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Militares querem que príncipe Andrew deixe cargos; novo documento pode estender briga jurídica

Elizabeth II e príncipe Andrew no Palácio de Buckingham admiram o show aéreo Troop the Colors, em 2019 (divulgação The Royal Family)

Londres – A primeira semana do ano começa com a temperatura alta para a família real britânica, que vê sua reputação cada vez mais ameaçada por novos desdobramentos do envolvimento do príncipe Andrew em um escândalo internacional de assédio sexual.

Nesta segunda-feira (3/1), um acordo firmado entre o financista americano Jeffrey Epstein, que morreu na cadeia antes de ser julgado por crimes sexuais contra menores, e Virginia Giuffre, que abriu um processo contra Andrew, foi tornado público em Nova York por decisão judicial, prometendo uma disputa em torno da legalidade da ação contra o príncipe.

Os advogados do duque argumentaram que o documento o isenta de responsabilidade, porque tem uma cláusula estabelecendo que a indenização paga por Epstein a Giuffre a impediria de processar outras pessoas envolvidas nos casos, em troca de uma indenização de US$ 500 milhões.  O nome do príncipe não é citado. 

Militares irritados com o príncipe Andrew 

A divulgação do documento acontece no dia seguinte a notícias sobre a possibilidade de ele perder o título de duque, e de veteranos  e chefes das forças armadas terem ido a público pedir que o príncipe se afaste de seus nove cargos em regimentos, unidades e corpos militares.  Andrew serviu na Guerra das Malvinas.

Neste domingo, veteranos militares quebraram o silêncio e falaram abertamente sobre o desejo de que o príncipe Andrew abra mão (ou perca, por decisão de Elizabeth II) seus títulos.

Um veterano da Guarda de Granadeiros se tornou o primeiro a declarar o apelo ao duque de York para renunciar ao cargo de coronel do regimento.

Julian Perreira, um ex-sargento que serviu três vezes no Afeganistão em 2007, 2009 e 2012, disse que a manutenção do duque em seu cargo iria “manchar” a história do regimento.

André assumiu a posição cerimonial de seu pai, o duque de Edimburgo, em 2017.

Perreira disse ao jornal The Times:

“Se tiver permissão para manter seu papel como coronel da Guarda de Granadeiros e outros títulos militares, o príncipe Andrew vai colocar uma mancha na orgulhosa história do regimento e desvalorizará o trabalho árduo das gerações passadas e futuras de granadeiros. Ele deve renunciar imediatamente.”

Outro veterano, Richard Kemp, coronel aposentado e ex-comandante das tropas britânicas no Afeganistão, disse ao jornal britânico acreditar que a rainha colocaria seu dever para com os militares antes de sua família se os problemas legais de Andrew se intensificarem, envolvendo diretamente Elizabeth II na pressão.

Ele disse: “Se ela decidir que seria certo Andrew renunciar a seus títulos militares, ela o fará, colocando seu dever para com as forças acima de quaisquer considerações familiares ou opiniões pessoais.”

A monarca já deu sinais de que tentaria resistir a essa ideia, mas antes de a situação do filho que muitos dizem ser seu favorito se complicar como agora.

Em agosto, circularam notícias de que a rainha havia sinalizado que gostaria que ele continuasse como coronel da Guarda dos Granadeiros, apesar da pouca perspectiva de ele retornar às funções públicas.

O Sunday Times noticiou no domingo que cortesãos reais discutiram planos para pedir ao príncipe que pare de usar seu título se perder um processo movido por Giuffre. 

Andrew  também seria convidado a desistir de seus vínculos remanescentes com instituições de caridade e seria enviado para uma forma de “exílio interno”, de acordo com as idéias que estavam sendo debatidas na casa real.

Quem toma a decisão 

A decisão de remover os títulos militares teria que vir dos oficiais da rainha e do Palácio de Buckingham, mas fontes da área de defesa disseram que “não haveria objeções” das forças armadas.

Altos chefes militares rotularam Andrew em particular como ‘tóxico’ – com uma fonte dizendo ao jornal Sunday People: ‘Mesmo que Andrew seja completamente inocentado de qualquer delito, ele agora é considerado tóxico. Espera-se que ele faça a coisa certa e renuncie.”

