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O futuro das redações pós-pandemia é híbrido, mostra pesquisa global do Instituto Reuters de Jornalismo
Luciana Gurgel
Foto: Hanna Wei/Unsplash
Londres – Assim como tantas outras atividades, a forma de fazer jornalismo na pandemia se transformou depois que o isolamento social esvaziou as redações, privando os profissionais do convívio direto em um ambiente de troca e colaboração vital para a qualidade da produção.
Agora que as coisas começam a voltar ao normal em muitos países, a tese de que algumas mudanças vieram para ficar foi confirmada por um relatório do Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo de Oxford.
O relatório é baseado em uma pesquisa com 132 líderes de empresas jornalísticas de 42 países, bem como em uma série de entrevistas aprofundadas. O Brasil responde por 2% da amostra.
A principal conclusão é de que o “trabalho híbrido” será a norma para a grande maioria dos jornalistas em muitas organizações de notícias, com algumas já tendo eliminado redações ou reduzido espaços físicos.
Outra descoberta é que o jornalismo continua enfrentando uma batalha para atrair talentos e aumentar a diversidade. Em alguns casos a dificuldade foi agravada pela pandemia, e em outros facilitada por ela, já que facilitou o recrutamento de profissionais de fora dos locais onde estão as sedes das redações.
Os autores do trabalho são Federica Cherubini (chefe de Desenvolvimento de Liderança), Nic Newman (pesquisador sênior e autor principal do Digital News Repor) e Rasmus Kleis Nielsen, Diretor do Instituto Reuters.
Eles observam que a maioria dos entrevistados é do hemisfério Norte e trabalha em organizações de médio e grande porte, razão pela qual os resultados não capturam a situação muitas vezes diferente enfrentada por pequenas organizações e aquelas que operam em países pobres e ou autoritários.
Mas o trabalho oferece um quadro amplo capaz de apontar tendências e permitir reflexões para os que estão buscando as melhores soluções para a era pós-Covid. E suas conclusões podem ser extrapoladas também para outros setores em que o trabalho colaborativo era parte da rotina antes da pandemia.
Veja os principais pontos. O original (em inglês) pode ser acessadoaqui.
A mudança do trabalho remoto para o híbrido
Os pesquisadores lembram que quando os governos impuseram regras de isolamento, as empresas jornalísticas tiveram que se adaptar rapidamente e transferir a maioria de sua equipe para o trabalho remoto, e isso não foi fácil.
Como muitos outros, jornalistas e profissionais da indústria de notícias experimentaram uma confusão ainda maior nas linhas entre a vida profissional e a doméstica.
Meses de trabalho remoto forçado cimentaram as expectativas sobre uma maior flexibilidade:”O gênio está fora da garrafa”, como disse um entrevistado.
Mas segundo o Reuters, outros vêem o trabalho híbrido como parte de uma mudança mais ampla que inclui talento e diversidade em um mundo pós-Covid.
Martin Kotynek, Editor-chefe do Der Standard, da Áustria, disse:
“Dominar a mudança do trabalho remoto para o trabalho híbrido e adaptar todos os processos internos a essa nova forma de trabalhar é uma das nossas principais prioridades no momento.
É a chave para realmente ouvir as necessidades da equipe, para integrar novos e diversos colegas em nossa cultura e colocar ênfase nas questões psicológicas de trabalhar remotamente.
Estou convencido de que o trabalho híbrido vai permanecer – a transição pode ser difícil, mas definitivamente vale a pena, em vez de voltar a um modelo de trabalho onde quase todos estão presentes no escritório a maior parte do tempo”.
Os pesquisadores perguntaram aos executivos e líderes de redações até que ponto eles estavam comprometidos com a mudança para o trabalho híbrido e flexível.
A grande maioria dos líderes (89%) afirma que concorda totalmente com o trabalho flexível e híbrido. E 79% deles afirmam que suas organizações também estão totalmente comprometidas.
A verdadeira questão agora, segundo os pesquisadores, parece ser como gerenciar a mudança do trabalho remoto forçado para o trabalho híbrido.
