas em dados para formalizar a medição do progresso e o estabelecimento de metas;
– Prestação de contas: criar maior transparência e prestação de contas nas iniciativas e resultados;
– Comunidade e colaboração: construindo comunidades de pares em toda a indústria e fornecendo um espaço seguro para explorar tópicos novos e sensíveis em DE&I e compartilhar as melhores práticas.
Acesse aqui o estudo completo do Fórum Econômico Mundial.
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