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De que o filho da rainha é acusado 

Não é a primeira vez que a família real tem que lidar com notícias negativas e usar seu enorme capital de imagem e a admiração pela rainha Elizabeth para amenizar problemas como divórcios e brigas públicas, como as dos príncipes Harry e William.

Mas o potencial devastador de um caso de assédio sexual que pode se estender, com novas revelações, não tem precedentes e pode afetar o futuro da monarquia, dando elementos aos que acham que a rainha não deveria ser substituída. 

Giuffre, hoje com 38 anos, afirma que foi traficada por Epstein, um milionário dono de propriedades em vários países, para fazer sexo com o duque de York quando tinha 17 anos e era uma menor de idade sob as leis dos EUA. Ele era 24 anos mais velho. 

A jovem foi fotografada com Andrew e a ex-socialite Ghislaine Maxwell, companheira do americano, no dia em que ela diz ter ocorrido  a alegada relação sexual. A foto foi feita na casa de Maxwell em Londres. 

A britânica foi condenada no dia 29 de dezembro a 70 anos de prisão nos EUA. Epstein não chegou a ser julgado pelos crimes, pois cometeu suicídio na cadeia em 2019.

Andrew não foi objeto do processo, mas voltou aos holofotes depois que condenação de sua amiga por cinco acusações relacionadas a tráfico sexual, uma das quais envolvia diretamente Giuffre.

Em um audiência marcada para esta terça-feira (4/12), os advogados do príncipe tentarão dar fim ao processo com base nos termos do acordo revelado hoje. 

Mas os advogados da acusadora dizem que o acordo se aplica “no máximo” às pessoas envolvidas em litígios na Flórida, excluindo Andrew.

Eles dizem que o filho da rainha não deve usar o acordo de 2009 como um “passe de liberdade para escapar da prisão”.

Os advogados também tentaram que o processo contra ele fosse suspenso ou arquivado porque Giuffre mora na Austrália e não nos Estados Unidos, mas um juiz federal negou o pedido. 

Ela está buscando indenizações não especificadas, mas há especulação de que a quantia pode chegar a milhões de dólares

Andrew nega repetidamente todas as acusações, mas sua defesa é frágil.

Os advogados informaram à Corte que não atenderão ao pedido do juiz para apresentar provas de algumas de suas alegações para comprovar que não estava com a jovem na noite em que ela diz ter feito sexo com ele. 

Monarquia arrastada para o escândalo do duque de York

Além de pouco provável que o acordo sirva como elemento para encerrar o processo imediatamente, o documento pode complicar ainda mais a situação jurídica do príncipe Andrew e por consequência a reputação da família real britânica, no ano em que Elizabeth II se prepara para comemorar 70 anos no trono. 

A briga jurídica em torno do caso, que pode se estender até uma decisão final, deixará o príncipe Andrew na mira da imprensa e do público por mais tempo. 

Os eventos do jubileu de platina vêm sendo anunciados há meses, em uma espetacular ação de comunicação destinada a fortalecer a imagem da monarquia diante dos súditos e ajudar em sua continuidade. 

A revelação dos termos do acordo pode também dar mais combustível ao movimento pressionando a família real a “cancelar” o príncipe Andrew.

Embora o nome do príncipe não tenha sido citado, não há nada no documento informando que ele não praticou os atos pelos quais é acusado. 

Ao contrário: uma das interpretações é de que se houve uma indenização para Virginia Giuffre não processar outros envolvidos, algo condenável eles fizeram. 

Em 2019, quando o escândalo estourou, Andrew se desligou de várias atividades de representação da monarquia, incluindo uma organização destinada a fomentar negócios para o Reino Unido usando o charme da realeza. 

Mas manteve algumas, incluindo os cargos militares, o que agora se torna motivo de críticas e risco de que o problema de um dos membros da família vire uma crise ainda maior para o clã que sempre tentou preservar sua imagem a todo custo, sendo chamado de “a firma” pelo profissionalismo com que administra a reputação. 

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