O desafio de implantar o trabalho híbrido
Enquanto um terço (34%) dos entrevistados da pesquisa dizem que suas organizações já decidiram mudanças importantes e estão implementando um modelo de trabalho híbrido, mais da metade (57%) afirma que ainda está no processo de descobrir a melhor maneira de fazer isto.
Ainda assim, um em cada dez (9%) afirma que suas organizações estão procurando retornar a um modelo de trabalho o mais semelhante possível ao de antes da pandemia.
Muitas delas são emissoras de rádio e TV onde o trabalho em equipe face a face é indispensável, e os estúdios têm equipamentos especializados caros, que não podem ser utilizados no home office.
Alguns também destacaram como, apesar do fato de a mudança para o trabalho remoto ter sido acelerada e tornada uma necessidade durante a pandemia, a busca por condições de trabalho mais flexíveis era uma questão preexistente e seus fatores subjacentes não estão ligados à pandemia.
A pesquisa identificou empresas de mídia que procuram equilibrar os requisitos operacionais e as demandas de pessoal por flexibilidade ao pensar em um novo modelo operacional híbrido.
A maioria dos executivos (64%) diz que prefere ver os funcionários de volta ao escritório algumas vezes, com apenas uma minoria (11%) dizendo que deve ser uma escolha individual do funcionário.
“Não esperamos que todo mundo trabalhe mais no escritório e, se o fizerem, trabalharão apenas por alguns dias e o resto da semana trabalharão em casa”, disse Steven Gan, Editor-chefe da Malaysiakini.
No entanto, 20% dos entrevistados disseram que gostariam que os funcionários voltassem o tempo todo ou a maior parte do tempo.
Este dado, juntamente com os 9% dos entrevistados que disseram que suas organizações esperam retornar a um modelo de trabalho pré-pandêmico, sinaliza que alguns gestores permanecem reticentes ou mesmo hostis a essas mudanças, talvez preocupados com a possível perda de eficiência operacional ou controle.
Reconhecendo que equipes diferentes têm prioridades diferentes, algumas organizações optaram por uma abordagem em que os gerentes podem decidir o que é melhor para suas equipes em termos de quanto e quando estar no escritório, como mostrou a pesquisa:
“Estamos depositando muita confiança em nossa equipe, líderes e gerentes, que devem projetar o que é melhor para suas equipes, porque os requisitos das equipes são muito diferentes dependendo do que fazem”, disse Katie Lloyd, Diretora de Desenvolvimento da BBC News & Current Affairs.
Eficiência x criatividade
A maioria dos entrevistados (70%) na pesquisa do Reuters disse que o trabalho flexível tornou as organizações de notícias mais eficientes.
As reuniões online realizadas durante o trabalho remoto forçado costumam ser mais curtas e mais comerciais, enquanto a redução do tempo de deslocamento liberou tempo para um trabalho mais produtivo.
Seis em cada dez (61%) sentiram que também havia melhorado, em média, o bem-estar dos funcionários, embora muitos expressassem preocupação com o esgotamento e a saúde mental de parte da equipe.
Os respondentes da pesquisa também destacaram o impacto negativo que eles acham que o trabalho remoto teve em criatividade, comunicação e colaboração, tanto dentro das equipes quanto na organização.
(Lagos Techie/Unsplash)
Quase metade (48%) sentiu que a criatividade piorou e mais de quatro em dez (43%) sentiu que a comunicação também tinha sofrido.
Brodie Fenlon, Editor-chefe da CBC News (Canadá)falou:
“O jornalismo é um esporte de equipe, as redações são concebidas como espaços abertos por uma razão. Fizemos um trabalho notável em manter nossos programas e ofertas de notícias digitais em alta enquanto trabalhamos remotamente, mas há um impacto inevitável na criatividade, colaboração, coesão social e saúde mental.
Não tenho dúvidas de que somos melhores quando estamos juntos”.
