Londres – Uma das dez palavras do ano do dicionário Collins em 2021 foi trabalho híbrido, confirmando que o modelo de combinar dias no escritório e dias em casa veio para ficar.
A ideia agora está se estendendo a encontros corporativos e grandes congressos, que começam a ressurgir depois do período de trevas que alguns países viveram em 2021.
Para quem gosta da ideia, aqui vai mais um argumento: assim como o trabalho híbrido, eventos híbridos podem ser mais sustentáveis − desde que algumas regras sejam seguidas.
Eventos híbridos e sustentabilidade
Essa foi a constatação de um estudo publicado na revista Nature Communications, provando em números que as conferências virtuais ou híbridas têm o potencial de mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
O tamanho do negócio é gigante. Os cinco autores citam um levantamento da Oxford Economics constatando que, em 2017, os eventos empresariais mobilizaram 1,5 bilhão de pessoas de 180 países, demandaram US$ 2,5 trilhões em investimentos e contribuíram com 26 milhões de empregos.
Mesmo com o abalo causado pela pandemia, a previsão é otimista. A Allied Market Research tinha avaliado há dois anos a indústria de eventos em US$ 1.135,5 bilhões. Em janeiro passado, projetou aumento de 11% até 2028.
Um grande negócio, mas também um grande problema ambiental, com megaestruturas e uma multidão de participantes cruzando os céus do mundo e aproveitando aquelas comidinhas apetitosas do buffet, nem sempre sustentáveis.
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O home office e o trabalho híbrido estão se tornando a opção de muitas empresas, mas seus efeitos sobre o meio ambiente ainda não foram devidamente quantificados.
O mesmo acontece com o impacto de congressos e reuniões empresariais totalmente online ou dividindo-se entre participantes via teleconferência e presenciais.
O que os autores do trabalho publicado na Nature fizeram foi medir, pela primeira vez, os efeitos de alimentação, acomodação, preparação, execução, tecnologia da informação e comunicação e transporte sobre o meio ambiente.
Depois de muitas contas, gráficos e tabelas, a conclusão foi de que a transição da conferência presencial para a virtual tem o potencial de diminuir a pegada de carbono em 94% e o uso de energia em 90%.
Se o evento tiver 50% de participação presencial, a pegada de carbono e o uso de energia podem ser reduzidos em dois terços.
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Mas não basta trocar o presencial pelo virtual ou híbrido. O estudo faz recomendações sobre como atingir esses resultados.
Uma delas é a descentralização. Os pesquisadores sugerem que encontros de trabalho híbridos com mais de 50% de participação presencial devem ter “hubs” em diferentes localidades, a fim de reduzir deslocamentos.
Além disso, mudar o cardápio do coffee break de encontros presenciais para dietas baseadas em vegetais e melhorar a eficiência energética de tecnologia da informação e comunicação nos virtuais podem reduzir ainda mais o impacto ambiental.
Networking x Inclusão
Como tudo na vida, trocar o formato presencial pelos eventos híbridos ou totalmente virtuais traz vantagens e desvantagens.
A perda óbvia é o chamado networking. Algumas conferências até criaram atividades de socialização online, mas elas não substituem a conversa do cafezinho.
Por outro lado, atividades de trabalho ou encontros empresariais virtuais e híbridos são mais inclusivos e podem alcançar mais público.
Uma pesquisa feita pela própria revista Nature Communications entre seus assinantes em março de 2021 revelou que 74% dos acadêmicos preferiam continuar com reuniões científicas somente virtuais ou ter uma opção virtual, apesar da “fadiga do Zoom”.
O motivo relatado foi a descoberta de o isolamento da pandemia permitiu participar de mais eventos e apresentar mais trabalhos do que naquela era distante em que viagens eram permitidas, mas limitadas pelo tempo e pelos custos altos.
O mesmo raciocínio pode valer para reuniões de trabalho, conferências de negócios e congressos.
Juntando-se a isso o benefício em potencial para a mudança climática, o dicionário de palavras mais populares de 2022 pode ganhar um novo vocábulo: depois do trabalho híbrido, a conferência híbrida.
O estudo pode ser visto na íntegra aqui.
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