Os corredores sagrados da Galeria Uffizi de Florença (Itália), um dos mais importantes museus do mundo, vão se abrir a um tipo de arte até pouco tempo atrás demasiado mundano para habitar um templo da arte como o museu italiano.

A coleção vai ganhar novas obras, desta vez de grandes criadores de histórias em quadrinhos, em um movimento que busca tanto glorificar a arte pop moderna como também chamar o público jovem para a galeria florentina.

A exposição é uma iniciativa para promover os quadrinhos na Itália e no exterior. Um dos retratos será selecionado pela Uffizi e pelo Ministério da Cultura, para integrar permanentemente a coleção.

Mangá e Caravaggio sob o mesmo teto

O museu encomendou autorretratos de criadores de histórias em quadrinhos para adicionar à sua renomada coleção de mais de 2.000 autorretratos de artistas que datam do século 17 e incluem Velásquez, Rembrandt e Rafael.

As obras serão expostas nas novas salas dedicadas aos autorretratos que serão inauguradas este mês, no segundo andar do edifício.

“Os mangás [quadrinhos] estão chegando ao Uffizi”, disse Eike Schmidt, o diretor alemão do museu. “Alguns ficarão chocados, mas os antigos mestres há muito influenciam os quadrinhos e, desde Roy Lichtenstein, na década de 1960, a arte absorveu as técnicas dos quadrinhos, o que significa que separar a arte alta da baixa não faz sentido”, disse ele.

A iniciativa é uma parceria com a maior convenção de quadrinhos da Itália, a Lucca Comics Awards, na cidade de Lucca. A partir deste ano a organização do evento e a Uffizi também escolherão o melhor artista da mostra para encomendar um autorretrato para expor na galeria, um dos principais museus do mundo.

Relacionadas

Galeria Uffizi vem buscando rejuvenecer sua audiência

“Ninguém pensou que os quadrinhos iriam entrar no Uffizi, é um sonho que se tornou realidade”, disse Emanuele Vietina, diretor do evento. 

“Os quadrinhos não são mais arte de categoria inferior, então isso é bem-vindo”, disse a quadrinista italiana Giulia Spagnuolo, 25, cujo autorretrato nu está entre os 52 encomendados.

A estratégia de rejuvenescer o público da Uffizi está em marcha há algum tempo. Chiara Ferragni, considerada a principal influenciadora da Itália, foi convidada no ano passado a posar em frente ao quadro O Nascimento de Vênus, de Botticelli, em uma jogada publicitária pensando no TikTok.

Em 2020, os menores de 25 anos representaram um terço dos visitantes da Uffizi.

Site de pornografia também tenta “repaginar” visão sobre as artes

“É uma inovação importante para o panorama da arte contemporânea italiana: a Uffizi torna-se assim um dos primeiros museus de arte clássica a apostar na vitalidade e na força criativa da nona arte”, afirmou o ministro italiano da Cultura, Dario Franceschini.

Outras iniciativas com o objetivo de alcançar novas audiências não têm tido o mesmo aplauso. Em julho, o PornHub, site de vídeos pornográficos mais clicado do mundo, lançou a série Classic Nudes, explorando obras de arte clássicas que envolvem nudez.

“A pornografia pode não ser considerada arte, mas alguma arte pode ser considerada pornografia”, argumentou o ícone mundial da pornografia, a ítalo-húngara Cicciolina, retratada com oa Vênus de Boticelli no lançamento da série.

Leia mais: Classic Nudes | Série do PornHub com obras de arte famosas promovida por Cicciolina revolta museus

O PornHub diz que, além de obviamente buscar mais audiência e adeptos, a iniciativa teria o objetivo de incentivar seus usuários a experimentar a arte e assim estimular a visitação aos museus.

O argumento não convenceu a Uffizi, detentora dos direitos do quadro, que não foi consultada e não recebeu pelo uso da imagem.

E não foi só a Uffizi. Outros museus proprietários das obras utilizadas, que incluem o Louvre e o D’Orsay (França), o Prado (Espanha), a National Gallery (Inglaterra) e o MOMA – Metropolitan Museum of Modern Art (Estados Unidos), também não foram consultados.

Passeio no Museu do Sexo pode render prisão para influenciadora turca

Já a influenciadora Merve Tasskin, de 23 anos, com 600 mil seguidores no Instagram, chegou às páginas dos principais jornais da Europa após ser processada na Turquia, por exibir imagens durante passeio no Museu do Sexo, na Holanda.

Ela tirou selfies, fotografou itens em exposição e os que estavam à venda na loja do museu, e postou tudo com muitas piadas. Os seguidores se divertiram.

Só que as autoridades turcas não acharam graça e consideraram os posts da jovem obscenos. Na Turquia, compartilhar conteúdo obsceno é considerado crime – e os infratores podem ser punidos com multas ou penas de prisão por até três anos.

Leia mais

Censura turca pode levar influencer à prisão por posts no Museu do Sexo de Amsterdã

Vídeo “making of” em que Banksy confirma autoria de grafites em cidades de veraneio inglesas é visto por mais de 6 milhões em um dia; assista