O peso do isolamento social
Embora os respondentes tenham indicado que o trabalho remoto teve um impacto positivo no bem-estar de seus funcionários, muitos entrevistados expressaram preocupação com o impacto do isolamento.
“Você tem funcionários muito ansiosos e realmente lutando com sua saúde emocional, enquanto outros navegaram bem – realmente depende da personalidade da pessoa e do trabalho que ela está sendo solicitada a fazer”‘, diz Tracey Kirkland, da ABC/Austrália.
Outros entrevistados enfatizaram como os últimos 18 meses também aumentaram a pressão sobre os líderes das redações e, especialmente, sobre a liderança de nível médio.
Angela Pacienza, Editora Executiva do Globe and Mail (Canadá) disse:
“A função de um gerente mudou e fazer contato pessoal com a equipe leva mais tempo do que antes.
Portanto, agora estamos aumentando a equipe de gestão para ajudar a aliviar o estresse sobre os líderes e dar aos funcionários mais tempo face a face com colegas”.
Para que serve o escritório?
A crise da Covid-19 levou a uma revisão sobre o propósito da redação, constataram os pesquisadores. Alguns passaram a vê-la como um foco de colaboração, enquanto o trabalho operacional é feito em outro lugar.
Para outros, uma redação física ainda é necessária para incorporar o espírito da empresa, mesmo que a configuração precise ser alterada.
Um quarto das empresas jornalísticas ouvidas na pesquisa (27%) afirma que já redesenhou o espaço do escritório e 46% estão planejando fazê-lo. E 24% já reduziram a quantidade de escritórios, com 16% planejando fazer isso em um futuro próximo.
Foto: Kate Sade/Unsplash
O The Globe and Mail está entre as organizações de notícias que estão redesenhando seus escritórios e reduzindo o espaço. “Tínhamos três andares. Vamos reduzir para dois e seremos totalmente híbridos”, disse a Editora Executiva Angela Pacienza.
Na Espanha, o canal de notícias El Diario já havia começado a renovar o propósito de seus escritórios antes da pandemia, com mais espaço para colaboração, gravações de vídeo e eventos.
“Há sempre coisas acontecendo, pessoas vindo de fora, é apenas uma maneira diferente de pensar sobre redações. Anteriormente, eles eram como fortalezas fechadas”, diz María Ramírez, Diretora Executiva Adjunta, do El Diario.
Mas enquanto muitos estão avançando com reformulações de escritórios, outros argumentam que ainda é muito cedo, segundo a pesquisa do Reuters:
Melhor, dizem eles, esperar um pouco mais – até que as realidades do trabalho híbrido se tornem mais claras.
Reuniões e ferramentas de colaboração
O estudo do Instituto examinou também a nova cultura de reuniões, com alguns ganhos:
As reuniões físicas, em que os principais gerentes costumavam sentar-se atrás de paredes de vidro, frequentemente criavam barreiras na redação. As reuniões online ajudaram a tornar esse processo um pouco mais inclusivo.
“O que descobrimos foi que ter todos participando das equipes tornou tudo muito mais meritocrático. Provavelmente cerca de 50% mais pessoas do que nunca ligaram para ouvir a conversa do editor”, disse Jane Barrett, da Reuters, uma das entrevistadas
“Quando os participantes são todos os mesmos quadrados em uma plataforma de vídeo digital, essas velhas hierarquias – quem se senta no topo da mesa ou ao lado de quem – de repente ficam menos visíveis e menos imponentes”.
A pesquisa mostrou que o Zoom não reina absoluto nas redações, apesar de ser quase sinônimo de reunião virtual. Microsoft Teams e Google Meets aparecem quase empatados na preferência.
Mas o Reuters constatou que à medida que alguns funcionários voltam ao escritório, a tentação é voltar aos velhos tempos.
Reuniões híbridas que misturam funcionários no escritório e em outros lugares estão se mostrando insatisfatórias para muitos.
E descobriu que muitos líderes estão preocupados com a questão do viés de proximidade, a ideia de que os funcionários que passam mais tempo na redação serão percebidos como melhores e receberão tratamento preferencial.
