eLondres – No primeiro aniversĆ”rio do golpe de estado em Mianmar, que aconteceu em 1Āŗ de fevereiro de 2021, organizaƧƵes internacionais elevaram as pressƵes para que multinacionais deixem de operar no paĆ­s governado por militares que suprimiram a liberdade de imprensa e os direitos humanos. 

Entre as que  anunciaram encerramento das operaƧƵes nas Ćŗltimas semanas estĆ£o a australiana Woodside Energy, a francesa Total e a americana Chevron. 

A RepĆ³rteres Sem Fronteiras Ć© uma das associaƧƵes cobrando diretamente de empresas globais a saĆ­da do paĆ­s para deixar de irrigar financeiramente a junta militar.

Mais de 100 jornalistas presos depois do golpe em Mianmar

Desde que tomaram o poder Ć  forƧa hĆ” um ano, os militares de Mianmar foram responsĆ”veis ā€‹ā€‹pela prisĆ£o de cerca de 100 jornalistas, dos quais 57 continuam atrĆ”s das grades, segundo o barĆ“metro de liberdade de imprensa da RSF. 

TrĆŖs jornalistas foram mortos recentemente, entre dezembro e janeiro.

Eles sĆ£o o fotĆ³grafo Soe Naing, o editor do Federal News Journal Sai Win Aung e o fundador e editor do Khonumthung Media Group, Pu Tuidim, que foi usado como escudo humano antes de ser baleado por soldados.

“Todas as multinacionais que ainda mantĆŖm presenƧa lĆ” devem agora tomar medidas concretas para acabar com a cumplicidade com a junta”, diz a RSF.

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A Woodside Energy da AustrĆ”lia foi a Ćŗltima a sair do paĆ­s.  

Em um comunicado Ć  Bolsa de Valores Australiana, a empresa declarou que ā€œdada a situaĆ§Ć£o atual em Mianmarā€, nĆ£o poderia mais estar envolvida na perfuraĆ§Ć£o e exploraĆ§Ć£o dos campos de gĆ”s offshore na regiĆ£o.

A mudanƧa custarƔ Ơ empresa uma perda de US$ 209 milhƵes em lucros, disse o comunicado.

A decisĆ£o da empresa petrolĆ­fera australiana vem uma semana depois que a Total da FranƧa e a Chevron, com sede nos EUA, anunciaram que estavam cessando as operaƧƵes em Mianmar apĆ³s quase um ano de campanha para envergonhar as empresas a encerrar seu apoio financeiro Ć  junta.

Um comunicado conjunto divulgado pelos grupos de campanha Global Myanmar Spring Revolution e Blood Money Campaign (BMC) disse que a saĆ­da de Woodside, Total e Chevron ā€œenvia uma mensagem forteā€ aos investidores.

RSF escreveu para 15 multinacionais

A aĆ§Ć£o de grupos de pressĆ£o como a RepĆ³rteres Sem Fronteiras comeƧou logo apĆ³s o golpe em Mianmar. 

A RSF escreveu a 15 multinacionais em abril. A maioria respondeu argumentando que ficaria no paĆ­s como forma de ajudar em seu desenvolvimento. 

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A entidade enviou uma segunda sƩrie de cartas no final de junho, desta vez pressionando-as a tomar medidas concretas para parar de apoiar direta ou indiretamente o Tatmadaw.

A fornecedora de eletricidade francesa Voltalia, que mantinha laƧos comerciais estreitos com empresas ligadas Ć s forƧas armadas e que havia sido contactada pela RSF antes mesmo do golpe, anunciou sua retirada de Mianmar logo apĆ³s a tomada do poder pela junta militar. 

A gigante norueguesa de telecomunicaƧƵes Telenor anunciou decisĆ£o de se desfazer de seus ativos em Mianmar em julho. A multinacional sueca Ericsson seguiu o exemplo logo depois.

Interesses comerciais 

A RepĆ³rteres Sem Fronteiras elogiou as companhias que anunciaram a saĆ­da na semana passada. 

“Com alĆ­vio, saudamos as decisƵes tomadas pelos gigantes da energia Total e Chevron, que na prĆ”tica vĆ£o parar de fornecer Ć  junta de Mianmar uma renda substancial”, disse Daniel Bastard, chefe do escritĆ³rio da RSF na Ɓsia-PacĆ­fico.

ā€œInfelizmente, outras multinacionais importantes continuam a priorizar seus interesses comerciais de curto prazo em detrimento do respeito aos direitos bĆ”sicos dos cidadĆ£os de Mianmar, a comeƧar pelo direito Ć  informaĆ§Ć£o e ao acesso a notĆ­cias divulgadas livremente” disse.

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Mas a organizaĆ§Ć£o nĆ£o estĆ” satisfeita, e pressiona outras empresas a seguirem o exemplo.

“Com urgĆŖncia, todos os grandes atores econĆ“micos, como Thales, MAN e DHL, devem ser guiados por um senso de Ć©tica e lei e cessar qualquer atividade que os torne cĆŗmplices do regime militar.ā€

AssociaĆ§Ć£o com o regime militar de Mianmar 

As corporaƧƵes que atĆ© agora nĆ£o tomaram medidas especĆ­ficas incluem a fabricante alemĆ£ de veĆ­culos MAN, cujos caminhƵes sĆ£o usados ā€‹ā€‹para transportar as tropas de Mianmar.

Outro alvo da RSF Ć© a gigante siderĆŗrgica sul-coreana POSCO, que negou qualquer ligaĆ§Ć£o com os militares.

“Continuando suas atividades no paĆ­s e pagando impostos injustificados, eles ajudam a financiar o terror orquestrado pelo Tatmadaw, como sĆ£o chamadas as forƧas de seguranƧa do paĆ­s”, diz a RSF

 Outras corporaƧƵes, como a alemĆ£ DHL e a gigante hoteleira japonesa Okura Nikko, ignoraram completamente as abordagens da RSF, disse a organizaĆ§Ć£o. 

Cumplicidade com responsƔveis pelo golpe

Na avaliaĆ§Ć£o da RepĆ³rteres Sem Fronteiras, as companhias globais que saĆ­ram de Mianmar por causa do golpe “deixaram ser cĆŗmplices dos crimes da junta”: 

“AlĆ©m da questĆ£o Ć©tica, a decisĆ£o mostra uma visĆ£o de longo prazo, que leva em conta os riscos reputacionais inerentes Ć  busca de relaƧƵes comerciais com uma ditadura assassina”. 

 Mianmar estĆ” em 140Āŗ lugar entre 180 paĆ­ses no Ćndice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2021 da RSF .

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