Stephanie Grisham, ex-secretária de imprensa de Donald Trump, assumiu em uma entrevista à CNN americana nesta segunda-feira (5/10) o que muitos sempre criticaram sobre a rede que apoiou incondici0nalmente o presidente durante o seu mandato: que o horário nobre da Fox News funcionou como “mídia estatal” da Casa Branca durante a administração do republicano na Presidência dos Estados Unidos (EUA).

“Era onde nós íamos para termos o que queríamos que fosse veiculado”, afirmou Grisham, que antes de assumir a comunicação do ex-presidente trabalhou no gabinete da ex-primeira-dama, Melania Trump.

A entrevista foi feita para promover o  livro I’ll Take Your Questions Now (Eu Responderei Suas Perguntas Agora, em tradução livre) que revela os bastidores da era Trump sob o olhar de uma apoiadora arrependida. Grisham afirmou que não votou no ex-chefe nas eleições de 2020 e que “nunca vai se redimir” do seu trabalho durante a pandemia de Covid-19 nos EUA.

Ex-secretária de comunicação esteve com Trump desde a campanha em 2016

“Você teve anos para se arrepender. Por que agora? Você está arrependida ou apenas quer vender livros?”, perguntou o apresentador John Berman.

Grisham afirma que foi ingênua e pensou que, enquanto estava na equipe da primeira-dama, poderia ajudá-la na missão de “convencer o marido a fazer o que era certo”.

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A ex-secretária, contudo, foi defensora fervorosa da campanha de Trump, da qual participou, e esteve com o republicano em sua passagem pela Casa Branca como diretora de comunicação desde 2019, acumulando a secretaria de comunicação da primeira-dama em 2020.

Ela ficou conhecida por ser a primeira secretária de imprensa da Casa Branca a não coordenar as coletivas de imprensa do presidente. Segundo Grisham afirma hoje, ela evitava “ter que mentir” em público.  

Grisham afirma que “demorou para perceber” o quão tóxico era o ambiente da Casa Branca sob Trump. Ela pediu demissão após a invasão do Congresso americano, quando cinco pessoas morreram em 6 de janeiro, e afirma que a “gota d’água” foi a recusa da primeira-dama em se manifestar contra a violência.

Fox “pegava o que dizíamos e disseminava”, diz ex-chefe de imprensa da Casa Branca

A “parceria” entre a Casa Branca de Trump e a Fox News, segundo a ex-secretária de comunicação de Trump, não invalida por completo o jornalismo da emissora. Grisham afirma que é possível apontar pessoas que “fazem jornalismo de verdade”, perguntando questões difíceis, mas não parece ser o caso de nomes como Tucker Carlson e Lou Dobbs, do programa Fox & Friends. 

“Lou Dobbs faria toda a conversa sobre como tudo era ótimo e eu apenas acenaria e diria sim”, afirmou Grisham em entrevista à CNN. Ela ainda detalhou como declarações atribuídas a ela eram ditadas palavra por palavra por Donald Trump.

Tucker Carlson é acusado de disseminar desinformação sobre a Covid-19 e em entrevista no mês passado afirmou que “tenta não mentir na TV”.

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A assessoria de imprensa de Melania Trump respondeu às declarações da ex-secretária de comunicação e afirmou que Grisham “tenta ganhar dinheiro com a imagem da ex-primeira-dama” e se redimir de um trabalho fraco e uma postura inadequada em seu período na Casa Branca.

“Eles, em geral, não foram duros conosco, apenas pegavam o que dizíamos e disseminavam”, continuou Grisham, sobre a Fox News.

A ex-secretária de comunicação afirmou temer por uma reeleição de Trump, assim como ter emissários trumpistas eleitos para o Congresso dos EUA no próximo ano, o que seria, segundo ela, algo movido pela vingança. “Não haverá guard-rail.”

TV influencia opiniões sobre invasão ao Capitólio, mostra pesquisa nos EUA

Uma pesquisa do Public Religion Research Institute (PRRI) publicada em setembro ajuda a ver o quão importante foi a “ajuda” da Fox News para Donald Trump. O levantamento demonstrou que a percepção sobre os responsáveis pela invasão ao Congresso, em janeiro, depende da TV a que os americanos assistem, confirmando a polarização da mídia nos EUA que se acentuou durante os últimos anos.

A maioria dos americanos, segundo a pesquisa, afirma que grupos de supremacia branca (59%), o ex-presidente Donald Trump (56%) e “as plataformas conservadoras da mídia que espalham teorias da conspiração e desinformação (55%)” têm grande responsabilidade pela violência de 6 de janeiro.

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A visão dos republicanos varia ainda de acordo com as fontes de mídia em que mais confiam. Poucos republicanos que confiam na Fox News e em fontes de extrema direita, como Newsmax e One America News Network (também citada por Grisham como “TV amiga”), dizem que Trump tem grande parte da culpa (3%) com números similares na percepção sobre grupos cristãos conservadores e líderes republicanos.

Os telespectadores da Fox News são ainda mais propensos do que os telespectadores Newsmax e One America News a dizer que muita culpa vai para grupos de supremacia branca (25% e 17%, respectivamente) e plataformas conservadoras de mídia que espalham teorias de conspiração e desinformação (21% e 15%, respectivamente).

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