“O que nos preocupa como equipe de gestão é garantir que algumas pessoas não se tornem favoritas porque ficam mais tempo cara a cara com o chefe”, disse Angela Pacienza no Globe and Mail no Canadá.
Alguns também revelaram na pesquisa o temor de que o trabalho híbrido possa reforçar as disparidades existentes:
“As mulheres na equipe são as que são mais rígidas sobre os dias [que estão no escritório] e os dias em que ficam em casa.
E os homens [estão] um pouco mais ansiosos para irem mais do que os dois dias”, aponta María Ramírez em El Diario. Talvez ainda seja muito cedo para dizer se há realmente uma lacuna, mas sinto que pode haver uma lacuna.
Quais funções funcionarão melhor para redações remotas ou híbridas?
A pesquisa indicou um claro consenso sobre o tipo de funções que os gerentes consideram as melhores e as menos adequadas para o trabalho remoto e híbrido.
A grande maioria (92%) pode ver um benefício para a equipe que trabalha principalmente por conta própria (como repórteres ou aqueles que fazem cópias para impressão e online), mas apenas uma minoria (29%) acha que é adequado para jornalistas trabalhar em eventos de notícias velozes onde o trabalho em equipe é essencial.
A agência de notícias AFP tem lutado com esses dilemas em torno dos papéis enquanto pensa na mudança para o trabalho híbrido. “As notícias são em tempo real”, diz o diretor global de notícias Phil Chetwynd.
“Você realmente não tem a complexidade do debate em tempo real que normalmente vem de grupos menores ou que vem de estar cara a cara”.
Por outro lado, Chetwynd observa que os fotógrafos raramente precisam estar no escritório. As imagens podem ser tiradas e carregadas de qualquer local.
Até que ponto os funcionários trabalham principalmente em equipes ou precisam de um foco individual é um critério que pode ser usado para decidir o quão flexível o modelo pode ser. Mas o nível de experiência de um funcionário também é importante, alertaram os pesquisadores:
Freqüentemente, uma equipe mais sênior estará profundamente enraizada na cultura da empresa e tenderá a precisar de menos supervisão.
A equipe júnior que está começando pode precisar de mais feedback face a face (o que pode significar que pelo menos uma parte da equipe sênior também precisa estar na redação).
Iniciativas para fomentar uma cultura de aprendizagem e mentoria em ambientes híbridos
Muitos entrevistados relataram dificuldades em fazer com que jornalistas mais velhos e experientes voltem ao escritório.
Frequentemente, eles têm configurações mais confortáveis em casa e relutam em retomar. Mas isso está dificultando o treinamento e a transmissão de habilidades para a próxima geração.
Outros se preocupam com o fato de que a equipe júnior pode facilmente se perder ou ser esquecida.
Com menos oportunidades de ‘aprendizado por osmose’ na própria redação, algumas empresas como a agência Reuters estão desenvolvendo programas de mentoria online e incentivando grupos de networking para jornalistas de próxima geração e outros grupos.
Outros estão reforçando o treinamento formal, incluindo palestras de jornalistas e editores experientes. Segundo o Instituto Reuters, essas alternativas podem ajudar a preencher a lacuna, mas, para muitos jovens profissionais, são um péssimo substituto para a aquisição de habilidades de colegas experientes em uma redação lotada.
Equidade X eficiência operacional
Na implementação de arranjos híbridos e remotos permanentes, os pesquisadores disseram ter encontrado uma tensão crescente entre os requisitos operacionais e o desejo de tratar todos os funcionários igualmente.
Algumas publicações adotaram uma abordagem baseada em funções, oferecendo diferentes níveis de flexibilidade para determinados tipos de trabalho e incorporando isso em novos contratos.
Outros priorizaram a equidade, permitindo a todos os funcionários os mesmos direitos de trabalhar em casa, independentemente de sua função.
