Londres – O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e sua companheira Stella Morris entraram com um processo contra o secretário de Justiça britânico, Dominic Raab, acusando-o de impedir o casamento deles.
Assange é mantido há dois anos na prisão de segurança máxima Belmarsh, em Londres, enquanto tramita o processo de extradição movido pelos EUA, que querem processá-lo no país pelo vazamento de dados confidenciais.
A última audiência aconteceu no fim de outubro para avaliar recursos do Departamento de Estado americano com o objetivo de reverter a sentença de janeiro que o manteve em solo britânico, acatando a tese da defesa de que havia risco de suicídio se ele fosse levado para os EUA.
Liberdade de imprensa
Se Assange for extraditado, pode ser condenado a até 175 anos de prisão pelas 18 acusações relacionadas à publicação pelo Wikileaks de documentos militares confidenciais e correspondências diplomáticas em 2010.
O caso é considerado um marco para a liberdade de imprensa. Entidades e celebridades pedem a retirada das acusações contra ele e sua libertação imediata.
“Elementos assustadores”
Stella Moris é advogada e tornou-se companheira de Julian Assange enquanto ele estava asilado na embaixada do Equador em Londres, para evitar os pedidos de extradição (inicialmente da Suécia e depois dos EUA).
O casal tem dois filhos, nascidos durante o período de asilo. Depois do relaxamento das medidas de isolamento social, Moris e as crianças passaram a visitar o ativista na prisão.
A notícia de que eles pretendiam se casar foi revelada em julho pela imprensa britânica, na semana em que ele completou 50 anos. Manifestações pelo aniversário aconteceram em Londres e em vários países.
O casal ficou noivo em 2016, e Stella Moris anunciou que planejava se casar na prisão em vez de esperar até o final dos processos legais envolvendo Assange, mas o governo britânico não parece concordar com os planos.
No Twitter, ela disse neste domingo que “elementos assustadores do governo do Reino Unido estão ilegalmente bloqueando e atrasando nosso casamento, e dando ao governo dos EUA poder de veto ”.
We are suing because creepy elements of the UK government are illegally blocking and delaying our marriage by effectively giving the US government veto power.
Our request to marry is now in the hands of the CPS, which acts for the US in #Assangecasehttps://t.co/2ygkuQ2Rei
— Stella Assange (@Stella_Assange) November 7, 2021
Embora os britânicos não tenham sido prejudicados pelas revelações feitas por Assange e nem sejam parte no processo movido contra ele pelo governo americano, o país acabou em uma situação delicada.
O ativista ficou asilado sete anos na Embaixada do Equador em Londres, e acabou capturado pela polícia britânica depois que o novo governo equatoriano deixou de apoiá-lo.
O Reino Unido tem sido acusado de ser complacente com os Estados Unidos e de colaborar com o que muitos consideram um ataque ao jornalismo e à liberdade de expressão.
“Nosso pedido de casamento está agora nas mãos do CPS [Crown Prosecution Service], que atua em nome dos EUA no caso Assange”.
Além de Raab, eles também acusaram a chefe da prisão, Jenny Louise, de” negar o direito humano básico”. O casal disse que exigiu repetidamente permissão para celebrar o casamento na prisão, mas a autorização foi negada.
Recursos do caso Assange estão em análise
A situação jurídica de Assange continua indefinida. Na audiência de outubro, que durou dois dias, foram analisados os recursos apresentados pelo Departamento de Estado americano para mudar a sentença.
O resultado pode sair ainda em novembro ou em dezembro, mas ainda caberá novo recurso.
Assange teve negado o direito de participar da sessão pessoalmente, o que revoltou entidades de defesa da liberdade de imprensa e a defesa.
Os recursos dos EUA tentam desqualificar o laudo médico que atestou o risco de suicídio. O país apresentou também um conjunto de garantias à corte, como a de que ele poderia ficar em uma prisão normal e se condenado cumprir a pena na Austrália,, mas a defesa de Assange contestou, pois as garantias podem ser revogadas a critério do Departamento de Estado.
Extradição para o país que teria tentado matar Assange
Em entrevista coletiva a jornalistas estrangeiros dois dias antes da audiência, Stella Moris disse que os advogados tentariam fazer com que o Tribunal mantenha a sentença sob a justificativa de que o fundador do Wikileaks não pode ser extraditado para um país que tentou sequestrá-lo e matá-lo enquanto ele estava asilado na Embaixada do Equador em Londres.
Em setembro, o Yahoo revelou que a CIA, agência do serviço secreto dos Estados Unidos, avaliou sequestrar e matar o fundador do Wikileaks em 2017.
Na época, Assange entrava em seu quinto ano asilado na embaixada do Equador em Londres, e, segundo o Yahoo, funcionários do governo Trump debatiam a legalidade e a viabilidade de uma operação para retirar o ativista do local, segundo a apuração.
Altos funcionários da CIA e da administração Trump teriam solicitado “esboços” de como assassiná-lo. As discussões sobre o sequestro e possível assassinato de Assange ocorreram “nos escalões mais altos” do governo Trump, disse um ex-oficial da contra-espionagem ao Yahoo.
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Filme sobre Julian Assange
Na semana passada, o irmão de Assange, Gabriel Shipton, lançou um documentário sobre o fundador do Wikileaks. A história é centrada em seu pai, John Shipton, e em sua batalha para levar o filho de volta para a Austrália.
A obra chama-se Ithaka. O trailer pode ser visto aqui.
7th of November 5.30pm at the @randwickritz part of @sydfilmfest . There will be introductions and a Q&A after the screening of @IthakaMovie
Tickets: https://t.co/q9Zwk67eUz#FreeAssange ✊✊ pic.twitter.com/av7UIgZwgf— Gabriel Shipton (@GabrielShipton) November 2, 2021