O quase bicentenário The New York Times (NYT) fez grandes movimentações nas últimas semanas para atingir uma meta ambiciosa com três anos de antecedência. No início de janeiro, o jornal norte-americano fechou um acordo para a aquisição do site de notícias esportivas The Athletic, em negociação avaliada em cerca de US$ 550 milhões.
E o investimento já deu resultado. Na quarta-feira (2), o New York Times anunciou que atingiu 10 milhões de assinantes. A meta, estabelecida há três anos quando havia 4,3 milhões de assinantes, foi projetada para ser alcançada somente em 2025.
Porém, antes dessa marca ser batida, a publicação fez outro movimento que surpreendeu o mercado, comprando no dia 31 de janeiro o Wordle, plataforma de jogo no estilo adivinhação de palavras.
Bolso aberto de olho no futuro
A diversidade na expansão dos negócios faz parte da estratégia do jornal em se reinventar para além do jornalismo.
Criado por Josh Wardle, que emprestou o nome para fazer um trocadilho com o do jogo, o Wordle foi lançado em outubro de 2021 e é considerado um fenômeno. Tem até uma versão em português.
A sensação logo viralizou nas redes sociais, já que o desempenho dos jogadores pode ser compartilhado com os amigos num formato de bloquinhos coloridos.
Após a compra, o jogo deve permanecer “inicialmente gratuito para jogadores novos e já existentes”, garantiu o jornal.
Na casa dos milhões de dólares, o valor pago pelo NYT pelo Wardle não foi revelado. Porém, o verdadeiro interesse do jornal está na base de milhões de usuários ativos todos os dias na plataforma.
“O NYT continua focado em se tornar a assinatura essencial para todas as pessoas de língua inglesa que buscam entender e se envolver com o mundo”, afirma comunicado da empresa The New York Times Company, dona do jornal, divulgado no dia da aquisição. “O projeto New York Times Games é peça fundamental dessa estratégia.”
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No Twitter, Josh Wardle celebrou o acordo dizendo que os valores da empresa estão alinhados com os dele e, por isso, ela será a “guardiã do jogo daqui para frente”.
“Tem sido incrível assistir a um jogo trazer tanta alegria para tantos, e me sinto grato pelas histórias pessoais que alguns de vocês têm compartilhado comigo”, diz a nota publicada por Wardle.
“Por outro lado, estaria mentindo se dissesse que isso não foi um pouco pesado. Afinal, sou apenas uma pessoa e é importante para mim que, conforme o Wordle cresça, continue a fornecer uma grande experiência para todos.”
An update on Wordle pic.twitter.com/TmHd0AIRLX
— Josh Wardle (@powerlanguish) January 31, 2022
Números por trás da fidelização
Após atingir 10 milhões de assinaturas pagas, o jornal norte-americano de 170 anos já tem um novo objetivo: chegar a 15 milhões de assinantes até o fim de 2027.
Para isso, o NYT tem investido em persuadir a audiência a pagar por suas notícias, jogos e receitas (outra vertente na qual o veículo também se aventurou).
Em 2011, o jornal aderiu ao paypall já de olho nessa “persuasão” de leitores e usuários online para alavancar as assinaturas.
Apesar disso, a empresa afirma que o modelo tradicional de negócios do jornal ainda é centrado na publicidade. No ano passado, a receita com anúncios digitais subiu 23,3% — um recorde.
O quarto trimestre de 2021 também viu a receita total do grupo aumentar em 16,7%, atingindo US$ 594,2 milhões, o que superou as expectativas de Wall Street.
O lucro líquido saltou de US$ 10 milhões para US$ 69,9 milhões somente entre outubro e dezembro do ano passado, “mais do que compensando” os custos mais altos, segundo o New York Times Company.
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Com a aquisição do The Athletic, a empresa quer continuar a boa maré e projeta um aumento entre 20% e 24% na arrecadação com anúncios digitais para o primeiro trimestre de 2022.
Atualmente, o NYT vende assinaturas de seu jornal impresso e de seu principal aplicativo de notícias digitais.
Por preços mais baixos, também oferece assinaturas de um aplicativo de jogos (Games), de receitas (Cooking) e, desde o ano passado, para o Wirecutter, um site de recomendação e reviews de produtos que a companhia adquiriu em 2016.
A chegada do The Athletic para o guarda-chuva do grupo trouxe também 1,2 milhão de assinantes, o que impulsionou o alcance da marca total de 10 milhões. Em dezembro, a empresa informou que Games e Cooking tinham mais de um milhão de assinantes cada.
135 milhões de assinantes potenciais a serem conquistados
A New York Times Company, avaliada em US$ 7 bilhões e que tem 4.700 funcionários, está tentando transformar o jornal nova-iorquino centenário em uma plataforma digital premium.
As assinaturas digitais ganharam mais 375 mil novos usuários no trimestre final de 2021, mas menos da metade dessas adições líquidas foram geradas por produtos de notícias.
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Meredith Kopit Levien, presidente e diretora-executiva da empresa, disse em comunicado que os executivos do conglomerado acreditam que há “pelo menos 135 milhões” de assinantes em potencial no mundo inteiro – adultos “pagando ou dispostos a pagar por uma ou mais assinaturas de notícias em inglês, cobertura esportiva, quebra-cabeças, receitas ou análises de produtos.”
De olho nessa fatia de audiência global a ser abocanhada, o NYT comprou o The Athletic.
O site conta com 400 jornalistas que cobrem mais de 200 equipes esportivas nos Estados Unidos e na Europa.
Porém, segundo alertou a agência Reuters, há algumas preocupações em torno dos custos relacionados à nova aquisição do NYT.
“O The Athletic é um favorito dos fãs de esportes obstinados, mas a cobertura de tantos times o torna caro para administrar”, explicou Erik Gordon, professor da Ross School of Business, da Universidade de Michigan.
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