Jornalistas mais jovens muitas vezes vivem em apartamentos apertados e compartilhados em cidades como Londres, Paris e Nova York, e estão muito mais ansiosos para voltar.
Mas, à medida que novos arranjos flexíveis são implementados, os entrevistados observaram que os líderes podem ter opiniões radicalmente diferentes sobre essa mudança.
Tudo isso levanta questões sobre como os novos arranjos serão aplicados de forma justa. “Acho que temos que mudar, mesmo se eu preferir quando todos estão por perto”, disse aos pesquisadores Clémence Lemaistre, do francês Les Echos.
“As pessoas com quem você está trabalhando estão mudando, suas expectativas estão mudando. Agora, quando fazemos entrevistas de recrutamento, quase todo mundo pergunta sobre oportunidades de trabalho remoto – três anos atrás, ninguém teria sonhado em fazer essa pergunta”.
“A grande demissão” vai chegar às redações?
A pandemia levou muitos a repensar alguns aspectos fundamentais de como vivem suas vidas e qual o papel do trabalho nisso. Em alguns setores, tem havido manchetes sobre “a grande demissão”, com muitos funcionários deixando seus empregos.
Fala-se de um êxodo semelhante na indústria de notícias, mas a pesquisa mostra que isso ainda não é uma realidade para muitos e a maioria dos entrevistados não está preocupada com a possibilidade de jornalistas deixarem a profissão em massa.
No entanto, a maioria dos entrevistados (47%) acredita que a pandemia tornou o recrutamento e a retenção mais difíceis, com apenas 17% dizendo que ficou mais fácil.
Os principais pontos fracos permanecem em torno de tecnologia, ciência de dados e habilidades comerciais. Apenas 28% dos entrevistados estão confiantes em atrair e reter talentos na área comercial, 27% na ciência de dados e 18% na área de tecnologia.
Os pesquisadores descobriram que os líderes estão mais confiantes (63%) em manter os talentos editoriais.
Mas preocupam-se com o risco de o trabalho remoto forçado levar os funcionários a uma perda de conexão com a empresa, senso limitado de pertencimento e, portanto, serem mais propensos a sair.
“Acho que é muito difícil, especialmente para quem é novo na equipe. É meio difícil integrá-los à equipe, à redação da cultura sem nenhum contato pessoal”, disse María Ramírez de EL Diario.
Por outro lado, lembram os pesquisadores, a flexibilidade em torno das localizações pode aumentar as chances de contratar uma gama mais ampla e diversificada de talentos que podem, por exemplo, não estar morando em cidades caras onde as sedes das organizações estão localizadas.
Diversidade nas redações
O estudo do Instituto Reuters examinou também o progresso das iniciativas de diversidade nas redações.
O jornalismo é frequentemente visto como uma carreira que não é atraente ou mesmo viável para jovens profissionais vindos de origens menos favorecidas e algumas redações estão procurando preencher essa lacuna.
Outras redações estão trabalhando no desenvolvimento de seus relacionamentos com minorias étnicas que tradicionalmente não são representadas na mídia convencional.
Se focar no fortalecimento de oportunidades de talentos para recrutamento diversificado for considerado importante, uma representação mais diversa ainda tem dificuldade para chegar ao topo da organização, constataram os pesquisadores.
Nossa pesquisa mostra que uma clara maioria dos entrevistados acha que sua organização está fazendo um bom trabalho em termos de diversidade no nível inferior (79%), mas isso diminui para o nível médio (54%) e apenas 35% acham que sua organização está fazendo um bom trabalho no nível sênior.
A maioria dos líderes de redações que participaram da pesquisa afirma que suas organizações estão coletando e disponibilizando dados de diversidade sobre seus funcionários (60%) e sua equipe de liderança (50%). Dos entrevistados da pesquisa, 41% disseram que suas organizações têm alguém responsável pelas políticas de diversidade, equidade e inclusão.
