Londres – O combate às fake news no período que antecede as eleições presidenciais na França uniu mais de 20 empresas jornalísticas em um programa chamado “Objectif Désinfox”, iniciado nesta terça-feira (8).

A coordenação é da agência de notícias France-Presse (AFP). A iniciativa repete a experiência de colaboração “Cross Check”, realizada no pleito de 2017. 

Um dos candidatos à presidência francesa é o jornalista Éric Zemmour, de extrema direita, que em janeiro foi condenado por discurso de ódio contra migrantes em um programa de TV, e faz uma campanha marcada por polêmicas. 

Fake news, problema crônico em eleições no mundo 

A França é mais um país em que a imprensa local e uma empresa de mídia digital se aliam para combater fake news em período eleitoral. 

Na Austrália, o Facebook e a agência Australian Associated Press (AAP) firmaram em outubro de 2021 um acordo para realizar uma campanha de educação midiática, preparando o terreno para as eleições de maio deste ano. 

Mas o esforço na França é mais abrangente e com ações práticas. A“Objectif Désinfox” foi anunciada em dezembro e começou a operar oficialmente ontem, com apoio do Google.

O INED (Instituto Nacional Francês de Demografia) também faz parte da coalizão, como parceiro acadêmico.

As organizações jornalísticas participantes são 20 Minutes, AFP, Arte, BFMTV, Euronews, Fact & Furious, FactoScope, France24, Konbini, LCI, M6, Mediacités, Phosphore, Rue89 Bordeaux, Rue89 Strasbourg, RFI , Radio France Maghreb 2, RMC, RTL, TF1 e TV5 Monde.

O esforço conjunto vai funcionar até junho. A AFP vai compartilhar com os demais veículos de imprensa sua experiência em investigações digitais e apoiar os esforços de verificação de fatos dos veículos que aderiram ao projeto. 

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Todos terão acesso aos módulos de treinamento em investigação digital criados pela AFP e a ferramentas digitais para verificação de fake news relacionadas às eleições. 

Entre os recursos estão Label Fact Check, Google Image Search, Trends, PinPoint, Invid-WeVerify, ferramenta CNRS Politoscópio, o gravador de tweets da Visibrain.

Página em site permite indicação de fake news para checagem 

Foi criada uma página dedicada a fatos verificados dos parceiros de mídia no site Factcheck da AFP, bem como várias contas de mídia social para dar o máximo acesso às informações verificadas ao público.

O público poderá sinalizar informações duvidosas a serem checadas e desinformação que encontrarem na internet, incluindo declarações de candidatos e postagens em redes sociais. 

há no site uma lista com mais de 45 fake news explicadas. 

Thierry Thuillier, vice-presidente executivo de jornalismo do TF1 Group , disse que a gravidade da crise da Covid-19  e a intensidade da campanha presidencial, especialmente nas redes sociais, mostram “a necessidade de todos os meios de comunicação se posicionarem para combater a desinformação, pois ela ameaça os fundamentos da democracia.”

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Jornalista candidato e fake news nas eleições 

A desinformação e agressividade na pré-campanha presidencial na França tem como um dos protagonistas um jornalista que trabalhou por muitos anos em grandes organizações de mídia antes de entrar para a política. 

Éric Zammour tenta a indicação para concorrer ao cargo, mas tem enfrentando problemas legais por suas declarações.

Em janeiro ele recebeu uma multa de  € 10 mil (R$ 62,8 mil) por discurso de ódio contra crianças migrantes durante um debate da emissora CNews, chamada de “Fox News francesa, em referência à emissora americana alinhada à extrema direita. 

O jornalista disse que menores que chegam ao país desacompanhados são ladrões, assassinos e estupradores. O editor do canal também foi condenado. 

Zammour é um personagem conhecido no país, com passagens pelo Le Quotidien e Le Figaro. Ele apresentou durante dois anos um programa na emissora CNews.

O atual presidente, Emmanuel Macron, vai tentar a reeleição e aparece nas pesquisas como favorito. Sondagem publicada pelo nesta quarta-feira pela BFMTV e L’Express mostra  o atual governante com 26% das intenções de voto. 

A ultradireitista Marine Le Pen e a conservadora Valérie Pécresse perderam pontos, caindo para  15,5% e 15%, respectivamente.

Já Eric Zemmour avançou meio ponto e agora tem 13% das intenções de voto.  Mas se for para o segundo turno dificilmente vencerá Macron, segundo as pesquisas atuais.

Ele teria 36% dos votos, contra 64% do atual governante.

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