Londres – O jornalista Andrew North, experiente correspondente de guerra britânico conhecido internacionalmente pelo seu trabalho cobrindo conflitos para a rede BBC, foi libertado na sexta-feira (11) depois de quatro dias mantido refém pelo grupo Talibã no Afeganistão.

North vive em Nova York e está no Afeganistão a serviço da ONU (Organizações das Nações Unidas).

Outro jornalista, que não foi identificado e havia sido capturado junto com ele, também foi libertado, como confirmaram um porta-voz do Talibã e a ONU.

Talibã sequestrou vários jornalistas

O episódio sinaliza um avanço da repressão do grupo extremista na direção da mídia internacional.

Nos quase seis meses desde a tomada do poder no país, o jornalismo local vem sendo dizimado, mas repórteres estrangeiros continuam fazendo a cobertura da situação dramática vivida pela população depois do fim da ajuda estrangeira. 

Andrew North é um veterano em coberturas internacionais. Ele foi da BBC até 2015, tendo atuado como correspondente em Washington, Sul da Ásia e Iraque.

Um profissional de imprensa irlandês e três assistentes afegãos foram levados com com ele. 

A UNHCR, agência da ONU para refugiados, confirmou os sequestros na manhã de sexta-feira (11) mas disse que não iria comentar por causa da ‘natureza da situação’. 

Horas mais tarde, confirmou a libertação: 

“Estamos aliviados em confirmar a libertação em Cabul dos dois jornalistas a serviço do  ACNUR e dos cidadãos afegãos que trabalham com eles.

“Somos gratos a todos que expressaram preocupação e ofereceram ajuda. Continuamos comprometidos com o povo do Afeganistão”.

Jornalista critica Talibã em artigo e nas redes

O jornalista Andrew North tem escrito artigos críticos ao regime Talibã e usa com frequência o Twitter para denunciar a situação do país, compartilhando reportagens locais e internacionais. 

Em dezembro, ele publicou um texto na revista New Lines criticando o regime, em que disse:

“Um clima de ansiedade e incerteza prevalece, em meio a uma crise humanitária exacerbada por um embargo liderado pelos EUA que pode deixar milhões de pessoas passando fome neste inverno”.

Não há confiança. Mesmo as mulheres que ainda têm seus empregos têm pouca fé de que isso durará.

Enquanto isso, relatos contínuos de assassinatos e espancamentos no estilo de vingança abrem um buraco na suposta anistia que os líderes do Talibã ofereceram aos afegãos que trabalhavam para o antigo governo.

“A resposta deles foi de que ‘elementos renegados’ são responsáveis ​​e que isso não é política do governo.”

Em janeiro, outra reportagem na mesma revista mostrou a história de uma família afegã que vive às custas da violência há gerações. 

Repressão à mídia em seis meses de governo Talibã 

Apesar de inicialmente ter assegurado que a imprensa poderia continuar trabalhando no país quando tomou o poder, em agosto de 2021, o Talibã logo iniciou perseguições e bloqueios ao trabalho de jornalistas. 

Um relatório da organização Repórteres Sem Fronteiras constatou que o jornalismo foi severamente castigado no país desde então, com veículos independentes fechados e profissionais sem emprego, sobretudo mulheres. 

O grupo extremista publicou dois conjuntos de normas para a imprensa, que incluem a orientação de não publicar matérias considerada contrárias aos valores religiosos e ao regime. 

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Britânicos no alvo do Talibã 

A investida do Talibã contra estrangeiros não se limita a jornalistas, e está mirando em vários britânicos. 

O Wall Street Journal citou um membro de uma unidade de inteligência do regime em Cabul dizendo que “vários estrangeiros” haviam sido presos.

Um deles é Peter Jouvenal, que tem dupla cidadania (britânica e alemã), mas vive no Reino Unido. Ele está nas mãos do grupo extremista que comanda o Afeganistão desde o início de dezembro, depois de viajar ao país para discutir investimentos na indústria de mineração e por razões familiares.

David Loyn, um ex-correspondente da BBC, está ajudando os amigos de Jouvenal a garantirem sua libertação, segundo o jornal britânico The Times. Loyn disse que Jouvenal sofre de pressão alta e precisa de medicação.

Fontes diplomáticas disseram que não estava claro por que os britânicos foram presos, mas que poderiam estar sendo usados em em disputas internas no Talibã, com um lado do grupo querendo seguir o exemplo do Irã no uso de reféns estrangeiros como instrumento para evitar sanções. 

O jornal The Times citou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, que disse: “Estamos fornecendo apoio às famílias de vários homens britânicos que foram detidos no Afeganistão”.

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