No entanto, apenas 33% dos entrevistados disseram que sua organização rastreia os dados no que diz respeito à diversidade de colaboradores e entrevistados. Alguns tentam ampliar a diversidade de perspectivas nas histórias abordadas. Outros criaram grupos de trabalho dedicados, organizaram treinamentos ou elaboraram políticas específicas para melhorar a diversidade e as práticas de inclusão.
Mas o trabalho híbrido pode estar oferecendo novas oportunidades para aumentar a diversidade, revelou o estudo. Na Quartz, a mudança para uma empresa totalmente distribuída já teve um grande impacto.
“Abrir todos os nossos cargos para inscrições de qualquer lugar em que possamos empregar pessoas legalmente melhorou drasticamente a qualidade e a diversidade de nossos pools de inscritos”, disse o CEO Zach Seward.
Isso, junto com uma série de novas políticas de diversidade, como a reformulação do processo de avaliação de candidatos com o objetivo de eliminar o preconceito e a leitura cega de candidaturas resultou em algum progresso”, disse Seward.
Em um ano, a Quartz passou de uma proporção de 31% para 42% de funcionários negros, e hoje 50% da redação é formada por negros, segundo Seward. A empresa também fez melhorias na diversidade de seus cargos de liderança, inclusive no nível executivo, com a contratação do primeiro executivo latino.
Significativamente, apenas 29% dos entrevistados da nossa pesquisa relataram que sua organização tem um orçamento para promover ativamente a diversidade.
E um total de 27% dos entrevistados disseram que sua organização não tem nenhuma das iniciativas listadas – coleta de dados sobre diversidade, tendo alguém responsável pela DEI práticas, ou ter um orçamento dedicado à promoção da diversidade.
O legado da Covid-19 para o jornalismo
Na avaliação dos pesquisadores, o legado da pandemia provavelmente será uma mudança fundamental em como e onde os jornalistas fazem seu trabalho – bem como um foco renovado em recrutamento, retenção e diversidade.
Nossa pesquisa confirma que o trabalho remoto tornou as redações mais eficientes e que muitos funcionários também valorizam uma maior flexibilidade, mas também está claro que as pessoas sentem falta da criatividade, da colaboração e da comunicação (3Cs) que são a força vital de qualquer redação.
A questão principal é como encontrar o equilíbrio certo que leve em consideração o que aprendemos nos últimos 18 meses.
Eles constataram que muitos líderes ainda gostariam que parte ou a maioria de seus funcionários voltassem ao escritório na maior parte do tempo. E que se preocupam com a carga de trabalho extra de gerenciamento de equipes no escritório e em casa ao mesmo tempo.
O trabalho híbrido eficaz também exigirá regras muito mais claras sobre as reuniões e talvez um novo treinamento para os gerentes para garantir que todas as vozes sejam ouvidas igualmente.
É provável que a qualidade das ferramentas online, incluindo videoconferência e áudio-conferência, melhore com o tempo, mas mesmo assim, check-ins regulares serão necessários para aqueles que são propensos ao isolamento, à fragilidade da saúde mental e para colegas menos experientes que estão começando.
Outra conclusão é de que o trabalho híbrido exigirá que os processos e a comunicação sejam mais bem documentados e estruturados do que no passado.
Também há grandes questões sobre quanta flexibilidade permitir e se isso deve ser baseado em funções específicas ou aplicado igualmente a todos os funcionários.
Como mostramos neste relatório, há temores de que o trabalho híbrido possa reverter os avanços na igualdade de gênero que vimos em muitos países, com as mulheres potencialmente perdendo devido à menor visibilidade no escritório.
Por outro lado, a extensão do trabalho remoto também pode facilitar o recrutamento e a retenção de certos talentos diversos, acreditam os pesquisadores.
Embora o ano passado tenha visto muita discussão e algumas organizações individuais tenham tomado medidas substanciais, nossas descobertas sugerem que não houve nenhum progresso geral no tratamento da falta de diversidade na indústria de notícias como um todo, e mais de um quarto dos nossos entrevistados trabalham em organizações de notícias que atualmente não estão tomando medidas concretas para lidar com essas questões.
