MediaTalks em UOL

Quarto profissional de imprensa é assassinado no México em menos de um mês

Armando Linares, diretor do Monitor Mochoacán, em vídeo sobre o assassinato de Roberto Toledo em 31 de janeiro, no México

Londres – A matança de jornalistas no México está fora de controle, com mais um assassinato em apenas três semanas. A nova vítima é Roberto Toledo, do site Monitor Michoacán, alvejado por tiros na cidade de Zitacuaro nesta segunda-feira (31/1). 

Toledo trabalhava como operador de câmera e editor de vídeo e se preparava para gravar uma entrevista. Armando Linares, diretor do site de notícias conhecido por denunciar corrupção das autoridades, disse em um vídeo transmitido pelo Facebook que a equipe do veículo vinha recebendo ameaças. 

“Expor administrações, funcionários e políticos corruptos levou à morte de um de nossos colegas”, afirmou. 

Crimes contra jornalistas no México alarmam a imprensa 

A onda de assassinatos está alarmando a imprensa mexicana. O país fechou o ano passado como o local mais letal para o jornalismo, com o mesmo número de mortes do que o Afeganistão.

Em 10 anos os dois países registraram a mesma quantidade de crimes fatais, 47. 

Mas o avanço na violência contra jornalistas no México fez com que o país ultrapassasse este ano o país tomado pelo grupo extremista Talibã há seis meses, período em que as perseguições à mídia independente aumentaram. 

Leia também 

Janeiro termina com mais de dois jornalistas assassinados por semana no mundo – e sete na América Latina

Manifestação em Tijuana por jornalistas mexicanos mortos (Foto: Zaydee Sanchez/Twitter)

 

A sequência recente de mortes de profissionais de imprensa mexicanos começou no dia 10 de janeiro, com o assassinato do repórter José Luis Gamboa no estado de Veracruz, na costa do Golfo. 

Em 17 de janeiro, o fotógrafo policial Margarito Martínez foi morto a tiros do lado de fora de sua casa em Tijuana.  

Em 23 de janeiro, a repórter Lourdes Maldonado López foi encontrada morta com marcas de tiros no rosto dentro de seu carro na mesma cidade. 

O caso provocou uma onda de protestos que chegou até aos Estados Unidos. Manifestações contra assassinatos de jornalistas no México foram feitas em várias cidades e diante da sede do governo. 

Leia mais 

México protesta nas ruas e nas redes contra assassinato de três jornalistas em duas semanas

Toledo estava inscrito em programa de proteção a jornalistas 

A Academia Nacional de Jornalistas de Rádio e Televisão disse numa declaração que Toledo e outros membros do Monitor Michoacan tinham denunciado agressões e ameaças de morte relacionadas com o seu trabalho.

Toledo estava inscrito no sistema de proteção do Governo Federal para jornalistas e defensores dos Direitos Humanos conhecido como “el mecanismo” ou mecanismo, disse a academia.

A jornalista Lourdes Maldonado também estava sob proteção, mas isso não impediu o seu assassinato, assim como no caso de Toledo. 

Segundo o Monitor Michocán, ele estava se preparava para gravar uma fala do vice-diretor do Monitor Michoacán, o advogado Joel Vera, no escritório de Vera, quando os homens armados chegaram e atacaram o cinegrafista. 

O diretor do jornal gravou um vídeo emocionado sobre o caso, compartilhado pelo representante do Comitê de Proteção a Jornalistas. 

https://twitter.com/jahootsen/status/1488246003018997761?s=20&t=TcovHxr8E63V4axMiSdXdA

Ele diz que o colega foi vítima de uma ataque covarde. Segue lembrando que os jornalistas não andam armados, e que sua arma é a caneta. 

Jesús Ramírez, porta-voz do presidente Andrés Manuel López Obrador, disse via Twitter que o governo condenou o assassinato de Toledo.

“Trabalharemos em conjunto com os governos estadual e municipal para esclarecer o caso”, escreveu Ramírez. “Não permitiremos a impunidade. Defendemos a liberdade de expressão e o direito à informação”.

No entanto, López Obrador vem sendo fortemente criticado pela impunidade de crimes contra jornalistas no México, alguns envolvendo figuras políticas e outros atribuídos ao crime organizado. 

O caso de Lourdes Maldonado foi associado a um processo trabalhista que ela havia vencido duas semanas antes contra uma emissora de TV de propriedade de um ex-governador de estado. 

 Leia também 

ONGs de liberdade de imprensa apontam China, México e Afeganistão como os piores para o jornalismo em 2021

 

Sair da versão mobile