Londres – Quem está aproveitando as festas de fim de ano para fazer imagens da família ou de viagens e se preocupa com o futuro do planeta deve pensar duas vezes antes de clicar várias vezes até achar o melhor ângulo, pois o armazenamento de fotos não é tão inocente como parece. 

Um estudo do Instituto de Engenharia e Tecnologia (IET) do Reino Unido revelou o que os pesquisadores classificaram como “hábitos sujos”: usuários das redes sociais do país contribuem com mais de 355 mil toneladas de CO2 todos os anos apenas pelo armazenamento de fotos repetidas.

Isso não acontecia no tempo das câmeras analógicas, com filmes caros e necessidade de levar a um estúdio para revelar. O problema é que a facilidade de guardar imagens em celulares cada vez mais potentes e espaço barato na nuvem faz com que poucos lembrem que o armazenamento das fotos consome energia, por causa dos servidores que precisam ficar ligados para guardá-las. 

A culpa é das redes sociais 

Embora o estudo tenha sido feito no Reino Unido, seus resultados podem ser extrapolados para outros países com uso intensivo de mídias sociais, como o Brasil. 

Os pesquisadores apuraram que os britânicos admitem tirar uma média de cinco fotos para cada uma que postam online.

Mas há quem exagere:  10% dos entrevistados confessaram produzir dez ou mais cliques para alimentar redes sociais com selfies, fotos de paisagem e de comida.

E elas vão ficando por lá, esquecidas. Apenas um quarto dos entrevistados excluem fotos adicionais que tiram, com milhões de imagens idênticas sendo adicionadas ao armazenamento todas as semanas. 

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Com a média quase 900 fotos por pessoa por ano, as imagens duplicadas e indesejadas podem acumular 10,6 kg de emissões de CO2 anualmente para cada adulto no Reino Unido – o equivalente a mais de 112.500 voos de ida e volta entre o país e a distante Austrália.

Nem todos são displicentes. Há quem conserve o hábito de eliminar as fotos indesejadas, só que por outros motivos.

O estudo do IET constatou menos de um em cada seis (16%) britânicos fazem isso para reduzir a carga de energia necessária para alimentar os servidores usados ​​para armazenar nossos depósitos de dados.

Armazenamento de fotos não é o único vilão 

Mas não são apenas os hábitos de mídia social que estão prejudicando o planeta. 

Com quase 80% das pessoas deixando de considerar o impacto ambiental no uso da internet e nas redes sociais, os “hábitos sujos”  podem estar contribuindo silenciosamente para as emissões globais tanto quanto viagens aéreas internacionais.

O Instituto de Engenharia sugerem que a pegada de carbono dos gadgets, o uso da internet e os sistemas essenciais que dão suporte a essas ferramentas respondem por 3,7% das emissões globais de gases do efeito estufa, equiparando-se ao patamar do setor de aviação, visto como um dos maiores inimigos do clima. 

E prevê que, com base nos hábitos de uso de tecnologia, essas emissões devem dobrar até 2025. Os pesquisadores fizeram um alerta: 

” Com alguns de nós ativamente compensando o carbono para justificar viagens de longa distância, a grande maioria, pelo contrário (80%), não conseguem perceber os danos que se inscrever em um boletim informativo nunca lido por e-mail também está causando ao nosso planeta sitiado devido ao carbono necessário para enviar e armazenar dados.”

O estudo quantificou os “hábitos sujos” mais frequentes: 

– Armazenamento de fotos, deixando de excluir imagens duplicadas dos telefones (69%);

– Usar dois ou mais dispositivos ao mesmo tempo (quase 60%);

– Streaming passivo – acompanhar outro dispositivo enquanto faz streaming de conteúdo de TV/vídeo (52%);

– Não limpar arquivos de serviços de mensagens, como WhatsApp, Facebook, Messenger (63%);

– Manter mensagens de texto antigas (56%).

“Streaming passivo”

As sessões de streaming passivo também foram destacadas como um desperdício de grandes quantidades de dados – aumentando as pegadas de carbono “invisíveis”.

Enquanto a maioria das pessoas (73%) faz streaming regularmente por meio de serviços como Netflix, Amazon, iPlayer ou Disney +, mais da metade (52%) admite que sua atenção está realmente no smartphone, não no que está assistindo.

Foto: ADMC/Pixabay

O IET estima que uma hora de streaming de vídeo gere uma pegada de carbono de aproximadamente 55g de CO2.

Com os britânicos gastando quase 40 horas por semana em média assistindo a serviços de streaming e vídeos online, ao longo de um ano isso acumula mais de 113 kg de CO2 – o equivalente a uma viagem de 470 quilômetros de carro. 

Pesquisa mostra que pessoas desejam ser mais sustentáveis

Mas nem tudo são más notícias. A pesquisa do IET também mostra um desejo significativo de ser mais sustentável (71%), com dois terços (66%) acreditando que todos têm um papel individual a desempenhar na proteção do planeta contra as mudanças climáticas. 

Chris Cartwright, Presidente do Painel Digital do IET, diz:

“Estamos muito satisfeitos em ver o público cada vez mais envolvido nos debates ambientais. Queremos que as pessoas se sintam capacitadas para se envolver e desempenhar sua própria parte no combate às mudanças climáticas.

Até agora a pressão sobre as emissões de carbono tem se concentrado nos grandes poluidores – as indústrias de aviação, transporte e alimentos – ou soluções dispendiosas e disruptivas, como painéis solares, microgeração, armazenamento de energia usando paredes de energia e bombas de calor. Mas não é só isso”

Segundo ele, os dados em que tanto confiamos também têm um custo oculto de carbono, e a maioria das pessoas não percebe que o uso de armazenamento em nuvem significa que centros de dados enormes e com grande consumo de energia são necessários.

Dicas para ser mais sustentável online

O IET listou dicas de como ser mais sustentável online. Veja quas são:

  • Armazenamento de fotos: crie o hábito de excluir todas as suas fotos duplicadas. Não há problema em aperfeiçoar a foto perfeita para o Instagram, mas simplesmente excluir as fotos indesejadas por fazer uma grande diferença na sua pegada de carbono.
  • Faxina na Nuvem: Limpe regularmente seus arquivos para economizar espaço de dados e reduza suas emissões no processo.
  • Limpe o WhatsApp: a maioria dos textos, mensagens de serviço e de WhatsApp de 2015 provavelmente não precisam ser guardados. O IET recomenda uma faxina e a adoção do hábito de excluir grupos antigos.
  • Dia livre: tenha um dia de ‘vídeo off”’ quando puder. Se você não precisa da câmara ligada para reuniões, desligue-a  para consumir menos dados.
  • Afaste-se do telefone: ao assistir TV ou um serviço de streaming, coloque o telefone de lado. Você aproveitará mais o que assiste  e reduzirá suas emissões de carbono com um simples movimento.
  • Reprodução automática, desligado: Desligue a função ‘reprodução automática do próximo episódio’ nos seus serviços de streaming e use o temporizador em seus dispositivos se você ouvir música ou podcasts enquanto adormece.
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