Londres – A organização Repórteres Sem Fronteiras e a Federação Internacional de Jornalistas confirmaram nesta quarta-feira a morte do primeiro jornalista vítima da guerra da Ucrânia.
Trata-se do cinegrafista Evgeny Sakun, da Kiev Live TV. Ele foi atingido durante o bombardeio da torre de televisão de Kiev, nesta terça-feira (1/3).
As organizações também confirmaram que dois jornalistas dinamarqueses atingidos por tiros no último sábado (26/2) já não correm perigo de morte. Os dois foram transferidos da Ucrânia para a Dinamarca.
“Visar jornalistas é crime de guerra”
Na sua conta no Twitter, a Repórteres Sem Fronteiras publicou o crachá do jornalista morto na guerra da Ucrânia.
Além de lamentar a perda do cinegrafista, o tuíte acusa os responsáveis por sua morte de terem praticado um crime de guerra.
🚨ALERT: RSF has received confirmation that Evgeny Sakun, a cameraman with Kiev Live TV, was killed in yesterday’s bombing of Kyiv’s television and radio tower. We mourn his loss and are investigating the circumstances. The targeting of journalists is a war crime. pic.twitter.com/Dv4vEYQIE3
— RSF (@RSF_inter) March 2, 2022
Apesar de essa ter sido a primeira morte de um jornalista durante a atual guerra da Ucrânia, a Repórteres Sem Fronteiras ressalta que outros dez jornalistas foram mortos na região de Donbass no auge dos combates separatistas, no período de 2014 a 2016.
Jornalistas feridos na guerra da Ucrânia iam cobrir jardim de infância bombardeado
Os dois jornalistas dinamarqueses feridos a tiros são o repórter Stefan Weichert e o fotógrafo Emil Filtenborg Mikkelsen, do jornal Ekstra-Bladet. Eles estavam baseados na Ucrânia havia dois anos.
No sábado, os dois estavam a caminho de um jardim de infância bombardeado na cidade de Ohtyrka, no nordeste do país, quando tiros foram disparados contra seu carro. Embora trajassem coletes à prova de balas, eles ficaram gravemente feridos.
RSF is relieved that journalists @StefanWeichert and @efmikkelsen have now safely been evacuated after they were shot reporting on the conflict in Ukraine. We stand in solidarity with them and wish them well.Journalists must not become targets in this war! https://t.co/4M19vHw8Bc
— RSF (@RSF_inter) March 2, 2022
Apesar dos ferimentos, eles conseguiram fugir e aguardaram ao lado do carro a chegada de socorristas, que os levaram para um hospital na cidade de Poltava. Depois de terem sua condição estabilizada, iniciou-se a transferência para a Dinamarca.
Perigo aumenta para jornalistas na Ucrânia
A chefe do escritório da Repórteres sem Fronteiras na Europa Oriental e Ásia Central, Jeanne Cavelier, cobrou respeito à segurança dos jornalistas durante a guerra da Ucrânia:
“Esses dois jornalistas dinamarqueses foram os primeiros gravemente feridos na cobertura da invasão da Ucrânia. Pedimos que todas as partes se comprometam a respeitar a segurança dos jornalistas, que têm um papel essencial para relatar a situação”.
A organização enfatiza que à medida que a escala dos combates na Ucrânia cresce, torna-se cada vez mais perigoso para os jornalistas cobrir a guerra.
Segundo fontes da RSF, por causa dos relatos que circulam sobre a presença de sabotadores russos nas ruas, a desconfiança em relação a estranhos, incluindo repórteres, está tornando o trabalho jornalístico mais vulnerável.
Imprensa russa também é vítima na guerra com Ucrânia
A invasão da Ucrânia fez também recrudescer a perseguição à mídia independente russa. Uma nova lei pode punir com até 15 anos de prisão os jornalistas que transmitirem informações consideradas imprecisas sobre a guerra da Ucrânia.
A agência estatal de notícias Ria Novosti informou que a lei permitirá caracterizar como crime qualquer “notícia falsa” ligada às ações do Exército russo.
Nesta quarta-feira (2/3), a Repórteres Sem Fronteiras criticou os esforços do governo russo de tentar censurar as reportagens sobre o conflito e a decisão do órgão regulador do país de bloquear as atividades da TV Rain e da rádio Ekho Moskvy, dois expoentes da mídia independente.
A decisão acusa os veículos de “disseminarem extremismo, violência e dados falsos” sobre a guerra na Ucrânia.
https://youtu.be/4KWVIWkuEW8
Apesar da suspensão de sua frequência de rádio, a Ekho Moskvy ainda tentou continuar a transmitir ao vivo pelo YouTube, onde anunciava na apresentação de seu canal:
“O Roskomnadzor (o órgão regulador russo da comunicação) decidiu tirar do ar nossa estação de rádio. Não concordamos com esta decisão e continuaremos a trabalhar para você.”
No entanto, hoje desistiu e encerrou as operações, o que foi lamentado pela RSF como uma grande perda para o pluralismo no momento em que acesso a informação independente é vital.
RSF is dismayed by reports of the self-closure of Russian radio station @EchoMskRu, after being banned from the air since 1 March for its coverage of the invasion of #Ukraine. This marks a huge loss for pluralism when the need for access to independent information is most vital. pic.twitter.com/9FslRBBAmO
— RSF (@RSF_inter) March 3, 2022
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