A cobertura jornalística sobre as mudança climáticas é tratada como “bola da vez” após a pandemia da Covid-19 tomar conta do noticiário mundial por quase dois anos.

Tanto veículos de mídia quanto os profissionais envolvidos nessa comunicação devem estar atentos a temas como justiça climática e discursos da indústria do combustível fóssil, que organizações como a coalizão global Covering Climate Now (da qual o MediaTalks faz parte) apontam como ângulos importantes na pauta da mídia. 

Como preparação para a cúpula do clima COP26, que reunirá na Escócia a partir do dia 31/10 líderes mundiais numa tentativa de dar sequência ao Acordo de Paris, um seminário na próxima quinta-feira (7/10) vai reunir especialistas do Brasil e do Reino Unido para debater os desafios de se construir, engajar e comunicar uma cooperação internacional efetiva para combater as mudanças climáticas.

O encontro é uma iniciativa da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) em parceria com a universidade King’s College de Londres, que mantém estudos regulares sobre o Brasil em seu Brazil Institute.

O painel também vai abordar como as empresas brasileiras devem atuar para que seus negócios sejam amigáveis ao clima.

O seminário internacional é gratuito e direcionado a jornalistas, empresas e demais interessados no debate sobre a mudança climática.

Evento reúne experts sobre sustentabilidade e mudança climática

A partir das 10h (horário do Brasil) no canal da Aberje no YouTube, o diretor-geral da Klabin, Cristiano Teixeira, participa de uma mesa com Kat Thorne, diretora de sustentabilidade, e Juliane Reinecke, professora de gestão internacional e sustentabilidade, ambas da King’s College.

A mediação será feita pelo professor e pesquisador brasileiro Vinicius Mariana de Carvalho, Diretor do King’s Brazil Institute, e por Sebastián Ronderos, pesquisador da Universidade de Essex.

A cúpula do clima da ONU (Organização das Nações Unidas) é aguardada com expectativa, muito devido à nova posição dos Estados Unidos (EUA), com o democrata Joe Biden na Presidência. 

Sob o republicano Donald Trump, os EUA haviam recuado de metas de diminuição do uso de combustíveis fósseis e adotado uma postura negacionista em relação ao aquecimento global, desfazendo acordos da gestão de Barack Obama, outro integrante do Partido Democrata.

COP26 pode ser “última chance”, alertam especialistas

Para ambientalistas e jornalistas ligados ao tema, a COP26 pode ser a última oportunidade para a sociedade se engajar a ponto de conseguir reverter o processo de aquecimento do planeta, como destaca Mark Hertsgaard, diretor executivo da CCNow:

“É a última chance para os líderes mundiais limitarem o aumento futuro da temperatura a um nível em que a civilização possa sobreviver.

A COP26 é o cenário ideal para chamar a atenção do mundo para a resistência das empresas sobre a mudança climática e levá-las a julgamento, pelo menos no tribunal da opinião pública.”

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A cobertura da mudança climática foi também tema de 2021 do World News Day, evento mundial de jornalismo, que escolheu destacar a importância da imprensa de qualidade para conscientizar a audiência sobre a urgência da crise do clima.

“A mudança climática há muito é uma ‘futebol político’, indo e vindo no embate entre diferentes pontos de vista. Pode ser assim, mas embora todos tenham direito a uma opinião, os fatos são sagrados e não podem ser distorcidos”, afirmou David Walmsley, editor-chefe do jornal The Globe and Mail e fundador da iniciativa, que reuniu mais de 400 redações este ano.

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Jovens hesitam sobre ter filhos e culpam governos pela crise do clima

Uma posição mais clara da mídia em relação à mudança climática pode ter também impacto sobre a saúde mental da juventude, que se preocupa com o futuro e até mesmo hesita em ter filhos, segundo pesquisa internacional publicada em setembro.

O levantamento ouviu jovens de dez países e revelou que para 75% dos entrevistados “o futuro é assustador’”. Os jovens do Brasil estão entre as maiores vítimas da “ecoansiedade” e revelaram-se os mais críticos quanto ao papel do governo.

O governo brasileiro foi o pior avaliado em todos os oito quesitos pesquisados, e os jovens brasileiros foram os que se mostraram mais hesitantes em ter filhos. 

A pesquisa foi realizada pela Universidade de Bath, está sendo apresentada nesta terça-feira (14/9) no Reino Unido e publicada no periódico científico The Lancet Planetary Health.

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Os adolescentes e jovens brasileiros são os que mais acreditam que o seu governo não liga para angústia das pessoas (80%), que seu governo falha com eles (79%), que a administração pública mente sobre as ações adotadas para conter a crise climática (78%) , e que trai as novas gerações (77%).

Para se inscrever no encontro, basta acessar a página dedicada ao evento. A programação faz parte da série de debates Brasil e Reino Unido: Diálogos e Narrativas – COP26: desafios, metas e ações.

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