Londres – O jornalista holandês Sjoerd den Daas, repórter da emissora pública Nederlandse Omroep Stichting (NOS), virou protagonista de um ataque nos Jogos de Inverno de Pequim que se tornou mais um exemplo da relação conflituosa da China com a imprensa.
Sjoerd den Daas fazia uma reportagem diante porta do Estádio Nacional, conversando com a apresentadora no estúdio, quando dois oficiais de segurança chineses à paisana interrompem sua transmissão ao vivo.
Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, é possível ver um dos seguranças empurrar Daas para fora do enquadramento. O repórter ainda tenta continuar o seu trabalho, mas outro segurança tenta bloquear a câmera com a mão.
Interrompido sem aviso
Não ficou claro o que teria motivado a interrupção por parte dos seguranças dos Jogos de Inverno.
A emissora na Holanda acabou perdendo a conexão com o repórter. A apresentadora fica estupefata ao ver a cena.
Onze correspondent @sjoerddendaas werd om 12.00u live in het NOS Journaal door beveiligers voor de camera weggetrokken. Helaas is dit steeds vaker de dagelijkse realiteit voor journalisten in China. Hij is in orde en kon zijn verhaal gelukkig een paar minuten later afmaken pic.twitter.com/GLTZRlZV96
— NOS (@NOS) February 4, 2022
No Twitter, a emissora disse:
“Nosso correspondente foi afastado da câmara pelos seguranças às 12h00 ao vivo no NOS Journaal.
Infelizmente, isso está se tornando cada vez mais uma realidade diária para jornalistas na China. Ele está bem e foi capaz de terminar sua história alguns minutos depois.”
O jornalista holandês relatou em suas redes sociais que estava transmitido de uma área que havia sido indicada pela própria polícia.
E quando questionou o porquê da interrupção, os seguranças responderam que não podiam dizer o que ele tinha feito de errado.
“Incidente infeliz”
De acordo com a agência de notícias Reuters, o Comitê Olímpico Internacional (COI) classificou o acontecimento como um “incidente infeliz” durante uma coletiva, afirmando que seria um caso isolado.
O porta-voz do COI, Mark Adams, disse que funcionários do evento ajudaram o jornalista holandês a continuar sua reportagem e que o COI conversou com a emissora NOS.
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No entanto, a agência de notícias declarou que, segundo NOS, não houve contato por parte do COI.
Assédio a jornalista holandês não foi caso isolado
Em uma série de tuítes, o jornalista holandês explicou que essa não foi a primeira vez que profissionais da imprensa eram assediados por seguranças chineses.
“Nas últimas semanas, nós, como vários colegas estrangeiros, fomos impedidos ou parados várias vezes pela polícia ao relatar assuntos relacionados aos Jogos.
Portanto, é difícil ver o incidente da noite passada como um incidente isolado, como afirma o COI, embora essa interferência raramente aconteça ao vivo na transmissão.”
Liberdade de imprensa em risco na China
Pouco antes do início dos Jogos Olímpicos de Inverno, diversas entidades de defesa da liberdade de imprensa demonstraram preocupação com a situação da mídia no país.
O Clube de Correspondentes Estrangeiros no país (FCCC, na sigla em inglês) publicou um relatório criticando duramente as condições de trabalho para os profissionais de veículos globais.
Segundo documento, o Estado chinês tem assediado severamente jornalistas estrangeiros e suas famílias. Eles chegam a ser seguidos e abordados mesmo em viagens pessoais.
A cobertura dos jogos foi dificultada, com obstáculos para conseguir credenciamento e ausência de convites para participar de coletivas oficiais.
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“O FCCC está preocupado com a velocidade vertiginosa com que a liberdade de mídia está diminuindo na China”, disse o relatório, que afirma que os obstáculos são “sem precedentes”.